O Fórum da Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, nesta quarta-feira (2), uma resolução contra a ofensiva militar russa na Ucrânia. Foram 141 votos a favor, 5 contra e 35 abstenções. O Brasil se alinhou à maioria e também votou a favor. Leia a íntegra do documento (em inglês).
Os países que votaram contra o texto foram Rússia, Belarus, Síria, Coreia do Norte e Eritreia. A China se absteve. A resolução deixou de "condenar", como estava prevista versão inicial do texto, para "deplorar nos mais fortes termos" o que chama de "agressão" russa.
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A Rússia contestou o teor da resolução e disse que sua invasão ocorre em "legítima defesa". "Não foi a Rússia que iniciou esta guerra. Essas operações militares foram iniciadas pela Ucrânia contra os habitantes de Donbass (a região separatista no leste do país) e contra todos aqueles que não concordavam com ela", afirmou o embaixador russo Vassily Nebenzia.
O Brasil votou a favor da resolução, mas fez ressalvas. "A resolução é um apelo à paz da comunidade internacional. Mas a paz exige mais do que o silêncio das armas e a retirada das tropas. O caminho para a paz requer um trabalho abrangente sobre as preocupações de segurança das partes", disse o embaixador brasileiro Ronaldo Costa Filho.
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Cerco em Kiev
No sétimo dia do conflito na Ucrânia, nesta quarta-feira (2) os militares russos buscam capturar alvos chave e os bombardeios prosseguem nas duas maiores cidades do país: a capital, Kiev, e Kharkiv.
Há relatos também de que a cidade portuária de Kherson, no sul, foi tomada, embora autoridades ucranianas digam que seguem resistindo.
A captura de Kherson é importante para o estabelecimento de uma rota naval para os militares russos. Há relatos feitos por correspondentes internacionais de que a cidade de Mariupol, no sul do país, também está cercada por tropas russas.
Ataques em Kharkiv
Em Kharkiv, de acordo com o governo local, bombardeios russos mataram pelo menos 21 pessoas e feriram mais de 100 apenas, nas últimas 24 horas. Durante a madrugada, uma explosão foi registrada na sede do distrito policial da cidade, que é a segunda maior do país.
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O prefeito de Kharkiv, Ihor Terekhov, disse que a cidade não vai se render às forças russas, e que os seus inimigos estariam atacando bairros residenciais.
Tomada de Kherson?
O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov, disse, em declarações transmitidas pela televisão que "divisões russas das forças armadas assumiram o controle total do centro regional de Kherson".
"As negociações continuam com o comando russo e a administração local para resolver questões relacionadas à operação das instalações de infraestrutura social, bem como para garantir a ordem e a segurança da população", afirmou.
O lado ucraniano, contudo, nega. Oleksiy Arestovych, um assessor do presidente Volodymyr Zelensky, afirmou que os russos não haviam capturado a cidade, e que ainda há luta nas ruas de Kherson e também no porto. "A cidade não caiu, nosso lado continua a defendê-la", disse.
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Negociação?
Uma segunda rodada de negociações entre diplomatas da Rússia e da Ucrânia pode acontecer nesta quarta-feira (2). A informação é da agência de notícias russa Tass.
A agência citou um assessor do presidente Volodymyr Zelensky, Oleksiy Arestovych, que teria confirmado a retomada das negociações. Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, havia dito mais cedo que o país dele está pronto para negociar com a Rússia. Já Moscou teria dito que não está claro se os ucranianos vão aparecer para a rodada de conversas.
Entenda o conflito
Desde o final de 2021, tropas russas passaram a se concentrar nas proximidades da Ucrânia e o Ocidente enviou armas para os ucranianos. O conflito tem como pano de fundo os limites da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar composta por membros alinhados aos EUA, em direção à fronteira russa e o mercado de energia na Europa.
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Outro elemento central é o fracasso dos Acordos de Minsk, assinados em 2014 e 2015 como uma tentativa de construir um cessar-fogo para a guerra civil na Ucrânia. A ferramenta diplomática previa condições de autonomia para áreas separaristas de Donetsk e Lugansk e a retirada de armas da região em que tropas ucranianas enfrentavam os rebeldes.
O governo de Kiev se recusava a cumprir a parte política prevista pelos acordos, já que isso poderia causar uma fratura em sua soberania.
A Rússia invadiu a Ucrânia no dia 24 de fevereiro sob a justificativa de “desmilitarizar e desnazificar" o país vizinho. Desde então, União Europeia e Estados Unidos anunciaram sanções como resposta e também fornecem armas aos ucranianos.
Mais de 500 mil refugiados já tiveram que deixar a Ucrânia em decorrência do conflito, afirma Organização das Nações Unidas (ONU).
Edição: Rodrigo Durão Coelho