A guerra entre Rússia e Ucrânia chega ao 15º dia e a resolução do conflito ainda parece distante. Nesta quinta-feira (10), terminou sem acordos a primeira reunião entre os ministros de Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, e ucraniano, Dmytro Kuleba. O enontro em Antalya, Turquia, foi um pedido da parte ucraniana que propunha um cessar-fogo de 24h em Mariupol, sul do país.
“Vim aqui com um propósito humanitário, sair da reunião com a decisão de organizar um corredor humanitário de e para Mariupol”, disse o ministro ucraniano.
A cidade portuária de Mariupol está sob bombardeio há mais de uma semana e, segundo o governo ucraniano, não houve possibilidade de ativar corredores humanitários para evacuar a zona.
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A organização Médicos Sem Fronteiras classificou a situação como uma "catástrofe humanitária", afirmando em comunicado, que a cidade não possui água potável, eletricidade ou serviços de telefonia e internet.
O chanceler russo afirmou que seu país apresentou propostas concretas e espera manter o diálogo "de maneira séria" com a Ucrânia e que a discussão sobre um cessar-fogo nunca foi uma possibilidade.
"Não estou surpreso que Kuleba tenha dito que não era possível concordar com um cessar-fogo. Aqui ninguém pretendia discutir um cessar-fogo", disse Lavrov.
Respondendo à pergunta se a Rússia planeja atacar outros países, o ministro russo disse: "Não planejamos atacar outros países, e a Ucrânia nós não atacamos". "Mas simplesmente explicamos à Ucrânia muitas vezes que surgiu uma situação que cria ameaças diretas à segurança da Federação Russa. Apesar de nossos muitos anos de lembretes, exortações, telefonemas, ninguém nos ouviu", disse Lavrov.
Lavrov ainda disse que é perigosa a maneira como o Ocidente está atuando, "enviando suprimentos de armas letais à Ucrânia, como sistemas de defesa aérea portáteis".
Sobre a acusação de que o exército russo teria bombardeado um hospital infantil em Mariupol, o chanceler russo disse que no dia 7 de março a Rússia apresentou provas na sessão do Conselho de Segurança da ONU de que esse edifício estava sob controle do grupo paramilitar neonazista ucraniano Batalhão de Azov.
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Entre as exigências de Moscou para acabar com a guerra estão o reconhecimento das regiões separatistas de Donetsk e Lugansk como repúblicas independentes; assim como da Crimeia como território russo; e a garantia de que Ucrânia não entrará na Otan, nem na União Europeia.
A última rodada de negociações aconteceu em Belarus na segunda-feira (7) e terminou com o acordo de estabelecer corredores humanitários para evacuar as zonas quentes do conflito, e a promessa de um novo encontro próximo.
Segundo as Nações Unidas, há um total de 516 civis mortos e 908 feridos. Para a Agência de Refugiados da ONU (Acnur), mais de 2,3 milhões de refugiados ucranianos já deixaram o país.
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Mais tensões
Nesta quinta entra em vigor uma lei aprovada na última quarta-feira (9) pelo presidente Volodymyr Zelenski que autoriza civis ucranianos e estrangeiros a armar-se para enfrentar o exército russo.
A legislação teria vigência "mais tardar até 10 dias após o fim da guerra", quando as armas e munições nas mãos de civis deveriam ser entregues novamente aos militares ucranianos.
Em resposta, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que se alguém ataca um soldado russo, ele será "obrigado a devolver fogo".
Armas biológicas
Após denunciar a existência de laboratórios de desenvolvimento de armas biológicas, a Rússia afirma que Kiev e Washington planejavam um ataque para 2022.
Segundo porta-voz do ministério de Defesa, Igor Konashénkov, documentos encontrados revelam que a Ucrânia e os EUA estudavam a possibilidade de transmitir gripe suína ou antrax através de aves, morcegos e répteis.
Na última quarta-feira (9), a subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, que disse ver com "preocupação" o controle russo das instalações de investigação biológica no território ucraniano.
Entenda o conflito
Desde o final de 2021, tropas russas passaram a se concentrar nas proximidades da Ucrânia, e o Ocidente enviou armas para os ucranianos. O conflito tem como pano de fundo o mercado de energia na Europa e os limites da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar composta por membros alinhados aos Estados Unidos, em direção à fronteira russa.
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Outro elemento central é o fracasso dos Acordos de Minsk, assinados em 2014 e 2015 como uma tentativa de construir um cessar-fogo para a guerra civil na Ucrânia. A ferramenta diplomática previa condições de autonomia para áreas separatistas de Donetsk e Lugansk e a retirada de armas da região em que tropas ucranianas enfrentavam os rebeldes.
O governo de Kiev se recusava a cumprir a parte política prevista pelos acordos, já que isso poderia causar uma fratura em sua soberania.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro sob a justificativa de “desmilitarizar e desnazificar" o país vizinho. Desde então, União Europeia e Estados Unidos anunciaram sanções como resposta e também fornecem armas aos ucranianos.
Edição: Thales Schmidt