A Vigilância Sanitária da cidade de Iraceminha (SC) encontrou larvas em sacos de feijão, pão com mofo, carne estragada e produtos mal conservados entregues a escolas do município, em fevereiro e março deste ano.
“Eu nunca tinha presenciado uma cena dessas”, relatou a fiscal da Vigilância Sanitária de Iraceminha, Alesandra Rozanski, ao Sindicato dos Trabalhadores de Educação catarinense (Sinte-SC).
A servidora fez o primeiro flagrante em 18 de fevereiro, na porta da escola ao deixar o seu filho para estudar. “Me chamou atenção o leite que escorria pelo caminhão, aí quando vi a carga percebi o total descaso com o cuidado da alimentação”, afirmou.
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“As caixas de leite estavam rompidas, pacotes de farinhas rasgados e o entregador estava dentro do caminhão pisando nos alimentos”, disse. Na ocasião, a servidora autuou a empresa que foi multada, mas que repetiu a negligência dias depois.
Após algumas semanas, em 10 de março, a fiscal recebeu uma ligação anônima e foi informada de um caminhão da entrega de merenda escolar com forte cheiro de carne podre.
A servidora foi até o local e flagrou péssimas condições de armazenamento dos alimentos que seriam usados na escola.
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“O caminhão tinha uma divisória improvisada de armazenamento de câmara fria. Os alimentos que tinham que ficar refrigerados estavam descongelados e o sangue da carne escorreu para os alimentos separados em outra parte do caminhão. Tinha moscas e larvas em diversos alimentos e o cheiro de carne podre era insuportável”, explicou.
Segundo Rozanski, esta carga havia sido negada pela diretora da escola, que seguiu a orientação da Vigilância: “Autuamos novamente e fizemos a denúncia nos órgãos competentes, desta vez, fomos pessoalmente conversar com a responsável pela alimentação escolar da GERED de Maravilha”, disse, se referindo ao município catarinense de Maravilha.
A fiscal alerta que a empresa que faz o transporte atende municípios de diversas regiões do oeste do estado, já tendo sido flagrada em 2021 com as mesmas irregularidades pela Vigilância Sanitária da cidade de Maravilha.
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“Aqui em Iraceminha temos certeza que estes alimentos não foram consumidos e agora as escolas estão mais atentas no recebimento das cargas, porém sabemos que esta empresa distribui em grande parte dos municípios do oeste e que algumas escolas da região já tiveram que jogar carne fora devido ao apodrecimento do alimento”, diz.
Em nota, o Sinte-SC afirmou que protocolou no Ministério Público de Santa Catarina, no Conselho Estadual de Alimentação Escolar e na Secretaria Estadual de Educação um pedido de investigação e explicações a respeito do serviço da empresa terceirizada.
A empresa, que se chama JMC, é responsável pela alimentação escolar na região oeste. A empresa tem quatro contratos com o Estado catarinense (dois ativos e dois encerrados). Ao todo, os acordos custaram mais de R$ 53 milhões aos cofres públicos.
Outro lado
Em nota enviada ao site local Portal Peperi, a Secretaria de Estado da Educação (SED) informou que notificará a empresa JMC.
Após a publicação da reportagem, a JMC enviou um comunicado ao Brasil de Fato. Leia na íntegra:
"Atuando no mercado de alimentação coletiva desde 2006 e fornecendo mais de 200 mil refeições dia e em vários estados do país, a JMC, ao ser informada da ocorrência e mesmo tratando-se de um incidente pontual, tomou as devidas providências junto ao prestador de serviço. A JMC enfatiza que realiza uma seleção rigorosa de seus colaboradores, fornecedores e prestadores de serviço, principalmente porque entendemos a grandeza e a responsabilidade dos serviços que prestamos."
Edição: Rodrigo Durão Coelho