O documentário “Nosso Sagrado”, lançado em 2017, sobre a perseguição contra o Candomblé e a Umbanda, religiões criminalizadas na Primeira República e na Era Vargas, vai ganhar uma sequência. O novo filme é uma realização da Quiprocó Filmes, que produziu o anterior, em parceria com a campanha “Liberte Nosso Sagrado”.
A pesquisa já foi iniciada, o documentário começa a ser produzido no segundo semestre deste ano e terá como diretores os cineastas Fernando Sousa e Gabriel Barbosa. A sequência é intitulada “Acervo Nosso Sagrado”.
O documentário "Acervo Nosso Sagrado" vai acompanhar o processo de acondicionamento, preservação, pesquisa, documentação histórica e museológica dos 519 objetos sagrados da Umbanda e do Candomblé doados ao Museu da República em 2020.
As peças foram apreendidas durante a República Velha e a Era Vargas, entre 1889 e 1945, quando as religiões de matriz africana eram marginalizadas. Os objetos estavam em poder da Polícia Civil do Rio de Janeiro até o ano passado. Os artigos eram expostos no museu da corporação, na coleção Magia Negra, mas foram transferidos para o acervo do Museu da República e, depois, doados em definitivo pelo governo do Rio à instituição.
O novo filme
O início da nova produção está previsto para acontecer no segundo semestre de 2022. Aprovado para captação de recursos via Lei do Audiovisual, o projeto já conta com a parceria e um contrato de patrocínio com o escritório de advocacia Daniel Advogados e encontra-se cadastrado para novos patrocinadores na plataforma da Simbiose Social, startup que conecta empresas com projetos culturais e sociais.
“A reconquista desse acervo sagrado é um exemplo de cidadania, os afro-religiosos em sua luta estão proporcionando a todos nós conhecer um aspecto fundamental da cultura afro-brasileira, que é patrimônio material das religiões de matriz africana", afirma Isabella Cardozo da Daniel Advogados.
Fruto de grande mobilização e sob a liderança religiosa e política de Mãe Meninazinha de Oxum, o movimento “Liberte Nosso Sagrado”, em agosto de 2020, alcançou importante vitória com a assinatura do termo que garantiu a transferência do acervo da Polícia Civil ao Museu da República.
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Para Fernando Sousa, Diretor Executivo da Quiprocó Filmes, a transferência do acervo é uma conquista fundamental para as comunidades de terreiro e com enorme interesse público, principalmente no campo da memória e a documentação será de ampla importância para a sociedade.
"Particularmente, permite-nos concretizar um antigo desejo, que consiste em uma produção cinematográfica que contribua com a memória e a história das religiões afro cariocas a partir do rico conjunto de 519 objetos sagrados do Candomblé e Umbanda, considerando a pesquisa histórica e museológica já em curso no Museu da República”, conclui Fernando Sousa, Diretor Executivo da Quiprocó Filmes.
Os objetos apreendidos a partir das invasões violentas por parte do Estado foram depositados no Museu da Polícia Civil do Rio de Janeiro, compondo, ao lado de outros materiais apreendidos por forças policiais, exposições organizadas na instituição.
Em 1999, quando a sede desse Museu foi transferida para o prédio histórico da Rua da Relação, nº 40, no centro carioca, todos os objetos da então denominada "Coleção Museu de Magia Negra" foram guardados em caixas e assim permaneceram até setembro de 2020, com acesso vetado à pesquisadores e aos integrantes das comunidades tradicionais de terreiro.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Jaqueline Deister