A Aldeia Takuari, no município de Eldorado, região do Vale do Ribeira, em São Paulo, recebe uma das maiores mobilizações do povo Guarani no Brasil: a Assembleia Geral da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY). O encontro, que começou no domingo (13) e segue até sábado (19), reúne cerca de 800 lideranças de homens e mulheres, anciãos e anciãs, além de jovens guerreiros e guerreiras de diferentes aldeias do Sul e Sudeste do Brasil.
Representantes de outras regiões do país onde há presença guarani também participam da assembleia que busca defender os direitos territoriais desses povos.
Esta é a 9ª edição do evento que trata também da renovação da estrutura de governança da CGY, organização que articula e representa politicamente mais de 20 mil pessoas no Brasil.
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O coordenador da comissão, Kuaray Sandro da Silva, que passará sua gestão nesta sexta-feira (18), explica que a assembleia ocorre a cada três anos para definir novos coordenadores a nível estadual e regional, que darão sequência ao trabalho de luta pelo povo Guarani.
“Estamos falando sobre a conjuntura política também. A questão mais problemática que hoje enfrentamos é territorial. Hoje o povo Guarani não tem seu próprio território para que tenham como trabalhar. A educação e a saúde também estão muito precárias, algumas aldeias precisam muito desse apoio, principalmente na saúde”, comenta o líder indígena em entrevista a Marilu Cabañas, na edição desta quarta (16) do Jornal Brasil Atual.
Luta por demarcação
Kuaray Sandro mora no Rio Grande do Sul, na Aldeia Gengibre, a 35 quilômetros do município de Erval Seco. De acordo com ele, embora a comunidade esteja na Terra Índigena Guarita, há 8 mil hectares demarcados no local que pertencem ao povo guarani. O que dá condições às famílias de plantarem para subsistência.
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O coordenador adverte, no entanto, que a situação não é a mesma para todo seu povo. Ele cita, como exemplo, a situação dos Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul. A segunda maior etnia do Brasil e que enfrenta quadros críticos de fome e de ataques violentos de fazendeiros da região. Recentemente, lideranças também denunciaram a queima de casas de rezas e casos de preconceito e intolerância religiosa.
O coordenador critica também a gestão do governo de Jair Bolsonaro. “O povo kaiowá, que é guarani também, é o povo que mais sofre na questão territorial. Eles moram à beira de estradas, tentando os seus mínimos pedacinhos de terras para tentar sobreviver pelo futuro. É pelas crianças e jovens que estamos sempre lutando”, destaca o líder indígena.
O encontro
Formado em licenciatura de Artes e Linguagens, Kuaray é também professor em sua aldeia, onde trabalha principalmente a questão cultural. O objetivo, de acordo com ele, é que o povo guarani consiga seu próprio território para que sejam locais de trabalho e continuidade da cultura indígena. Em 2019, na última assembleia, mais de 40 coordenadores e coordenadoras foram eleitos para mobilizar as bases da CGY.
O encontro conta ainda com apoio de 10 organizações, entre elas o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e o Intervozes, e das prefeituras de Eldorado, Cananéia, Sete Barras e Iguape.
Confira a entrevista
*Reportagem realizada com informações disponibilizadas pelo Cimi - Conselho Indigenista Missionário.