mamãe falei

Uneafro pede que MP-SP investigue Arthur do Val por declarações misóginas e turismo sexual

Solicitação também cita declarações do deputado e membro do MBL Kim Kataguiri sobre legalização de partido nazista

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ao retorna ao Brasil, neste sábado (5), Arthur do Val assumiu autoria dos áudios e afirmou que "foi um erro" - Reprodução

A organização Uneafro solicitou ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP) que investigue o deputado estadual Arthur do Val (Podemos-SP), conhecido como Mamãe Falei, por declarações consideradas misóginas e pela suposta prática de turismo sexual.

A denúncia se baseia em áudios vazados em que o parlamentar afirma que as mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres" e que "a fila da melhor balada do Brasil não chega aos pés da fila de refugiadas" na Ucrânia.

Arthur do Val estava no país europeu, segundo ele, para apoiar o exército ucraniano. Ele desembarcou no Brasil neste sábado (5) e confirmou autoria dos áudios. (Confira mais trechos dos áudios no final da matéria)

Nazismo

No pedido da Uneafro, é citado também uma suposta associação entre integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) e grupos de extrema direita da Ucrânia responsáveis pela propagação de ideologia nazista

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O pedido, direcionado à Promotoria do Núcleo de Direitos Humanos do MP-SP, cita trecho da entrevista do deputado federal Kim Kataguiri (Podemos) ao youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, no podcast Flow. No dia 7 de fevereiro, o parlamentar afirmou que “foi um erro a Alemanha ter criminalizado o partido nazista”.  

Após o caso repercutir nacionalmente, Kim Kataguiri fez uma publicação nas redes sociais afirmando que errou e pedindo desculpa à comunidade judaica. "Eu errei e a comunidade judaica tem razão de me criticar por eu ter dito esse absurdo", afirmou o parlamentar à época 

Em entrevista ao Brasil de Fato, o professor e ativista político Douglas Belchior, coordenador da Uneafro Brasil e integrante da Coalizão Negra por Direitos, acrescenta uma publicação nas redes sociais do deputado estadual Arthur do Val durante à viagem ao país europeu.

Na imagem, ele aparece ao lado de centenas de coquetéis molotov, dispositivo incendiário caseiro utilizado no conflito com a Rússia. Na publicação, Arthur do Val afirma estar ajudando o exército ucraniano.

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"Contudo, não há declaração oficial do Governo Ucraniano em relação ao recrutamento de estrangeiros para a produção das bombas caseiras. A mera aparição do deputado ao lado de bombas caseiras, deve ser investigada, haja vista a tensão política que tem regido o nosso país", diz a solicitação de Belchior. 

"Pela gravidade do exposto, verifica-se que os fatos ensejam séria investigação por parte do Ministério Público de São Paulo, por meio da instauração de inquérito e todos os demais meios que possibilitem a atuação no caso", encerra o documento. 

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Procurado pelo Brasil de Fato, o MBL criticou o ofício da Uneafro. "A representação não passa de um delírio oportunista que tenta criar conexões inexistentes. Trata-se de uma ação puramente publicitária, com a plena ciência de que não existem fundamentos para se chegar a algum resultado jurídico, mas apenas midiatico."

Misoginia em meio a tragédia humanitária   

Em arquivos de áudio obtidos pelo Brasil de Fato, Arthur do Val afirma que mulheres ucranianas são "fáceis, porque são pobres", entre outros comentários misóginos e machistas. 

“São fáceis, porque elas são pobres. E, aqui, minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas minas, em dois grupos de mina. É inacreditável a facilidade. Essas minas, em São Paulo, você dá bom dia e ela ia cuspir na sua cara. E aqui são super simpáticas".

Na fronteira com a Eslováquia, o autor do áudio compara a fila de refugiados ucranianos - que somam mais de 1 milhão, segundo a ONU - com a "fila da melhor balada do Brasil".

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"Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de mina bonita. A fila das refugiadas, irmão... Imagina uma fila de, sei lá, de 200 metros ou mais, só deusa. Sem noção, inacreditável, é um bagulho fora de série. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui", diz o áudio. 

"Passei agora quatro barreiras alfandegárias, duas casinhas pra cada país. Eu contei, são doze policiais deusas. Que você casa e faz tudo que ela quiser. Eu estou mal cara, não tenho nem palavras para expressar. Quatro dessas eram 'minas' que você se ela cagar você limpa o c* dela com a língua. Assim que essa guerra passar eu vou voltar para cá", continuam as declarações. 

Arthur do Val voltou da Ucrânia na manhã deste sábado (5). Ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos, entrevistado por jornalista, o deputado confirmou que os áudios são de sua autoria. Afirmou também que "foi um erro".

"Não é isso o que eu penso. O que eu falei foi um erro num momento de empolgação. Se as pessoas quiserem me julgar pelo meu áudio, acho que as pessoas têm esse direito. Só peço que as pessoas entendam o contexto" afirmou o deputado.

Repercussão

Ainda na sexta-feira (4), horas após o vazamento dos áudios, o Podemos publicou uma nota em que afirma a instauração de um "procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos". Ainda no comunicado, o partido afirma "que repudia com veemência as declarações"

Pelas redes sociais, presidenta do Podemos, a deputada Renata Abreu, criticou as declarações do colega de legenda, classificando-as como "gravíssimas e inaceitáveis" 

Edição: Lucas Weber