Por melhores condições de trabalho, entregadores de aplicativo de Piracicaba, cidade do interior paulista, preparam uma paralisação a partir de sexta-feira (4).
A mobilização tem como alvo principal o iFood, maior empresa de delivery no país. De acordo com os organizadores do breque, o aumento da taxa mínima por corrida – que hoje está em R$5,31 - é a prioridade entre as reivindicações.
“A gasolina vem subindo, tudo está subindo, mas o iFood travou o valor da taxa”, explica o trabalhador Bruno Lipparelli.
Robson Pires, mais conhecido como Índio, também é um dos organizadores da paralisação. “A empresa não leva em conta o deslocamento para chegar até o restaurante. E depois que você faz a entrega, você também tem que voltar. Esses percursos não são contabilizados”, contesta.
O valor repassado do iFood para o trabalhador é a somatória da taxa mínima com um cálculo variável da quilometragem rodada.
“Você anda 3 mil km e olha lá no aplicativo, aparece como se você tivesse rodado 500 km”, exemplifica Índio.
“Além disso, se você sofre um acidente na volta da entrega, é como se não estivesse em serviço. Meu amigo está sem receber até hoje”, diz. O próprio Índio se acidentou enquanto trabalhava no ano passado. Quebrou a mão, que teve de ser operada. “Até agora não recebi nenhum suporte do iFood”, alega.
Além do aumento da remuneração, os entregadores reivindicam o fim de duas ou mais entregas numa mesma corrida e também o término dos bloqueios de conta sem justificativa.
Gustavo Massi, que também participa da mobilização, teve sua conta bloqueada e não sabe o motivo. “De uma hora para outra, eu estava desabilitado na plataforma. Ninguém me deu qualquer satisfação, eu ligo lá e eles não falam nada”, relata, ao explicar que agora está sem trabalho e sem renda.
“Cada dia que passa, eles pisam mais em nós. Por isso está todo mundo revoltado”, resume Gustavo.
O Brasil de Fato entrou em contato com o iFood para pedir um posicionamento a respeito das críticas apresentadas, mas não obteve resposta.
Mobilizações recentes
Esse é o primeiro breque do ano depois de uma série de greves da categoria, intensificadas no segundo semestre de 2021. No ano passado, começaram a ser organizadas paralisações com duração de vários dias, feito antes inédito.
De setembro até dezembro de 2021 entregadores de apps fizeram breques prolongados em ao menos 10 cidades: São José dos Campos (SP), Paulínia (SP), Jundiaí (SP), São Carlos (SP), Bauru (SP), Atibaia (SP), Niterói (RJ), Carapicuíba (SP), Barueri (SP) e Mauá (SP).
Em resposta à mobilização dos trabalhadores, o iFood organizou um fórum em dezembro de 2021. O encontro, no entanto, aconteceu a portas fechadas com 23 entregadores escolhidos pela empresa.
A carta compromisso que saiu como resultado do Fórum não contemplou o aumento da taxa, reivindicação principal de todas as mobilizações da categoria pelo país.
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Na carta, o app de delivery se compromete a “dar transparência sobre o motivo de alertas e suspensões temporárias” e desativação de contas. O iFood afirmou, ainda, que até março vai ser aberta a possibilidade de entregadores contestarem as desativações, “iniciando por aquelas que aconteceram nos últimos 6 meses”.
“Até agora o iFood não cumpriu nada do que prometeu”, avalia Índio: “Estão brincando com a gente. A gente não é brinquedo”.
“Cercam o mercado e querem que a gente seja escravo”
De acordo com os organizadores da greve de Piracicaba, ela vai acontecer inicialmente nos dias 4, 5 e 6 de fevereiro. “Se nesses três dias não houver diálogo nem melhoria, nós vamos dar continuidade”, explica Bruno.
Aos 41 anos, ele trabalha com serviço de entrega na moto há 25. No iFood, está há um ano e meio.
“O serviço de entregas existe há décadas. Só que quando chegam os aplicativos, eles cercam esse mercado e ficamos todos reféns”, descreve Bruno.
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“Se antes eu recebia, por exemplo, R$10 do estabelecimento, hoje eu fico só com um resto e preciso dar boa parte para a empresa de app, que não faz nada”, ilustra Bruno.
Para ele, os apps de delivery, e em especial o iFood, “estão cercando o mercado”: “E querem que a gente seja escravo”.
Edição: Rodrigo Chagas