Em depoimento, na última terça-feira (1º) à polícia, o dono do quiosque Tropicália, no Rio de Janeiro, onde foi morto a pauladas o congolês Moïse Kabamgabe, disse que um dos três agressores enviou uma mensagem de áudio por telefone para saber se as câmeras do local estavam ligadas. O dono do estabelecimento foi quem entregou as imagens de vídeo à polícia.
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Segundo o jornal "O Dia", Fábio Pirineus da Silva, conhecido como Belo, foi quem questionou o dono do quiosque. Este teria dito, segundo o depoimento dado, que as câmeras estavam desligadas no momento do crime. Os outros dois agressores foram identificados como Brendon Alexander Luz da Silva e Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, conhecidos como Tota e Dezenove.
Na noite de ontem, os três foram indiciados por homicídio duplamente qualificado, quando o crime é praticado de forma cruel e sem possibilidade de a vítima se defender. A Justiça determinou a prisão temporária dos três suspeitos, que já estão detidos.
Moïse foi morto no último dia 24 ao lado do quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, por cobrar duas diárias de trabalho que ele prestou ao local como ajudante de cozinha, segundo a família de refugiado da República Democrática do Congo e que vivia no Brasil desde criança.
Ato no sábado
No próximo sábado (5), às 10h, haverá um ato de protesto em frente ao quiosque Tropicália, no posto 8 da praia da Barra da Tijuca, pedindo que seja feita justiça e que todos os culpados sejam punidos. A família de Moïse estará presente.
Diversas entidades ligadas a direitos humanos e aos direitos de refugiados no Brasil se manifestaram ontem sobre a morte de Moïse. O procurador da comissão de direitos humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ) disse que "absolutamente nada justifica o que fizeram com Moïse".
"Deviam dinheiro pra ele e ele se revoltou, o que é natural. Estão tentando criar uma narrativa de que Moïse teve culpa pelo ocorrido. Tiveram a intenção de matar, ninguém dá paulada em alguém desacordado à toa", afirmou Mondego, que acompanha os desdobramentos do caso.
Repercussão
Em nota conjunta, Cáritas RJ, ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) e a OIM (Organização Internacional para as Migrações) lembrou que Moïse chegou ao Brasil ainda criança, acompanhado de seus irmãos. No país, ele e sua família foram reconhecidos como refugiados pelo governo brasileiro.
"Ele era uma pessoa muito querida por toda a equipe do PARES Caritas RJ, que o viu crescer e se integrar. Neste momento, as organizações apresentam suas sinceras condolências e solidariedade à família de Moïse e à comunidade congolesa residente no Brasil", afirma trecho do comunicado.
A Embaixada da República Democrática do Congo informou que está em contato com a família de Moïse, que está cobrando um pronunciamento por parte do Ministério das Relações Exteriores. A embaixada também cobrará do governo brasileiro respostas sobre investigações de outros congoleses mortos no país.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Mamanu Idumba Edou, tio de Moïse, disse que o rapaz foi cobrar o salário atrasado, quando o gerente do estabelecimento pegou um pedaço de madeira para atacá-lo.
"Ele chamou mais quatro pessoas que pularam em cima do Moise, pegou ele pelas costas, sufocou e pegou um pedaço de pau. Começaram então a bater na cabeça dele", diz Edou, relatando as cenas que a família diz ter visto em imagens das câmaras de segurança do local.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Eduardo Miranda e Rebeca Cavalcante