Com a vitória de Gabriel Boric como presidente, a esquerda volta ao poder no Chile. Aos 35 anos, o candidato foi eleito com 4.620.671 de votos e realizou dois marcos: ser o presidente mais jovem e a ter maior votação da história do país.
No entanto, esse governo terá uma forte oposição no Congresso: a direita obteve 84 do total de 155 deputados, e metade das 50 cadeiras do Senado. Além disso, a Frente Social Cristã, a União Democrática Independente e o Partido Renovação Nacional já anunciaram intenções de formar uma plataforma opositora.
Outro desafio para o novo governo será o processo de consolidação da nova Constituição, que vem sendo votada em plenário desde fevereiro. Quando esta etapa estiver finalizada, o texto da nova Carta Magna será submetido a um plebiscito popular que decidirá sobre sua adoção.
Para refletir sobre essa conjuntura, o Caminhos para o Mundo desta terça (22) entrevista Daniel Jadue, membro do Partido Comunista do Chile que disputou a vaga de candidato à presidência nas prévias da chapa Apruebo Dignidad, perdendo a disputa justamente para Boric.
Jadue destaca a tradição de "lealdade inabalável" do Partido Comunista do Chile com os governos dos quais faz parte, e afirma que a esquerda enfrentará grandes desafios para implantar o projeto que tem a intenção de mudar o curso neoliberal imposto a partir da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990):
"O governo de Gabriel Boric tem como missão dar uma guinada transcendental na trajetória do Chile. Hoje o Chile vive sob um regime neoliberal. O Estado não tem nenhuma responsabilidade sobre seus cidadãos, não faz intervenções nem assegura direitos sociais ou uma vida digna para ninguém. Portanto, essa guinada que o governo tem que dar busca construir um país que garanta uma vida digna a todos os seus cidadãos, que reconheça a dívida histórica com os povos originários, e que garanta a conformação de um Estado plurinacional, intercultural, feminista, paritário. Mas que, além disso, seja capaz de descentralizar o poder e desconcentrar os recursos econômicos no país".
Exemplo de gestão comunitária
Atualmente, Jadue exerce seu terceiro mandato como prefeito de Recoleta, uma das 32 comunas que formam a região metropolitana de Santiago, capital chilena. A vitória por 64% dos votos superou as votações anteriores em 2012 (41%) e 2016 (56%), refletindo o trabalho inovador feito na administração da comuna: iniciativas como as farmácias populares, livrarias e projetos habitacionais melhoraram a vida da população de Recoleta e tiveram tanto sucesso que passaram a ser replicadas em outros municípios chilenos.
"Partimos do princípio de que o povo de Recoleta é o dono dos recursos e da infraestrutura. Eles são verdadeiramente o Estado, e nós passamos por aqui apenas para administrar os recursos e bens que eles têm, e trabalhar para solucionar os problemas, dores e angústias dos habitantes de Recoleta. Nosso governo, desde o início, dedicou-se a abrir os olhos e ouvidos para poder ver e escutar as dores de que a comunidade estava padecendo, e começar a idealizar respostas que saíssem da caixinha neoliberal", considera Jadue no Caminhos para o Mundo.
Onde assistir ao programa
O Caminhos para o Mundo tem duração de 30 minutos e vai ao ar quinzenalmente, às terças-feiras, sempre às 20h, nos canais do Brasil de Fato e da TVT no YouTube.
Na TV aberta, o programa é exibido na TVT, canal 44.1 - sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.
Edição: Thales Schmidt