Ao comprar uma roupa na loja, você se pergunta “de onde ela veio?” ou “quem fez?”. De acordo com a Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), em 2020, existiam 1,3 mi profissionais da costura no Brasil, dos quais 87% são mulheres. No Nordeste, os municípios pernambucanos de Caruaru e Santa Cruz do Capibaribe sediam os principais polos de confecção, sendo responsáveis por 16% da produção nacional e empregando cerca de 11 mil pessoas, segundo dados do Governo de Pernambuco.
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Apesar da relevância da região, as costureiras não sentem essa importância refletida nas condições de trabalho. “Nossa categoria já passava por muitos perrengues, mas nem as costureiras tinham noção do que passavam. Mas aí veio a pandemia e ficou muito crítica a situação e a gente entendeu que não tem como continuar dessa maneira. Temos que costurar e arranjar um tempinho para batalhar por uma melhoria no sentido coletivo da coisa, e não no individual", é o que aponta Gilmara Sousa Costa, que é costureira informal no polo de Santa Cruz do Capibaribe há cerca de 25 anos.
Para buscar essa saída, foi criado o Coletivo de Mulheres do Polo no início da pandemia de covid-19. O grupo nasceu a partir do projeto Vozes da Moda, organizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).
“Este coletivo de mulheres têm visado exatamente isso: políticas públicas direcionadas diretamente para nós costureiras, porque quase não existem. E o pouco que existe não é repassado, 90% das costureiras do nosso município não sabem de serviços que são oferecidos, porque já existem poucos e o que tem não é divulgado. Então, esse projeto visa fazer o empoderamento econômico de maneira digna”, avalia Gilmara.
Mas esta saída não foi pensada somente em Santa Cruz do Capibaribe. No mesmo período, foi criada a Associação de Mulheres Empreendedoras de Caruaru (AMEC) a partir da iniciativa de costureiras e depois também modistas, artesãs, cozinheiras, e várias outras categorias.
A costureira e artesã Francismeire Silva Melo é presidenta da associação e percebe o preconceito que ainda enfrentam. “A gente já sofre preconceito por ser mulher, e provedoras do lar o preconceito é maior, porque realmente é uma briga constante. Eu sinto isso até em falar das nossas associadas ‘ah, é produto só de mulher’. Gente, a mulher pode sim. A gente está com um posicionamento da associação de que a mulher consegue ultrapassar barreiras no coletivo”, analisa.
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Para as costureiras, trabalhar em coletivos é a melhor alternativa, tanto para as trabalhadoras quanto para quem contrata os serviços. “Aos pouquinhos a gente vai conscientizando esse contratador de que o trabalho com um grupo é muito melhor do que o individual. Então, ele vai ter um grupo de costureiras por um valor digno para elas, mas também com uma qualidade e profissionalismo, já que elas vão trabalhar satisfeitas e não como estão hoje. Trabalha porque tem que se sustentar, trabalha pela necessidade de trazer o ganha pão, então trabalha por qualquer preço”, acredita Francismeire.
Além das associações, o projeto conta com uma parceria com o Repórter Brasil, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e o Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (InPACTO).
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga