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Campanha Mãos Solidárias fortalece atuação em Pernambuco com nova formação de agentes populares

Implementação de novo curso foi garantida com a conquista por meio de voto popular de emenda parlamentar

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Quase 4,5 mil pessoas votaram para que o projeto de formação de Agentes Populares fosse contemplado com o valor de R$ 1 milhão - Comunicação do Mãos Solidarias

Depois de criar quatro cozinhas solidárias, 33 bancos populares de alimentos, 10 hortas comunitárias e de capacitar mais de mil pessoas em 34 cidades de Pernambuco, a campanha Mãos Solidárias dá início a uma nova fase de formação de agentes populares, em Pernambuco, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz Pernambuco - Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz-IAM).

No último dia 24, foi lançada a iniciativa para aprofundar a formação de 50 agentes. Eles vão se tornar multiplicadores e consolidar a atuação da Campanha na Região Metropolitana do Recife (RMR), garantindo a permanência do projeto. 

A realização do novo curso será possível graças à conquista, por meio de voto popular, em novembro do ano passado, de aporte de emenda parlamentar do mandato do deputado federal Túlio Gadêlha (Rede). Quase 4,5 mil pessoas votaram para que o projeto, inscrito pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fosse contemplado com o valor de R$ 1 milhão.

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Lívia Mello, coordenadora político-pedagógica da Brigada de Saúde do Mãos Solidárias e Periferia Viva, classifica que a emenda foi uma vitória fundamental. “Ela chega em bom momento para que a gente tenha fôlego de continuar as ações emergenciais, que caminham no sentido de avançar para uma organização de mulheres, em especial mulheres negras e periféricas, que estão na linha de frente dos territórios urbanos da RMR e também do campo”, afirma.

Ela relembra que o Mãos Solidárias nasceu, em 2020, no contexto da chegada do coronavírus ao Brasil, momento em que a solidariedade da sociedade civil estava muito aguçada. “Ao longo do tempo, a pandemia vai sendo controlada, mas os problemas que ela gerou - e que já são históricos e conjunturais desse Governo Bolsonaro -, principalmente o problema da fome, se agrava de forma muito intensa, ao mesmo tempo que esse apoio da sociedade civil reduz”, diz.

O financiamento vai viabilizar um novo projeto de extensão, para ajudar a estruturar as cozinhas populares, as ações de comunicação e de saúde, e permitir a formação contínua desses agentes, afirma Lívia. Tudo isso se relaciona com a proposta inicial do processo de formação, que surgiu, também em 2020, com o objetivo de desenvolver territórios mais saudáveis. 

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Nessa perspectiva, os cursos, aplicados e certificados pela Fiocruz, qualificaram os agentes na atuação em três frentes: alimentação, comunicação e formação de lideranças, explica uma das coordenadoras da iniciativa, a médica Paulette Cavalcanti, pesquisadora do departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz em Pernambuco. 

“O agente é uma pessoa da comunidade engajada politicamente na defesa dos direitos sociais das comunidades em que atua, também com a formulação de grupos e brigadas de trabalho para a garantia desses direitos”, define ela. 


A formação de agentes populares teve início em 2020, com o objetivo de desenvolver territórios mais saudáveis em meio ao contexto da chegada da covid-19.  / Mãos Solidárias

Essa frente de trabalho compreende saúde em seu conceito ampliado e sob uma visão integral, como consta na Constituição Federal e na lei que regulamenta o Sistema Único de Saúde (SUS).

“Saúde não é só não ter doenças. A gente considera que saúde é um recurso para se conseguir outras coisas, como renda, casa. Para que um território seja saudável, aquele bairro precisa de alimentação, água encanada, tratamento de esgoto. A gente busca garantir saúde através da luta desses agentes, que vão organizar a comunidade na perspectiva de conseguir melhores condições de vida”, explica.

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Além de levar informações para sua comunidade, o agente popular trabalha nas cozinhas solidárias, inclusive na implantação de novas estruturas, nos roçados solidários e também na formação de novos alunos. Nessa nova fase do curso, cujas aulas ainda irão começar, o objetivo é cimentar essa atuação que já segue há dois anos. 

Alguns dos territórios que deverão receber o curso são Jaboatão dos Guararapes, Ibura, Centro do Recife, Brasília Teimosa, Pina, Grande Casa Amarela, V8 e V9, Ilha do Maruim, Janga e Centro de Paulista, Camaragibe e Caxangá.

Uma das agentes populares que deverão participar dessa nova etapa do curso é a assistente social Luciene de Barros Barbosa, de 60 anos. À época desempregada, ela encontrou na função de agente popular mais uma maneira de se dedicar à comunidade Vale da Paz, no município de Paulista, Grande Recife, onde vive. Foi Luciene, inclusive, a responsável por levar a campanha Mãos Solidárias para lá.

