"No lugar de vocês, eu me mataria!", grita uma mulher enfurecida, por várias vezes. Diante dela, uma corrente de policiais ombro a ombro ostenta capacetes e cassetetes. Camburões da polícia bloquearam a rua. Cem policiais estão no local.
Para os participantes dos protestos contra as medidas de contenção do coronavírus, não há como passar daqui. Ódio e violência escalam. Um grupo formado por dezenas de homens tenta furar o bloqueio e passar por cima dos policiais, causando tumulto.
É final de tarde de segunda-feira (10/01) em Freiberg. E, toda segunda-feira, centenas de pessoas se reúnem na pequena cidade universitária no estado federado da Saxônia (leste da Alemanha) para protestar contra a atual política de restrição ao coronavírus. Freiberg se tornou um bastião dos protestos anticovid na Alemanha.
Os manifestantes se autodenominam "Spaziergänger" (ou "passeantes", na tradução literal). Exigem o fim das restrições causadas pela pandemia de covid-19. E protestam contra uma possível obrigatoriedade de vacinação no país. Nesta segunda-feira, até mil pessoas se reuniram e passaram pelas ruas da cidade.
As manifestações são proibidas. É que, diante das altas taxas de infecção, somente um máximo de dez pessoas pode se reunir no estado da Saxônia.
Os militantes transformaram o veto a aglomerações num jogo de gato e rato com a polícia. Pequenos grupos se encontram, dispersos, ao redor de um parque no centro de Freiberg. Com comandos de apitos e palavras de ordem, começam a se movimentar e se juntam. Se a resistência da polícia fica maior, eles voltam a se espalhar rapidamente. Em todas as ruas, é possível ver grupos inquietos, em sua maioria formados por homens jovens, que estimulam o jogo.
Pivôs extremistas de direita
Nas redes sociais, os manifestantes tentam promover as manifestações como um suposto protesto comunitário, de cidadãos indignados. É verdade que vários cidadãos comuns participam. Mas a marcha desta segunda-feira foi dominada por homens musculosos vestindo trajes típicos da extrema direita e de hooligans.
"Muitos deles não são de Freiberg, viajaram especialmente para cá", observa Astrid Ring. Há meses, a jornalista cobre os protestos para a publicação local Freie Presse Freiberg.
"Hoje, a atmosfera está especialmente agressiva", comenta Ring, que está acompanhada de um fotógrafo do jornal, constantemente atacado com bombinhas. Astrid liga para a redação, relata sobre detenções.
"Não estou aqui sozinha!", garante à editora, pelo telefone. A imprensa foi declarada inimiga pelos grupos de direita no local. "Às vezes, tenho a impressão que eles falam comigo como se eu não fosse um ser humano", explica a jornalista, que só pode contar com a proteção da polícia de forma limitada. O jogo de gato e rato com os policiais transforma a situação na cidade num cenário confuso. Em toda parte, grupos fragmentados se deslocam pela cidade escura.
Na verdade, a polícia já desistiu antes do início da aglomeração proibida. "Não poderemos prender o maior número possível de pessoas", explica um porta-voz, antes do protesto. O motivo é a falta de policiais em número suficiente para fechar brechas, já que os líderes por trás dos protestos agem estrategicamente.
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Toda segunda-feira, o grupo extremista de direita "Freie Sachsen" ("Saxões Livres") anuncia cada vez mais marchas simultâneas para sobrecarregar propositalmente a polícia. Os extremistas de direita organizam a contestação na plataforma Telegram e estimulam o ódio.
Policiais são xingados de milicianos e mercenários, políticos e adversários são declarados inimigos do povo. Os organizadores também recebem cada vez mais apoio do partido ultradireitista alemão AfD.
Cresce a resistência contra a direita
Sybill Matthes está preocupada com sua cidade. "As pessoas não se tratam mais normalmente umas às outras", acusa a dentista, que critica ainda o fato de que a classe política e polícia não restringiram mais cedo as manifestações. "Quase saiu tudo do controle".
Atualmente, Sybill também protesta – mas contra os protestos.
Ela integra a iniciativa "Freiberg para todos", que tenta ser uma reposta à multidão na rua. Mais de 5 mil cidadãos e cidadãs de Freiberg já apoiam a iniciativa, incluindo o prefeito, Sven Krüger. "Me assusta quando políticos são ameaçados, bens são destruídos. Para mim, é aí que se ultrapassa a linha vermelha", afirma à DW.
Os apoiadores da iniciativa se veem como a verdadeira maioria na cidade que não quer mais se calar. Na Saxônia, existem atualmente iniciativas parecidas em muitas cidades e comunidades, que encontram cada vez mais apoiadores.
O problema dessas iniciativas: elas respeitam as regras. Assim, em Freiberg, o contraprotesto é apenas pequeno, já que respeita as restrições: no máximo, dez participantes por grupo.
Jenny Fritsche é uma delas. Ela fica atordoada com o ódio e a violência na cidade, e sofre ameaças pelo seu engajamento contra o extremismo de direita.
As ameaças deixam marcas. Fritsche fala de uma cultura do medo na cidade. Ao mesmo tempo, ela se sente privilegiada. "Meus amigos sírios e afegãos não têm coragem de ir às ruas aqui às segundas-feiras", conta.
Segundo Fritsche, Freiberg ainda tem uma situação relativamente tranquila. Nos vilarejos do entorno, quem tem opinião política diferente é socialmente estigmatizado por grupos de direita e de extrema direita.
Como muitos cidadãos no interior da Saxônia, ela se pergunta quanto tempo vai aguentar e se não deveria se mudar, como muitas outras pessoas engajadas – também por causa dos filhos. Mas, até segunda ordem, Fritsche quer ficar. "Alguém tem que fazer esse trabalho", afirma.