Nas Metropolitanas e Rio Doce a situação foi pior, pois as enchentes levaram os rejeitos de minérios
As chuvas nas últimas semanas causaram inúmeros prejuízos para os moradores das cidades mineiras, mas também das zonas rurais. Segundo levantamento da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), 119 mil hectares de lavouras foram perdidos. Os dados incluem propriedades rurais, mas também as perdas em assentamentos agrários do estado.
Os dados incluem perdas em assentamentos agrários do estado. Os temporais atingiram cerca de duas mil famílias de assentamentos e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Fábio Nunes, dirigente estadual do setor de produção do MST MG atribui às fortes chuvas as mudanças climáticas, mas também ao modo de produção do agronegócio e das mineradoras nestas regiões.
“Temos visto cada vez mais eventos extremos como seca e chuvas com inundações intensas em todo o país. A produção de commodities na agricultura é um dos grandes fatores que agravam essa situação. Os assentamentos do MST foram atingidos diretamente em cinco regiões: Norte, Jequitinhonha, Mucuri, Rio Doce e Região Metropolitana. Nas Metropolitanas e Rio Doce a situação foi ainda pior, pois as enchentes trouxeram os rejeitos de minérios dos crimes ocorridos em Brumadinho atingindo o Rio Paraopeba e o crime de Mariana que atingiu o Rio Doce.”
Além de terem suas casas atingidas, os agricultores perderam a produção e animais de criação. Foram atingidas principalmente as plantações de milhos, hortaliças, feijão e mandioca. Áreas de pastagens para alimentação animal também ficaram completamente destruídas, explica Nunes.
São mais mil hectares de lavouras de produção agroecológica foram destruídas sendo principalmente milho, feijão, mandioca e frutas além de pastagens para a criação de pequenos animais. Além da perda de vacas, cabras e galinhas que foram carregadas pelas enchentes.
Os assentamentos e acampamentos mais atingidos foram: 2 de julho, 1º de junho, 16 de abril, Terra Prometida, Águas da Prata, Ulisses Oliveira, Quilombo Dandara, Terra Prometida 2, Zequinha Nunes e Pátria Livre.
O MST tem atuado em duas frentes emergenciais. Uma delas é garantir alimentação, roupas e abrigo para as famílias afetadas e o levantamento dos danos nas estruturas para planejar a reconstrução de locais como escolas e postos de saúde e áreas de produção.
“Nós estamos mobilizando todas as famílias assentadas do estado, cooperativas do MST e de parceiros, movimentos populares em uma grande campanha de solidariedade para retomar os processos organizativos e a produção de alimentos saudáveis no estado de Minas Gerais nessas áreas onde as famílias foram atingidas”, explica Nunes.
Armando Miranda é agricultor do assentamento 1º de junho, em Tumiritinga, o impacto maior ocorreu entre os dias 10 e 17 de janeiro, quando ocorreu a inundação de onde estão as plantações de milho, feijão, mandioca e cana-de-açúcar.
::Em Minas Gerais, atividade mineradora agrava enchentes e dificulta prevenção
As chuvas trouxeram à tona novas ameaças de rompimentos de barragens, como dos crimes de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, que marcaram a região. O último completou três anos em 25 de janeiro e vitimou mais de 270 pessoas. As vítimas do crime da Vale ainda lutam por justiça e reparação.
Segundo Armando, as famílias ficam sem saber sobre o futuro produtivo das áreas atingidas pelas chuvas e pela lama da mineradora. Ele afirma que a situação se agravou ainda mais.
"Porque o impacto na nossa área ocorre desde o desastre Mariana, com um volume de lama ainda grande. A camada de lama no leito do rio doce nas enchentes acaba vindo para as áreas de cultivo".
O assentando ressalta a necessidade de um trabalho de reparação. "Existe toda uma luta para que a Vale coloque em prática os programas que ela vem anunciado para que a gente consiga recuperar minimamente, o potencial e o poder produtivo aqui da nossa área”, explica.
O assentamento 2 de Julho, em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, também foi alagado. O professor Amarildo Horácio e coordenador do Viveiro Esperança afirma que foi organizada uma comissão de crise para apoiar as famílias que tiveram que desocupar as suas casas, 33 ficaram ilhadas e 19 áreas produtivas foram alagadas.
Além da produção de hortaliças, grãos, os produtores perderam mais de 100 galinhas, 13 gados e inúmeros animais domésticos e de criação ficaram machucados. O volume das águas do Rio Paraopeba que banha o assentamento e o Ribeirão Pimentas que corta a área subiu e as estradas ficaram interrompidas por quase uma semana. A principal preocupação no momento é em relação à água.
“O município fornece uma quantidade e também hoje é fornecido também uma quantidade pela Vale também pelo fato de de assentamento ser banhado pelo rio Paraopeba e ele está no no leito aí dessas discussões de reparação dessas questões do impacto do crime da Vale em 2019. Porém a quantidade fornecida por ambos é impossível de sustentar no uso doméstico e da produção agrícola”.
As três barragens em maior situação de risco do Brasil estão localizadas em Ouro Preto, Nova Lima e Barão de Cocais. O Ministério Público e governo do estado avaliaram 31 estruturas em Minas em situação de emergência e determinaram que medidas sejam adotadas em 18 delas, todas da Vale
As ações de solidariedade continuam e as doações de alimentos e materiais de higiene podem ser entregues no Armazém do Campo, em Belo Horizonte, que fica na Avenida Augusto de Lima, 2.136, centro de BH.
O Brasil de Fato questionou a Vale sobre os problemas apontados, mas não houve um resposta até a publicação da reportagem. O espaço continua aberto caso a empresa venha a se manifestar.
Edição: Douglas Matos