Criação de programas públicos podem melhorar a sobrevivência dessas crianças, defende Fiocruz
Crianças nascidas com a Síndrome Congênita causada pelo Zika vírus têm 11 vezes mais risco de morrer nos primeiros três anos de vida do que outras crianças.
O dado faz parte de um estudo da Plataforma de Vigilância de Longo Prazo para Zika e suas Consequências, realizado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da Bahia.
A pesquisa também mostra que o risco de morrer aumenta até os três anos. Até os primeiros 28 dias de vida, o risco é sete vezes maior.
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Para a professora Enny Paixão, autora do estudo, os dados apontam para a importância da criação de programas públicos para melhorar a sobrevivência dessas crianças. De 11 milhões de crianças que nasceram entre 2015 e 2018 no Brasil, 308 foram diagnosticados com a síndrome.
Entre as principais causas de morte de crianças com Síndrome Congênita da Zika, estão anomalias congênitas e doenças infecciosas e parasitárias.
Após um ano de idade, os óbitos decorrentes de doenças relacionadas ao sistema nervoso central aumentam em comparação às crianças sem a síndrome.
“Essas crianças têm disfagia, a dificuldade de deglutição. Durante a alimentação, é muito fácil que o alimento acabe parando na via errada e vá para o pulmão. Isso pode levar a criança a óbito. Muitas delas também têm epilepsia. Um estudo do Recife mostrou que 60% dessas crianças têm ataques epiléticos recorrentes, isso pode também levar a óbito”, explica Paixão.
“Essas crianças têm uma série de comprometimentos que fazem com que elas tenham uma sobrevida, uma chance de sobrevivência muito menor do que as crianças sem a síndrome.”
A plataforma
A Plataforma Zika - Plataforma de vigilância de longo prazo para a Zika e suas consequências tem como objetivo o desenvolvimento do conhecimento científico acerca da doença para dar apoio à elaboração e adoção de políticas públicas na saúde para o enfrentamento da tríplice epidemia causada pelos vírus Zika, Dengue e Chikungunya.
Para isso, a plataforma acompanha o registro de crianças nascidas no Brasil por um período de 30 anos, analisando dados como morbidade e mortalidade.
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De acordo com a Fiocruz, a plataforma está estruturada em “estudos epidemiológicos; prospecção de pesquisas; desenvolvimento de redes de colaboração entre a sociedade, instituições científicas e tecnológicas; procedimentos de segurança, privacidade e curadoria dos dados; e preceitos de ciência e dados abertos”.
No total, colaboram com a plataforma cerca de 40 pesquisadores oriundos da Fiocruz do Rio de Janeiro, Brasília e Bahia, da Universidade Federal da Bahia, da Universidade de Brasília e da London School of Hygiene & Tropical Medicine.
Edição: Vivian Virissimo