É importante a sociedade começar a saber o que está acontecendo no campo, as mortes e perseguições
"O mais importante que nós construímos nos 25 anos é que o pobre, quando entra no MST, deixa de caminhar de cabeça baixa". Essa fala, que abre a música “En la plaza” da banda curitibana Partigianos, é de João Pedro Stedile, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
O vocalista Vlad Urban explica que a música e o clipe são uma homenagem aos que lutam pela terra no Brasil. A música é versão do hino cantado pelos revolucionários na Guerra civil espanhola.
“A luta dos agricultores familiares é muito grande, principalmente em um governo que apoia os latifundiários e milícias do campo, que fazem grilagem de terras e expulsam povos indígenas das suas áreas para o garimpo. É importante toda a sociedade começar a saber o que está acontecendo no campo, as mortes e perseguições. E a gente vai tentar de alguma forma falar e denunciar essas questões através da música”.
As músicas da banda independente Partigianos, além de denunciar a situação de violações de direitos dos povos indígenas e camponeses, demonstram a resistência dos movimentos populares que lutam pela terra.
"O Brasil é um país gigante, mas as nossas terras estão concentradas na mão de uma minoria que basicamente produz commodities para exportação e que emprega pouca mão de obra. Hoje, há cerca de 19 milhões de brasileiros passando fome e a agricultura familiar e a reforma agrária são a resposta para esse problema. Quanto antes nós enfrentarmos essa realidade, menos gente vai sofrer", afirma o vocalista.
A banda curitibana é composta por sete integrantes e surgiu com objetivo de ter a música como instrumento político, de apoio aos movimentos.
“A ideia de fazer músicas de protesto surgiu depois do golpe de 2016 [impeachment da presidenta Dilma Rousseff]. Partigianos faz releituras desses hinos antifascistas, da guerra civil espanhola e da revolução mexicana, por exemplo", conta.
O chargista político Leandro Franco fez a animação do clipe da música “En la plaza”. Ele conta que já acompanhava os Partigianos e retrata personagens reais de conflitos no campo.
“A escolha dos personagens tem conexão com um momento atual. Estamos vivendo sendo o governo Bolsonaro que mais tem promovido a devastação da Amazônia e dando carta branca para madeireiros e garimpeiros matarem crianças indígenas. Enfim fiquei muito abalado com isso. Inclusive eu retrato um menino indígena que foi assassinado em 2012 por madeireiros e tantos outros que estão acontecendo neste momento", afirma.
Franco também buscou inspiração no famoso quadro "Retirantes", de Cândido Portinari, representando o povo nordestino que também voltou a sofrer muito com a fome.
O chargista que já trabalhou com vários artistas, entre eles, o cantor Supla e as bandas Autoramas e Nervochaos, reforça a necessidade da classe artística se posicionar e se unir contra esses ataques.
Franco diz acreditar na arte como instrumento político e que pode ser usada para denunciar e apontar as injustiças sociais.
"Eu sou chargista, já fiz trabalhos para a Gazeta Guarulhense e até hoje faço charges políticas e frequentemente sou atacado nas redes sociais. Se o artista está incomodando é porque está acertando, está colocando o dedo na ferida. Um exemplo disso é Guernica, do Picasso, que denunciou os horrores da guerra civil espanhola, inclusive a música En la plaza é desta época".
“En la plaza” faz parte do álbum de estreia dos Partigianos, “Frente de Batalha”, que foi lançado pelo selo Neves Records, em 2019.
Partigianos
O grupo Partigianos é formado por sete nomes da música curitibana: Vlad Urban (vocal e violão - Sick Sick Sinners, Os Catalépticos), David Ernst (guitarra - Kráppulas, 99 Noizagain), Pepeu Flukeman (baixo - Cwbillys), Gustavo Toscan (acordeon - Decadência, Ala Rústica), Dora Urban (vocal - Madrigal Vocale, AmericAntiga), Beta (violino - Como Todo Mundo, Watch Out for the Hounds) e André (bateria - Repudiyo).
Edição: Douglas Matos