“Foi no início de 2020, quando começou a pandemia e ficou todo mundo desorientado porque não tinha o que fazer. Como gosto sempre de ficar lendo, eu vi o curso de agente de saúde para trabalhar na comunidade e me inscrevi, sem saber de onde era de onde vinha”, conta ela.

A partir desse primeiro contato, Luciene montou uma turma de 15 pessoas para que seu território também fosse contemplado pela campanha. “A gente trabalhou dando informações sobre a covid, orientações sobre os cuidados que tinha que ter, dando apoio para ajudar a conseguirem o Bolsa Família, já que muitas famílias estavam desempregadas e dependendo dele”, relembra.

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As atividades cresceram e a comunidade, que tem cerca de 1,5 mil famílias, já conta com biblioteca, banco de alimentos e sua própria cozinha solidária, que é mobilizada quando chega doação de comida. As falas de gratidão de quem sofre com a fome e foi beneficiado com o projeto são muitas, reconta Luciene. 

“Várias mães dão seus depoimentos agradecendo e dizendo como tem sido bom estar sendo contemplada. Para mim também foi grandioso, eu estava me vendo sem fazer nada, não sendo útil para ninguém, e depois que me envolvi tive muitos aprendizados e ganhei muitas amizades. É até uma maneira da gente se comunicar com a comunidade, melhora tudo”, afirma.

A disposição para a solidariedade não é novidade para Luciene. Há 12 anos, quando se mudou para Vale da Paz, ela e as irmãs tocam o Instituto Reciclando Vidas, que fornece aulas de judô para as crianças.

“Foi o que minha mãe deixou de herança para a gente: ajudar não importa a quem. A gente já ajuda uma a outra, e se dedicou a olhar e tomar conta de outras famílias também”, reflete. Hoje, sua vontade é participar do próximo curso, mas, como voltou a trabalhar com serviço social, em um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) da cidade, vai precisar conciliar os horários. 

Formatura de novos agentes

No último dia 5, três turmas de agentes populares de 2021 celebraram sua formatura, em um salão da Comunidade do Papelão, no bairro de São José, área central do Recife. “Foram 30 agentes populares de saúde que estão virando o ano de 2022 com a gente, trabalhando no combate à fome e na promoção da saúde, em várias frentes de atuação”, fala Lívia Mello.


30 agentes populares de três turmas de 2021 celebraram formatura na Comunidade do Papelão, no Recife / Divulgação

A campanha Mãos Solidárias é fruto de parceria entre várias entidades. Participam da iniciativa MST, Arquidiocese de Recife e Olinda, Fiocruz, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade de Pernambuco (UPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Federação Única dos Petroleiros (FUP), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco (SINTEPE), bancários, Associação dos Docentes da UFPE (ADUFEPE), AUFRPEPE, Marcha Mundial de Mulheres, Levante Popular da Juventude, Movimento Camponês Popular (MCP), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Rede de Médicos e Médicas Populares, Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (CEBES), Turma do Flau e centenas de voluntários individuais.

Com o trabalho conjunto entre os movimentos, foi possível chegar às marcas de:

- 810 mil marmitas doadas para população em situação de rua;

- 950 toneladas (950 mil quilos) de alimentos doados pelos camponeses para as periferias da cidade em Recife e Região Metropolitana;

- 1 banco popular de alimento mãe, no Armazém do Campo do Recife, e 32 bancos populares de alimentos nos bairros de Recife e RMR que tanto recebem doações de alimentos dos movimentos camponeses como mobilizam no próprio bairro mutirões de arrecadação;

- 3 cozinhas solidárias na RMR e 1 em Petrolina, com perspectiva de abrir mais 3 na RMR em 2022;

- 10 hortas comunitária urbanas, incluindo 2 roçados solidários urbanos (1 em Olinda e 1 em Camaragibe);

- Roçados solidários semanais em assentamentos e acampamentos do MST com intercâmbio entre campo e cidade para plantio nas áreas destinadas à doação solidária aos Bancos Populares de Alimentos e para aprendizagem sobre Sistemas Agroflorestais e produção agroecológica de alimentos saudáveis;

- Mais de 1000 agentes populares de saúde formados e certificados em Pernambuco;

- Confecção de mais de 50 mil máscaras de tecido para doação nas comunidades entre 2020 e 2021;

- 2 grupos de costura sustentável na RMR produzindo sacolas e coletes de agentes populares de Saúde como forma de geração de renda na perspectiva da economia solidária.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga