Na pandemia e na crise econômica, as mulheres foram as mais afetadas pelo desemprego, a miséria e a vulnerabilidade. Outro agravante foi a dificuldade de acesso e a permanência na moradia num momento que o mundo solicitava às pessoas ficarem em casa. Em grande parte dos lares em situação de pobreza, as mulheres são as responsáveis pela família. Em Curitiba, em comunidades periféricas e ocupações, foram elas que se destacaram na luta pela sobrevivência e por moradia digna.
:: Ocupação é inaugurada no Rio de Janeiro para organizar mulheres em situação de vulnerabilidade ::
Dentre os arranjos familiares, os formados por mulheres, sem cônjuges e com filhos menores de 14 anos representam a maior concentração de pobreza extrema. Esses arranjos compreendem 54% do total da população, aqueles chefiados por mulheres pretas e pardas, 63%, e os chefiados por mulheres brancas, 39,6%.
Foram, em grande parte, desde o início da pandemia, as mulheres que tiveram de abandonar ou perderam seus empregos e ficaram com os filhos em casa. Com o aumento do desemprego, a alta dos alimentos e a diminuição no valor do auxílio emergencial em 2021, diversas famílias perderam suas moradias e passaram a viver em ruas ou ocupações.
Mulheres na luta por moradia
A realidade nas ocupações urbanas em regiões periféricas de Curitiba reflete o quanto o impacto desse atual contexto foi maior na vida das mulheres, mas que as levou à luta, também.
Fernanda Cordeiro, coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) no Paraná e uma das lideranças da Comunidade Marielle Franco, no bairro Tatuquara, destaca que já existia uma situação muito difícil em relação à falta de políticas públicas para moradia, que se agravou ainda mais na pandemia.
:: Guardas civis invadem Centro de Referência para mulheres e ameaçam ocupação em Mauá (SP) ::
“Muitas mulheres novas chegaram à ocupação por problemas de miséria agravados pela pandemia. E outro tema que nos amedronta são as constantes ameaças de despejo e a falta de políticas e diálogo do poder público. Então, não tem saída, a gente precisa se manter unidas”, explica.
Fernanda cita que as mulheres têm protagonizado a liderança e solidariedade nas comunidades. “Temos aqui o projeto da Cozinha Solidária, que reúne as mulheres para preparar marmitas, o que tem dado um alento às famílias que tem sofrido pela extrema miséria e o medo de ficar sem ter onde morar”, acrescenta.
Rosangela de Almeida, liderança de outra comunidade em Curitiba, a Nova Guaporé, no Campo Comprido, também integra a Cozinha Comunitária e cuida de crianças para que as mães possam trabalhar. “Fiquei sem emprego, então ajudo na cozinha nas quintas-feiras e nos outros dias cuido dos filhos das mães que precisam sair para médico, fazer uns bicos”, diz.
Para ela, o que mais afetou as mulheres na comunidade, além do desemprego, são as condições precárias de moradia: “Aqui o desemprego pegou muito, e então a gente tenta se ajudar. Mas tem problemas de vida diária mesmo, que tem a ver com o descaso dos governantes. Quando chove aqui vira tudo lama dentro das casas e na rua. Outro problema é que não chega iluminação para gente, e aí é tudo “fio de gato”.
De acordo com Rosangela, toda hora aparece fogo, incendeia os fios, e são as mulheres que ficam na comunidade que precisam resolver.
Existente desde outubro, a Nova Guaporé recebeu, em dezembro de 2021, mais de 300 famílias que foram despejadas, em plena pandemia de outra ocupação ali perto, na Cidade Industrial.
Segundo dados da campanha Despejo Zero, que reúne mais de 40 organizações sociais e movimentos populares, no último ano, mais de 9 mil famílias sofreram com ações de despejos pelo país, sendo que outras 64 mil seguem correndo risco de perder seus lares.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Frédi Vasconcelos