Professores da educação infantil de Curitiba estão, durante toda esta semana, fazendo panfletagem em frente às unidades dos Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs), para denunciar o número insuficiente de professores e a insegurança que esta situação causa na educação básica, principalmente para as crianças atendidas nos espaços.
A reivindicação dos profissionais é pela realização imediata de concurso público. De acordo com os professores, a quantidade de profissionais não é suficiente para suprir a falta de trabalhadores de educação infantil nos Centros Municipais existentes e nos que serão inaugurados.
Além disso, eles pedem a garantia da manutenção das vagas nos CMEIs para os profissionais remanejados.
:: Número de alunos em salas de aula de Curitiba está acima do permitido por lei ::
Entenda a situação
Com o retorno das aulas presenciais, a Prefeitura está retirando os professores de educação infantil, com carga de 8 horas diárias de trabalho, e transferindo esses profissionais para outros CMEIs que estão com falta de profissionais.
Na tentativa de solucionar o problema de falta de professores, a PMC abriu um novo edital de Processo Seletivo Simplificado (PSS) e está fazendo a contratação de Professores Docência I, que ficam apenas 4 horas diárias, para atender as salas de atividades do Pré I e II. O contrato desses profissionais é apenas temporário, com duração de no máximo 2 anos.
Rodízio de professores compromete qualidade no atendimento às crianças
Uma professora de educação infantil (que prefere não ser identificada) e trabalha há 9 anos em um dos CMEIs de Curitiba conta que o problema da falta de profissionais já é antigo, mas que agora, com o retorno das aulas presencias, a situação chegou no limite.
“É um problema que vem se arrastando por anos, então a Prefeitura teve tempo para resolver. Agora chegou a um nível assustador. E, se não bastasse a falta de professoras de educação infantil, a Prefeitura vem com essa solução de colocar professores de Docência I dentro de um CMEI, que é onde as crianças ficam mais de 8 horas por dia. Então, como vão colocar profissionais que ficam apenas 4 horas por dia, que não cobrem sono, não entram às 7 horas para receber e não ficam até as 18 horas para entregar crianças? Como isso vai suprir a necessidade da educação infantil? Que vínculo que se cria com a criança, a família e a comunidade?,”diz
Saúde mental das professoras no limite
Trabalhando em um CMEI em que faltam 10 profissionais, a professora conta que muitas vezes não consegue se alimentar e nem mesmo ir ao banheiro. “Fico sempre me perguntando como será aquele dia, se vou conseguir almoçar, ir ao banheiro, porque já teve vezes de eu ter ficado sozinha e ter ido ao banheiro só quando cheguei em casa, não tinha quem ficasse com as crianças. Tá muito desgastante, triste, humilhante e cansativa essa situação. A saúde mental das professoras de educação infantil tá esgotada! Muitas vezes acabamos trabalhando doente, porque sabemos se um tiver que se afastar, pegar atestado, vai afetar toda a equipe.”
:: Em Curitiba, trabalhadoras da Educação fazem ato em defesa da vida ::
Valmir Peixoto Bonfim, avô de uma criança que frequenta o Pré I de um dos CMEIs, conta que tem ouvido muitos relatos da falta de profissionais no espaço, e que inclusive soube que atualmente o espaço tem seis alunos especiais, com apenas uma professora para atender.
“Ao que me consta aqui estão faltando quatro professores. E, nesta unidade, faz dois anos que temos 2 alunos especiais e uma tutora para atender. Agora, com o retorno pós-pandemia, foram matriculados mais 4, então são 6 alunos especiais com apenas 1 tutora. Isso compromete todo o rendimento dos demais professores. Em uma reunião que eu participei, teve uma professora que fez um relato que me chamou atenção: ela disse que tem um momento do dia que fica sozinha com as crianças, e não sabe se atende as mais de 25 crianças da turma ou o aluno especial”, conta.
Sindicato cobra contratação de mais profissionais
Segundo o Sindicato dos Servidores Públicos Municipais (SISMUC), essa situação da falta de profissionais de educação infantil, aumenta a rotatividade de profissionais e impossibilita o desenvolvimento do trabalho pedagógico de qualidade com as crianças. Isso porque, há uma quebra do vínculo emocional, afetivo e de confiança que as crianças e a comunidade possuem com as professoras que já atuam nos CMEIs.
Ainda de acordo com o Sindicato, a Prefeitura de Curitiba coloca em risco a integridade física e emocional dos professores e das crianças, desrespeita e não valoriza a educação infantil ao remanejar esses profissionais. Por isso, o SISMUC apóia os professores nesta luta por maior valorização da categoria e cobra do poder público a contratação, via concurso, de mais professores.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Ana Carolina Caldas