Neste 2022, o Dia Internacional da Mulher abre o calendário de mobilizações de um ano que já se apresenta cheio de desafios - com as crises econômica, humanitária e sanitária em curso -, e marcado pelas eleições gerais no Brasil. As mulheres ocupam as trincheiras e, neste dia 8, saem em marcha em todo o país cobrando políticas públicas, ações de combate à violência e a derrota nas urnas do presidente Jair Bolsonaro (PL).
:: Atos do 8M acontecem em todas as regiões do país nesta terça; confira ::
No Recife, a concentração do ato está marcada para as 16h, no Parque Treze de Maio, no bairro de Santo Amaro, área central da capital. A articulação, no entanto, é nacional: 50 movimentos populares e entidades políticas assinam o manifesto “Pela vida das mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome” e organizam, por meio de suas expressões locais, protestos em todo o país.
Como anuncia o nome do documento, os pleitos do 8 de março são amplos e contemplam demandas diversas da população. A militante Elisa Maria, da coordenação estadual e do Núcleo Soledad da Marcha Mundial das Mulheres, coloca que a pauta é “mudar o mundo e a vida das mulheres ao mesmo tempo”. “No fim das contas, é uma pauta de libertação de todo povo trabalhador”, resume.
Leia mais: Protesto do Dia Internacional das Mulheres será de resistência democrática contra Bolsonaro
Aumento da fome
É nesse sentido que o fim do governo Bolsonaro aparece como destaque entre as reivindicações. “Estamos denunciando as escolhas políticas que deixaram nosso povo na miséria, à mercê do desemprego e da fome. A alta no preço dos alimentos, da gasolina - outras medidas econômicas poderiam ter sido adotadas para que a crise não recaísse sobre o bolso e a sobrevivência do nosso povo. Não à toa o Brasil volta ao mapa da fome, isso é fruto das escolhas do governo que segue privilegiando o agronegócio em detrimento da agricultura familiar, que é de fato quem produz comida para o povo”, defende Elisa.
Tudo isso, somado à agenda conservadora que acompanha a política de Bolsonaro, fere as mulheres de maneira específica. “O bolsonarismo fala em revolução cultural que, de concreto, é baseada no patriarcado, no que há de mais atrasado e que a gente vinha superando. É um debate de uma parcela da sociedade que se viu incomodada com a perda de privilégios a partir da melhora da vida nos governos progressistas, que movimentaram muitas peças da estrutura racista e machista”, comenta.
O resultado disso tem sido o retrocesso da política de direitos das mulheres, que começou com o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) e se agravou ao longo dos últimos três anos, como avalia Lau Domingos, presidente da União Brasileira de Mulheres (UBM). A condução da agenda econômica da forma que está em curso não confere nenhum respaldo às mulheres, que correspondem a 70% da população mundial que passa fome, segundo dados da ONU de 2016.
“A crise já gerou 200 milhões de desempregados e desempregadas, e as mulheres são as maiores vítimas. São as primeiras a serem demitidas, pela posição de cuidado que ocupam; por engravidarem; por menstruarem. Do ponto de vista de agenda pública, ainda temos uma Emenda Constitucional [nº 95] que congelou por 20 anos os gastos com saúde, educação e outras áreas sociais, o que tem piorado muito a vida das mulheres”, diz Lau.
Por isso, para ela, urge que mulheres e famílias sejam prioridade na retomada do projeto nacional de desenvolvimento: "Bolsonaro, quando entra na Presidência da República, assume políticas de reafirmação de uma agenda econômica que tem reduzido os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Ampliar a proteção social é prioridade na agenda do 8 março.”
Leia também: Mulheres do MST fazem atos contra multinacionais do agronegócio em início de semana de luta
Neste quadro de desemprego, violência, aumento da população de rua e empobrecimento, a pior parte fica para as mulheres negras, afirma Lau. “Quando formos tratar de autonomia financeira, enfrentamento à violência, reforço das políticas públicas básicas, a exemplo da creche, as mulheres pretas precisam estar como prioridades, porque, na atual conjuntura que o país vive, elas, que foram as primeiras trabalhadoras do país, são as maiores vítimas”, pontua.
Combate à violência
Dados os números alarmantes de violência de gênero, os feminicídios e transfeminicídios também não ficam de fora do debate promovido neste 8 de março. “A violência contra mulher é estrutural e está no conjunto do sistema capitalista - um sistema de opressão, restrição e assassinato”, coloca Lau.
Leia aqui: Em Minas, 8 de março será marcado por protestos de rua e ações simbólicas
O Brasil é o quarto país que mais mata mulheres cis e o primeiro que mais mata mulheres trans e travestis, lembra Maria Daniela Mendonça, articuladora política da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans/PE). Por isso, a transfobia também entra na pauta deste Dia Internacional da Mulher.
“O ano passado foi bastante sangrento para nossa população, houve uma onda crescente de transfeminicídio e Pernambuco saltou de sétimo estado mais letal para trans e travestis para quinto. E 2022 começou de forma absurda: em 40 dias, tivemos 4 transfeminicídios em Pernambuco. O movimento feminista de Pernambuco entende que existe um alerta em cima das mulheres trans e travestis, principalmente por conta dessa matança desenfreada”, comenta Daniela.
Mulheres e Mundo do Trabalho
A luta feminista por emancipação passa também pela questão trabalhista, uma das causas que vêm à tona no 8 de março. Liana Araujo, secretária da Mulher Trabalhadora da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Pernambuco, destaca que a implementação de políticas públicas, como a abertura de mais creches, beneficiariam as relações de trabalho em que as mulheres estão inseridas.
“Uma bandeira que se coloca é a igualdade de oportunidades na vida e no trabalho. Há muita diferença nos contratos de trabalho entre homens e mulheres, mesmo quando são executadas as mesmas atribuições, elas recebem menos. Estamos nos postos mais precarizados e menos valorizados, portanto, com o menor salário, apesar de, comprovadamente, as mulheres terem mais escolaridade. Na injusta divisão sexual do trabalho, nós ainda somamos o trabalho doméstico e de cuidados”, elenca.
Cidades e horários de concentração e outras atividades
Não é só o dia 8 que é dedicado à luta feminista. As entidades estão organizando um calendário de programações descentralizadas durante todo o mês de março nos territórios da Região Metropolitana do Recife (RMR) e no interior de Pernambuco. Os municípios de Caruaru e Garanhuns, no agreste do estado, e Afogados da Ingazeira, no sertão, têm atos planejados para a ocasião.
Confira os locais e horários de concentração
Cabo de Santo Agostinho - 15h, em frente à Praça da Estação, no Centro
Garanhuns - 08h, na Frente Luminosa
Já na capital, algumas das localidades contempladas são Passarinho, na Zona Norte, Coque, no Centro, e Ibura, na Zona Sul. Sheila Samico, da coordenação estadual e do Núcleo Recife da Marcha Mundial das Mulheres, explica que essa agenda será composta por atividades formativas sobre assuntos variados - como violência e agroecologia -, e que serão abertas ao público. “É importante trabalhar o território, mas não isolado. Com as trocas de experiência, elas se fortalecem”, afirma. Quem deseja saber mais informações deve acessar a conta no Instagram @8mrecife.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga