Depois, iríamos para a bela cidade de Goiás, onde eu entrevistaria Cora Coralina
Espírito de geógrafo é uma coisa danada!
Enquanto as pessoas “normais” vão passar férias em cidades praianas e outros lugares turísticos, a gente procura conhecer de verdade o Brasil.
Não deixamos de ir a lugares turísticos, mas muitas vezes nos enfiamos onde normalmente quase ninguém vai. Numa dessas viagens de férias, meu amigo Marinho e eu circulamos pelo norte de Goiás, conhecendo cidades que nunca recebiam turistas.
De lá, seguiríamos para Goiânia. Depois, iríamos para a bela cidade de Goiás, onde eu entrevistaria uma doceira idosa que tinha publicado seu primeiro livro de poesias, Cora Coralina.
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Em Goiânia, nos hospedamos numa espelunca, ao lado de um bar bem caído, mas em que a garçonete era uma moça bonita, a Aninha.
Por causa dela, o Marinho não saía do boteco, e tanto fez que ela cedeu aos seus poucos encantos. Começaram a namorar e o Marinho não saía mais do bar.
Logo depois do café da manhã, ele ia para o boteco. Como tinha muito pouco movimento, eles ficavam naquele paparico quase o tempo todo. O bar tinha um rádio que ficava ligado o dia inteiro e, quando tocava uma música legal, os dois dançavam animados.
E como ele estavam muito alegres, achavam todas as músicas ótimas. Eu ficava um pouco no bar, mas saía bastante, voltava, e ele estava lá, bebendo e dançando.
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Querendo continuar a viagem, um dia dei um ultimato:
— Se você quiser, fique aí. Eu sigo pra Goiás amanhã. Já vi até os horários de ônibus.
Falei isso e fui passear. Voltei no início da noite, e os dois dançavam, dançavam... Ela estava com um vestido tomara-que-caia. Os ombros ficavam expostos, e o Marinho, dançando, quase babava neles.
Quase babava... e vomitou. Isso mesmo. Tinha comido alguma coisa e bebido bastante. Não deu tempo pra nada. Vomitou no ombro da Aninha. Vi aquilo descendo pelo peito e pelas costas da moça e fiquei alegre, pensando que ela lhe daria um fora e ele não teria mais o que fazer ali. Eu teria companhia para continuar a viagem.
A Aninha pegou um pano de prato, limpou os ombros e as costas, rindo sem parar... e continuaram a dançar.
— Não tem jeito... Vou viajar sozinho — falei baixinho, e saí, não para o hotel, mas para outro bar, sempre cheio de estudantes, onde já tinha paquerado belas moças em noites anteriores.
*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos.
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
Edição: Douglas Matos