O padre togolês Lionel Dofonnou está no Brasil há cinco anos. É responsável pela paróquia Santa Amélia, no bairro Fazendinha, em Curitiba. Como negro, já sofreu na pele preconceito. Para ele, a repercussão do ato pedindo justiça por Moïse, em Curitiba, está se perdendo do fato principal: o motivo do protesto, que era o assassinato de negros e o racismo estrutural que existe no país.
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Padre Lionel celebra, todo ano, a missa afro no Dia da Consciência Negra, na Igreja do Rosário, que para ele é simbólica, mas também um ato político.
Confira a entrevista:
Brasil de Fato Paraná – O senhor ficou sabendo do ato contra o racismo em frente à Igreja do Rosário e da polêmica de manifestantes entrarem na igreja. O que acha disso?
Lionel Dofonnou – Voltei a Curitiba no domingo (6) e, desde segunda-feira (7), comecei a ouvir sobre isso. Existem muitas versões, a de que haveria uma celebração na hora, e a do vereador, de que não, que já havia acabado antes de entrarem. Há vários vídeos circulando, e um que assisti prova que não havia celebração naquele momento.
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O vigário da paróquia estava ao lado deles, no altar, quando falavam. Não sou testemunha, porque não estava lá, mas tenho missa hoje à tarde lá (dia 10, na Igreja do Rosário, N.R) e vou perguntar o que aconteceu.
Mas o importante, para mim, era o motivo da manifestação, que acabou sendo esquecido. Estão ficando apenas com o ato de entrar na igreja, que é um direito, a igreja é de todos. Ainda mais com o histórico do que representa essa igreja para o povo negro de Curitiba. A igreja do Rosário é um dos lugares simbólicos para essa manifestação, para denunciar o racismo no Brasil, em particular contra a população negra. O objetivo da manifestação foi esquecido.
Boa parte das críticas é que a igreja é um solo sagrado e não cabem manifestações políticas lá. O senhor compartilha dessa ideia?
Claro que não, a igreja é um lugar sagrado, mas é um lugar também político, porque é um lugar frequentado por seres humanos. É um lugar que deve estar ao lado dos oprimidos, como Jesus ensinou. A igreja é um lugar para o simbólico, mas também de atos, nesse sentido de defender a vida e a luta contra o racismo.
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Na Igreja do Rosário costuma-se celebrar a missa afro no Dia da Consciência Negra, um ato religioso, mas também político, para dizer que temos de ver o que está acontecendo no Brasil em relação ao racismo. Não tinha lugar melhor para essa manifestação. Se atrapalhassem a celebração, seria outra coisa, por ser um local sagrado e de fé...
Há quanto tempo o senhor está no Brasil e como vê a situação dos negros?
Estou há quase cinco anos e o que vejo é um racismo velado, estrutural, em várias estruturas: social, econômica e política. O problema é que não se reconhece essa “praga”. O próprio jornal sempre coloca a imagem do negro como bandido, traficante. É um racismo presente nas estruturas da sociedade brasileira.
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Esse racismo passa pela representação política?
Sem dúvida, porque muitas pessoas não querem ver o negro lá. Os ignorantes e racistas fazem de tudo para ver o negro só na favela ou no cárcere. Não tenho dúvida de que isso possa estar acontecendo.
Renato Freitas e Carol Dartora são pessoas de luta e resistência nesse campo político da Câmara. Imagino que não deve ser fácil estarem dentro do sistema, como resistência, como luta, como representantes de uma multidão que quer ter voz também.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Rebeca Cavalcante e Lia Bianchini