Na quinta-feira (17), as famílias do acampamento Reduto de Caraguatá, de Paula Freitas (região sul do Paraná), completaram 17 anos de luta pela Reforma Agrária da área. A comemoração aconteceu no sábado (19), com doação de cestas de alimentos para as famílias em situação de vulnerabilidade do município.
As 150 cestas foram entregues para o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), que distribuiu para as famílias já cadastradas. Cada kit foi recheado de esperança e comida boa, entre pão caseiro, abóbora, feijão, arroz, banana e melado (a maioria produtos agroecológicos), totalizando quase uma tonelada de alimentos.
Cestas foram montadas com uma variedade de alimentos, a maioria agroecológicos / Fotos: Juliana Barbosa
A ação faz parte da campanha nacional de solidariedade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) a quem enfrenta a fome na pandemia. No Paraná, já foram doadas mais de 880 toneladas de alimentos.
“Todo o município será abraçado com as cestas, pois há muitas demandas de pessoas em situação de vulnerabilidade. Na pandemia, aumentou muito a situação, pois o auxílio emergencial não chegou para todos. Com o aumento do custo de vida das pessoas, ele foi insignificante, por isso a importância dessa doação que o movimento está fazendo”, afirmou Aysslan José Estácio Alves, Coordenador do CRAS de Paula Freitas.
Partilhar para celebrar
Para a dona Geny das Graças Pontes, moradora do acampamento Reduto de Caraguatá, o sentimento é de realização por celebrar o aniversário da comunidade com a partilha. Ela e o coletivo da comunidade fizeram a colheita dos alimentos que foram nas cestas.
“Aqui a gente não passa fome. É uma alegria saber que esse alimento vai ser a comida no prato de alguém que não tem, é um alívio no coração, porque não é doação apenas de comida, é de amor e de esperança”, declarou a agricultora.
Geny das Graças (no centro) e Ayslann José (à direita): entrega simbólica da comunidade para o CRAS de Paula Freitas / Foto: Juliana Barbosa
Reduto de Caraguatá: herdeiros de uma luta histórica
A região onde hoje está a comunidade fez parte do grande território afetado pela Guerra do Contestado, o maior confronto civil-militar ocorrido entre o Paraná e Santa Catarina no século passado. No conflito, o governo federal e os dois estados usaram de suas forças militares para expulsar posseiros, caboclos e pequenos agricultores. Estima-se que 25 mil camponeses foram mortos durante quatro anos de guerra.
O nome do acampamento de Paula Freitas homenageia o Reduto de Caraguatá, uma das “cidades santas” formadas pelos camponeses para resistir e enfrentar as tropas dos governos. O Reduto ficava no interior do atual município de Lebon Régis, em Santa Catarina, e teve como maior líder espiritual e militar a jovem Maria Rosa – também homenageada pelo MST em uma comunidade de Castro (PR).
Comunidade está localizada em território afetado pela Guerra do Contestado / Foto: Juliana Barbosa
Em pesquisa feita pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), as famílias da comunidade receberam um título por, desde a ocupação, preservarem o meio ambiente e as araucárias, símbolo do município e do estado.
Rodrigo Athayd, morador do acampamento, enfatizou o papel essencial do MST no cuidado com a natureza. “Por isso a importância da gente dar continuidade nessa luta com o Movimento Sem Terra e reforçar a agricultura familiar, a preservação ambiental e autonomia alimentar. O MST se coloca herdeiro dessa luta histórica”, completou.
Acampamento Reduto de Caraguatá, em Paula Freitas (PR), luta há 17 anos pela Reforma Agrária / Fotos: Juliana Barbosa
O último dia 17 de fevereiro foi de muita celebração para as 36 famílias camponesas com almoço comunitário e bolo. Depois de tantos anos de luta, trabalho e esforço, agora podem produzir e partilhar os frutos da terra conquistada.
"É um sentimento de orgulho. Primeiro porque estamos fazendo o que está na Constituição, que é a terra ter sua função social. Essa é sua função, produzir a comida que alimenta hoje as famílias do acampamento, mas também as da cidade. Esse é o legado do MST", finalizou Luiz Carlos Rocha, conhecido como Rochinha, integrante da coordenação da comunidade.
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