Parlamentares do Partido dos Trabalhadores entrarão com uma representação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados solicitando a cassação do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) por quebra de decoro parlamentar, conforme informou o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) ao Brasil de Fato.
Kataguiri afirmou, durante a sua participação no Flow Podcast, que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). “O que eu defendo, e que acredito que o Monark também defenda, é que, por mais absurdo, idiota, antidemocrático, bizarro, tosco que o sujeito defenda, isso não deve ser crime. (...) Porque a melhor maneira de você reprimir uma ideia é […] você dando luz naquela ideia, para ela seja rechaçada socialmente e então socialmente rejeitada”, afirmou também o deputado.
Na mesma discussão, o apresentador Bruno Aiub, conhecido como Monark, afirmou que deveria existir o “partido nazista reconhecido pela lei”. Depois do programa, ele foi afastado do podcast.
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Padilha afirmou que todos os partidos que “defendem a democracia e que abominam o nazismo no país representem a esse deputado. Não pode existir numa democracia a coexistência com a liberdade de organização, de ter sede, de ter candidatos de uma ideologia que prega o extermínio de pessoas. Isso é inadmissível em qualquer país”.
O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) afirmou que “essa visão ‘liberaloide’ da liberdade de expressão é a porta aberta para o fascismo. Em nome da liberdade, entendem que é possível exterminar um povo, uma etnia, uma raça, que é do que trata o nazismo. Repúdio geral a essa fala de apologia do nazismo”.
Na mesma linha, a deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) disse ao Brasil de Fato que “o nazismo é algo que não pode ser tolerado. Não cabe na democracia práticas nazistas, racistas, porque isso inviabiliza a existência de grupos sociais. Então, um parlamentar que se preste a relativizar o que foi nazismo precisa pelo menos se retratar”.
“Eu não sei se vai haver algum encaminhamento na Câmara de Deputados, mas é preciso reforçar que não podemos permitir que pessoas públicas, cujas falas têm alcances muito amplos, relativizem o que foi o holocausto, o que é a prática que elimina determinados grupos. Isso é um pouco a expressão de um Brasil dramático e do quanto a democracia brasileira é frágil. É um caminho longo pela frente para enfrentar práticas como a do deputado Kim”, afirmou a parlamentar.
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Kataguiri também será investigado pela assessoria criminal da Procuradoria-Geral da República para apurar a prática de eventual crime de apologia ao nazismo.
O deputado, por sua vez, criticou Augusto Aras e disse que o procurador-geral faz "vista grossa para crimes que realmente aconteceram". "É aterrador que o PGR, que sempre faz vista grossa para crimes que realmente aconteceram, tenha agido tão rápido. Quando há claros indícios de crime cometido pelo presidente da República, Augusto Aras nada faz. Porém, diante de uma conduta claramente de mero debate em um podcast, Aras age rapidamente - e com inquestionável cunho político para perseguir minha conduta de oposição ao Governo Bolsonaro. É um contrassenso", declarou Kataguiri. Ele ainda afirma que vai colaborar com as investigações da PGR.
No início da manhã desta quarta-feira (9), a hashtag #RenunciaKimKataguiri estava entre os assuntos mais comentados do Twitter.
Edição: Monique Santos