Indignado, abriu o ranário e soltou as rãs no sítio. Um desastre!
De vez em quando vira moda criar animais pouco comuns no cardápio dos brasileiros, mas que as pessoas que oferecem curso de como criar e vendem matrizes para o início da produção garantem serem muito lucrativos, mas muito mesmo!
Lembro-me de uma fase que apareciam direto ofertas de cursos de como criar escargot, nome francês dos caracóis comestíveis, em que nos mostravam lucros maravilhosos. Com um pequeno investimento, do curso, da compra das matrizes e dos alimentos desses caracóis, em pouco tempo você podia lucrar umas vinte vezes o que gastou. Bastava ver o preço de um prato deles em restaurantes refinados.
Verdade, mas só não contavam uma coisa: de repente você tinha um montão de caracóis no ponto de vender, mas pra quem? Os poucos restaurantes que serviam esse prato já tinham seus fornecedores.
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Teoricamente, estava ali uma boa grana... mas encalhada. Ninguém comprava.
Uma coisa que gosto muito e numa certa época entrou na moda também é rã.
Um amigo meu montou um ranário em seu sítio, e dali pouco tempo tinha mais de mil rãs para vender... mas não tinha comprador.
Indignado, abriu o ranário e soltou as rãs no sítio. Um desastre!
Rã é um dos alimentos preferidos das cobras, e com muitas rãs espalhadas por ali, vieram cobras de todos os lados. Os vizinhos protestaram. E o caseiro também, porque de noite a sua casa era praticamente cercada por rãs e elas ficavam coaxando o tempo todo, não dava pra dormir.
Mas tem história diferente disso: de coisa que tem muita procura, mas vira um problema. É o caso do amigo Daniel, que morava numa casa com um quintal grandão e ganhou um galo e duas galinhas.
Maravilha! Só que ele era vegetariano e criava os animais por gosto de ver as aves no terreiro e ouvir o galo cantar.
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A coisa só podia se complicar: vieram muitos pintinhos que viraram frangos e galinhas, e delas nasceram mais um montão. Em pouco tempo as galinhas quase não cabiam no terreiro, e davam despesa.
Ele resolveu doar as galinhas, mas, com amor aos animais, exigia de quem recebesse as aves que não comesse nenhuma delas. Era para criar, mas não abater. Ninguém aceitava, né?
Na última vez que vi o Daniel, ele estava desesperado com o terreiro cheio de galinhas, e procurando criadores igualmente vegetarianos. O que será que aconteceu com ele e com sua criação? Não sei.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Douglas Matos