A comunidade do distrito de Macacos, em Nova Lima (MG), continua parcialmente ilhada e sem nenhuma rota de fuga segura, em uma região que tem grande risco de rompimento de barragens.
Principal acesso do vilarejo à BR 040, a AMG 160 está alagada porque um muro de contenção construído pela Vale está represando a água da chuva.
Outra opção para chegar à rodovia federal passa por dentro de um condomínio local, mas tem trechos de terra, risco de atolamento e acidentes. A inundação também atinge uma via que liga o centro de Macacos ao bairro Capela Velha e facilita a passagem para a MG 030.
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O distrito é cercado por sete barragens, uma delas está em alerta nível 3, o que indica risco alto de rompimento. A mina Mar Azul ou B3/B4 vai encerrar as atividades e passa por um processo arriscado de descaracterização, que envolve retirada de milhões de metros cúbicos de rejeitos.
Se houver rompimento, a população tem apenas uma rota de fuga, a estrada Campos Costa, que também foi atingida pela chuva e tem trechos intransitáveis.
Embora a pavimentação e a adequada sinalização do trecho sejam demandas antigas da comunidade, quase nada foi feito.
A sirene
As famílias que vivem em Macacos convivem com o medo desde 2019, quando o foi elevado o risco da região e a Vale tocou a sirene de emergência da B3/B4. Na ocasião, centenas de pessoas tiveram que ser realocadas, porque viviam em áreas que seriam fortemente atingidas por resíduos em caso de rompimento.
Pouco tempo antes, o país assistiu ao desastre na barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho, que matou centenas de pessoas e causou danos ambientais e sociais sem precedentes na história do Brasil.
O professor André Luiz Freitas Dias coordena o Programa Polos de Cidadania da UFMG, que acompanha comunidades em cenários de conflitos urbanos e socioambientais. O território de Macacos é monitorado desde que o alerta foi acionado.
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André afirma que violações de direitos foram agravadas a partir desse episódio, que representou mudança total nos modos de vida da população local. “A própria comunidade chama (esse processo) de 'lama invisível', que simplesmente varreu o território com uma série de violações de direitos.”
Segundo o professor, a população relata falta de diálogo, ausência de informações e silenciamento. Parte dos moradores e moradoras contam que não participaram de nenhuma fase do acordo celebrado entre a Vale, o Ministério Público e a Defensoria Pública de Minas Gerais sobre a região.
"Agiram no território à revelia das comunidades, das famílias que ali vivem. Desconsideraram a autonomia dessas pessoas no que diz respeito à condução de sua própria vida”, ressalta André.
“É gravíssimo. Durante muito tempo, a empresa sequer forneceu para as pessoas os mapas indicando devidamente onde o rejeito poderia passar caso houvesse um rompimento da barragem.”
O muro
A parede de contenção construída pela Vale em Macacos foi erguida justamente para conter possíveis rejeitos da B3/B4. A estrutura está sob curso de um pequeno ribeirão e é mais alta que um prédio de dez andares.
Com a chuva dos últimos dias, o nível da água aumentou e não há vazão. Nesta segunda-feira (10), a muralha estava praticamente coberta pela enxurrada. Imagens captadas pela população mostram a água no limite do transbordamento e uma grande quantidade de lama minando da terra na base da muralha.
Coordenador do projeto Manuelzão da UFMG, o professor Marcus Vinícius Polignano, afirma que falta planejamento por parte das mineradoras. O projeto atua desde a década de 1990 por melhorias nas condições ambientais para promover qualidade de vida na região. Polignano conta que o descaso é histórico.
“A gente assiste a uma repetição do mesmo. Estamos absolutamente à mercê dessas precariedades de infraestrutura que a mineração executa. Construíram um muro, com a ideia de fazer a detenção de lama caso houvesse o rompimento, só que esqueceram que por ali corre água e que com a chuva, água e lama estão se acumulando, virando um grande reservatório."
O professor aponta ainda que não há política eficaz de acompanhamento e controle por parte do estado. "Como essas estruturas são absolutamente frágeis e não respondem pela segurança? Enquanto isso, o estado se omite na fiscalização. Admitir a existência de estruturas e de uma economia que arrisca populações é absolutamente incompatível com o dever do estado."
O distrito de Macacos fica a cerca de 30 quilômetros de Belo Horizonte e está na região em alerta vermelho para tempestades nos próximo dias, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. O risco, portanto, deve continuar.
“Isso mostra a falta total de lógica, de planejamento, de preocupação com o futuro. Com uma solução que resolva problemas e que perceba que ali existem populações de atingidos. Isso é enxugar o gelo, ver o que vai acontecer para depois decidir o que fazer. Estão tentando fazer medidas a curtíssimo prazo, sem nenhuma visão para o futuro", finaliza Polignano
Edição: Leandro Melito