A província de Corrientes, no norte da Argentina, está sofrendo com um incêndio incontrolável que já dura três semanas. Com as chuvas e o trabalho de brigadistas de diversas províncias – e também da população que tenta ajudar a controlar o fogo –, houve uma diminuição de 30% das chamas. No entanto, ainda há 12 focos ativos na província.
Nesta quarta-feira (23), o governador de Corrientes, Gustavo Valdés, foi convocado a dar declarações, no Senado, à Comissão do Meio Ambiente. "95% dos incêndios florestais que se desatam na Argentina são por ação humana", afirmou, alegando que a situação "é complexa".
"Ainda restam muitos focos a combater", disse na reunião. "Estamos conseguindo controlar o avanço dos focos ativos graças ao trabalho de 3 mil pessoas mobilizadas", declarou. Ele também destacou o controle do avanço do fogo no Parque Nacional dos Esteros del Iberá, principal zona pantanosa do país que já tem afetado 15% de sua extensão. "O Iberá vai ressurgir graças ao apoio de todos".
O cenário não soa tão otimista. O último relatório da Estação Experimental Corrientes do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA) revela que pelo menos 800 mil hectares foram afetados pelo fogo, quase 10% do território total da província.
Nas últimas semanas, imagens mostravam animais tentando fugir dos locais incendiados, como capivaras, tamanduás e jacarés. Grupos de veterinários em outras províncias articularam pedido de ajuda para coletar material para atender os animais feridos.
O embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, anunciou o reforço de bombeiros e equipamentos do Rio Grande do Sul para ajudar a combater os incêndios em Corrientes. O governador Valdés também solicitou ajuda aos Estados Unidos por meio do embaixador estadunidense na Argentina, Marc Stanley.
Novo relatório da ONU: aumento de "incêndios extremos"
A Organização das Nações Unidas (ONU) lançou o relatório “Se espalhando como fogo: a crescente ameaça dos extraordinários incêndios florestais”, em que chama a atenção para o aumento alarmante de "incêndios extremos" e estima que, até o ano de 2100, os incêndios florestais aumentarão em 50%.
Esse aumento, segundo o relatório, pode afetar territórios até então livres de incêndios florestais, como o Ártico.
A diretora-executiva do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma), Inger Andersen, destacou que os governos estão investindo em combate ao fogo, quando deveriam minimizar os riscos. Nesse sentido, o relatório apresenta uma "Fórmula Pronta para o Fogo", que propõe dois terços de investimento em planejamento, prevenção e recuperação e um terço para esforços de combate ao fogo.
O caso de Corrientes ilustra essa má gestão dos recursos ambientais para o controle do fogo. Na semana passada, o chefe dos Bombeiros de Santa Rosa, Arnold Servín, declarou ao jornal Tiempo Argentino: "Essa seca era prevista desde abril-maio, e a Direção de Recursos Florestais brilhou por sua ausência. Agora nos exigem como se fôssemos empregados da província, não somos brigadistas", criticou.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
