A esquina da Rua do Hospício com a Avenida Conde da Boa Vista, na zona central do Recife, vira um palco de duelo de MC’s na primeira e terceira sexta-feira de cada mês com a Batalha da Escadaria. O evento acontece desde 2008 e segundo os organizadores, é a batalha de rappers mais antiga do Norte e Nordeste em funcionamento.
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Luiz Carlos Ferrer, rapper, fundador e hoje um dos diversos organizadores da batalha conta que a ideia surgiu ainda na adolescência “Na época eu andava de skate e os vídeos [ensinando manobras] tinham uma música ou outra de rap. Sempre via a galera dançando break do TIP, via na Dantas Barreto… Eu sempre trocava ideia com uma galera de outros estados e dois anos depois que o Criolo cria a Rinha de MC’S, surge a Batalha da Escadaria”, relembra.
As armas da batalha são as rimas. Os MC’s se inscrevem meia hora antes do início e as rimas são feitas no estilo Freestyle, ou seja, ao vivo e com tema livre e cada participante tem 45 segundos para duelar. Ao final de todas as batalhas um vencedor é escolhido pelo público.
Prestes a completar 14 anos de história, sendo interrompida apenas nos meses de isolamento social por causa da pandemia, Luiz ressalta que a batalha, além de reunir as diversas linguagens do hip hop, é também um encontro de gerações “Aqui tem uma galera de 30 anos de idade, como chega gente muito nova, com 12, 13 anos. Tem pais que trazem os filhos para batalhar aqui”.
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Com raps que dão visibilidade a questões como o racismo, a desigualdade e à realidade das periferias, Luiz reafirma que a Batalha da Escadaria é um espaço político. "A batalha é um espaço de formação política. A gente está vendo o que acontece no Brasil. O nosso movimento é de luta. A gente tem regras e leva pra vida: não ao machismo, não à homofobia, não ao racismo”, explica.
A luta contra as opressões se expressa não somente nas rimas, mas na estética do grupo. Os cartazes que informam data e hora das batalhas são temáticos. O da edição desta sexta (21), que acontece a partir das 19h30, traz a imagem de Dandara dos Palmares e a frase “A resistência da mulher negra faz sobreviver uma nação”. Outras peças trazem também a imagem de Carlos Marighella e Zumbi dos Palmares.
Acompanhando o avanço dos debates na sociedade e dentro do movimento hip hop sobre essas questões, o rapper diz que a batalha reúne a pluralidade da juventude pernambucana: “Cola a galera de todos os movimentos aqui, LGBT’s, negras e negros, todo mundo se sente a vontade. Aqui é um quilombo no meio do centro. Tem gente da região metropolitana, mas tem do interior, de Caruaru, Petrolina, vem gente de outros estados…”.
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O intercâmbio entre os MC’s da região e da Batalha com outros duelos de MC’s resultou em uma conquista importante: hoje a Batalha na Escadaria representa Pernambuco no Circuito Nacional de Batalhas que inclui, entre outras, a Rinha dos MC’s em São Paulo; o Duelo de MC’s de Belo Horizonte; a Batalha do Real do Rio de Janeiro e a Batalha do Santa Cruz em São Paulo.
Depois de tantos anos, Luiz vê o alcance e o impacto da Batalha da Escadaria com orgulho "agradecer, porque a batalha não tem só eu. Eu fundei, mas hoje uma galera organiza também, gente que participa das batalhas, que já participou antes. Sozinho se chega a algum lugar, mas juntos chegamos mais longe”, conclui.
Sem patrocinadores, a batalha conta com o apoio do público. O desafio atual é investir em equipamento de audiovisual para registrar as batalhas e, a longo prazo, o objetivo é lançar um livro com a história do duelo de MC’s. Quem quiser mais informações pode entrar em contato através do email [email protected] ou pela redes sociais, na conta do Instagram.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Rani de Mendonça