O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) acredita que 2022 não será um "ano perdido" na Câmara dos Deputados. O ex-ministro da Saúde afirma que a proximidade das eleições gerais de outubro coloca a Casa no centro do processo político brasileiro.
No pleito de outubro, serão definidas as novas composições da Câmara e do Senado, além da escolha do novo presidente da República, governadores e deputados estaduais. Para Padilha, o ano eleitoral é uma oportunidade para "começar a articular e projetar a reconstrução do Brasil".
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o congressista afirmou que o diálogo da oposição com diferentes forças políticas que estão na Câmara dos Deputados é fundamental para a construção das bases de uma ampla frente progressista em torno do ex-presidente Lula (PT).
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Leia a entrevista completa:
Brasil de Fato: Como o senhor enxerga o papel da Câmara dos Deputados neste ano de 2022?
Alexandre Padilha: O ano de 2022 na Câmara dos Deputados será o ano de cultivar a esperança e começar a articular e projetar a reconstrução do Brasil a partir de 2023. É preciso redobrar a resistência à contínua destruição das políticas de enfrentamento à miséria, de enfrentamento ao desemprego, de enfrentamento à crise sanitária, de apoio à pesquisa, educação, à proteção ambiental no Brasil, que Bolsonaro vem tentando fazer. E ainda ampliar os obstáculos à verdadeira "pilhagem" de final de governo que Bolsonaro e sua base bolsonarista tentarão fazer com o orçamento público, com a aprovação de leis construídas por lobistas privados, que tentam transformar qualquer direito do povo brasileiro em mercadoria.
Como é possível "projetar a reconstrução do Brasil" a partir da Câmara?
Será um ano muito importante a partir do diálogo com várias forças políticas que estão lá na Câmara dos Deputados para a construção das bases de uma ampla frente de esquerda, uma frente progressista, que pode contribuir para a formação de um programa de governo progressista, de esquerda para o país. A própria movimentação dessas forças políticas na Câmara dos Deputados pode ser um espaço de consolidação da costura dessa frente progressista. Será um ano onde alguns temas que serão decisivos para a reconstrução do Brasil podem começar a dar passos antecipados.
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Quais os temas de um futuro governo que poderiam ser antecipados para este ano?
Um exemplo é todo o debate sobre o complexo econômico-industrial da saúde no Brasil. O Brasil tem no seu grande mercado público da saúde, criado pelo SUS, na busca do acesso ao direito a medicamentos, vacinas, atendimento, serviços de saúde e equipamentos, um grande potencial de fortalecimento da sua economia, de retomada da sua capacidade industrial e de recuperação da sua soberania nacional de produção, com a retomada de empregos dignos no nosso país.
Cito o exemplo do complexo econômico industrial da saúde, mas posso citar o exemplo do debate sobre a segurança alimentar do país, sobre a proteção ambiental no país, que são mais do que espaços fundamentais de garantir direitos, são verdadeiros eixos de desenvolvimento econômico, social, enfrentamento das desigualdades no nosso país. Teremos na Câmara um espaço para dar passos nesses temas, que já têm projetos de lei e articulações que podem ser deslanchadas a partir da derrota do bolsonarismo.
Em relação ao governo Bolsonaro, quais são os principais desafios?
É um ano onde a Câmara vai ter um papel decisivo na defesa da democracia. A democracia no Brasil é extremamente frágil e está sempre em ameaça diariamente pelas atitudes de Bolsonaro, que, na minha opinião, só irão crescer no ocaso do seu governo. A forma de Bolsonaro conseguir se perpetuar no poder é transformar aquilo que deveria ser um processo eleitoral democrático, amplo, pacífico em guerra, disputa violenta, fratricida no nosso país. E a Câmara tem que ser um dos grandes espaços de defesa da democracia.
Eu acredito firmemente que a Câmara será um dos espaços de articulação da sociedade, das demandas do povo, de mobilização, de rearticulação de algumas frentes de mobilização, como por exemplo, a frente dos trabalhadores públicos, cuja mobilização no ano passado foi decisiva para impedir a PEC da Reforma Administrativa do governo Bolsonaro. Esse é um exemplo de frente de articulação que vai ser fundamental, não só para pensarmos programa de governo, mas para derrotar nas ruas, política, social e culturalmente o bolsonarismo que tem no país. É um ano de esperança, de resistência e de muita articulação de construção do futuro.
Edição: Vivian Virissimo