Depois de a Petrobras aumentar mais uma vez, agora em 19%, o preço da gasolina, a Uber e a 99 anunciaram reajustes no valor das corridas para reduzir o impacto no bolso dos motoristas. Estes, no entanto, alegam que a medida não aconteceu.
A 99 informou, por meio de nota, que reajustou em 5% o valor por quilômetro rodado. Segundo a empresa, o aumento deve entrar em vigor nas 1,6 mil cidades brasileiras onde atua e não impactará o preço pago por usuários.
Já a Uber prometeu um reajuste temporário de 6,5% por corrida. A plataforma afirmou, também, que "serão investidos cerca de R$100 milhões" em "iniciativas voltadas ao aumento nos ganhos e redução dos custos dos nossos parceiros".
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De acordo com as gigantes do transporte individual por aplicativo, as medidas entrariam em vigor a partir da última segunda-feira (14).
Os condutores, por sua vez, além de considerarem insuficientes os acréscimos anunciados, dizem que o incremento nunca chegou.
"É uma verdadeira piada"
"O reajuste não aconteceu", garante Luiz Corrêa, que trabalha como motorista da Uber e da 99 há cinco anos e preside o Sindicato dos Prestadores de Serviços Por Meio de Apps do Rio de Janeiro (Sindimob).
Segundo a Uber, o pacote anunciado faz parte de uma iniciativa "diante da instabilidade no cenário internacional causada pelo conflito no leste europeu" e a operacionalização do reajuste começou, mas a implementação pode levar alguns dias.
Ainda assim, na visão de Luiz, se o aumento efetivamente se concretizar, ele é insuficiente. "Para uma corrida de R$10, o aumento equivaleria a R$0,65. É insignificante. A gente teve duas altas nos combustíveis só este ano", critica.
Desde janeiro de 2021, o preço da gasolina aumentou 13 vezes e do diesel, 11.
Para Vick Passos, motorista de app em Salvador há meia década, o reajuste anunciado pelas plataformas é "uma verdadeira piada".
"Nós estamos atravessando os piores momentos da crise com a pandemia e agora com a guerra [na Ucrânia], que está afetando o preço dos combustíveis", descreve Passos, que é também presidente da Cooperativa Mista de Motoristas e Mototaxistas da Bahia.
"Em todas as metrópoles do Brasil o serviço de transporte por app está falindo porque os motoristas não conseguem suprir as despesas com combustíveis, peças e acessórios", narra.
"A quem vamos recorrer?", questiona Vick Passos, ao desaprovar as medidas anunciadas pelas empresas e reforçar que os trabalhadores ainda não receberam nenhum centavo a mais. "Eles noticiam como se fosse uma melhora absurda para a categoria. Não é", disse.
Na opinião de Passos, é urgente que as plataformas diminuam a porcentagem absorvida por elas a cada corrida. "Chegam a cobrar 40%", expõe, ao provar com o print de uma viagem recente feita por ele na capital baiana.
Pagar para trabalhar
De acordo com o Sindimob, só na capital carioca, desde o ano passado, 35% dos motoristas de aplicativo deixaram o serviço por conta da inviabilidade financeira de manter o trabalho.
"Eu, com o carro quitado, já não estou mais conseguindo trabalhar. Estou a ponto de voltar para outro ramo de atividade porque aqui de fato não estão tendo mais condições de trabalho", relata Corrêa.
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"Como presidente de uma cooperativa", diz Passos, "todos os dias recebo motoristas chorando, sem saber o que fazer, porque bateram o motor, o carro quebrou ou têm que pagar o aluguel do automóvel e não sabem como vão conseguir fazer as compras para sobreviver".
Por melhores taxas e condições de trabalho, motoristas e entregadores de aplicativos estão preparando uma paralisação conjunta nacional a partir do dia 29 de março.
Edição: Rebeca Cavalcante