Pode ser que algum vindo das profundezas da roça saiba esses significados, mas duvido
Pergunta aos jovens: vocês sabem o que é boca de pito? E pachola? E mucuta?
Pode ser que algum vindo das profundezas da roça saiba, mas duvido.
Boca de pito era tomar um cafezinho antes de fumar. Conforme diziam, ficava bem mais agradável fumar depois de um cafezinho. Tinha gente que, se quisesse deixar o vício, tinha também de parar de tomar café. Consideravam irresistível a vontade de fumar depois de tomar um cafezinho.
Pachola, eu já ouvi usarem com o sentido de simplório, bonachão, e até mesmo como preguiçoso. Pois na minha memória dos tempos de infância essa palavra está registrada como coisa excelente, de ótima qualidade.
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E perrengue? Algumas expressões antigas às vezes resistiram, porém mudando o significado.
Tenho ouvido muita gente falar em “perrengue”, como uma situação constrangedora, um aperto, um incômodo. Mas quando criança eu ouvia no interior mineiro usarem a palavra perrengue com um sentido muito diferente. Era moleirão, preguiçoso... “Ô caboco perrengue!”
Uma coisa que estranhei foi um amigo não entender quando lhe falei da feira da breganha, de Taubaté. Ele disse que não conhecia a palavra breganha. Expliquei era a forma caipira de falar barganha, e ele entendeu, mas com um pé atrás: para o caipira, breganha é uma coisa normal, uma troca, simplesmente. Mas para muita gente dos tempos de hoje barganha tem quase sempre um tom pejorativo, algo de mutreta, especialmente barganha política.
Falando em breganha, e se uma pessoa lhe disser que passou uma manta em alguém, o que você imagina que ele fez? Enganou outra pessoa num negócio. Por exemplo: breganhou com o Fulano sua égua velha que não valia nada por uma bicicleta quase nova. Passou manta no Fulano.
Outro causo: Encontro não marcado
Uma palavra que uso de vez em quando e que ninguém entende é mucuta. Acho que só na minha terra mucuta é o nome que se dá ao embornal, ou bornal.
Pra terminar, lembro de um líder do grupo Mídia Ninja, que andou no noticiário há alguns anos. O sobrenome dele, ou apelido, é Capilé. Ora, capilé, para mim é groselha com água. Quando criança, tomava de vez em quando. E há algum tempo “descobri” em alguns lugares a groselha diet, quer dizer, sem açúcar, e voltei a tomar. Acreditem: até isso já temos! Ô, coisa danada! Pior é que eu gosto!
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Douglas Matos