O jornal Folha de S.Paulo publicou uma reportagem, no final da tarde da última quarta-feira (22), em que tenta associar o ex-presidente Lula (PT), líder das pesquisas eleitorais para o Palácio do Planalto, ao escândalo dos pastores lobistas no Ministério da Educação sob comando do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Eleito por duas vezes consecutivas, Lula deixou a Presidência da República em dezembro de 2010. A presença dos pastores como intermediários do governo federal junto a municípios, inclusive com relatos de pedidos de propina, começou quase uma década depois da saída do petista do comando do país, a partir de 2019.
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Mesmo assim, a Folha tentou colar a imagem do petista no caso. Com o título "Pastor da campanha de Lula diz que suspeito por ação no MEC é seu mentor", o texto diz que Paulo Schallenberger, suposto nome apontado pelo PT para dialogar com evangélicos, "tem estima" pelo pastor Gilmar Santos, envolvido no caso.
Nos últimos meses, de fato, Schallenberger estreitou relações com líderes do PT e declarou voto em Lula nas eleições presidenciais. Contudo, ele não é filiado ao partido, tampouco ocupa algum cargo formal na estrutura de campanha de Lula.
A reportagem afirma que o suposto "pastor do PT" (a expressão constava no título de uma versão anterior da reportagem, que, depois, foi modificada) chama Santos de "mentor" e "professor". Mais adiante, contudo, o texto mostra qual foi a análise feita por Schallenberger sobre o caso. O "pastor petista" fez duras críticas ao caso.
"Isso tudo é efeito do bolsonarismo, da igreja querer ser Estado, né? Igreja é igreja, Estado é Estado. Enquanto continuar isso aí, vai ser daí para pior", disse.
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Para reforçar a suposta relação de Lula e do PT com o caso, a Folha resgatou um vídeo de 2005 em que o pastor lobista Gilmar Santos prega no congresso Gideões Missionários da Última Hora, uma vitrine gospel para líderes pentecostais do Brasil. Na cena, é possível notar a presença Schallenberger.
O suposto "furo de reportagem" publicado pelo jornal chegou a ser reproduzidos por outros veículos jornalísticos de grande circulação, como o Uol, Yahoo e Jornal de Brasília. Nas redes sociais, usuários apontaram a fragilidade da suposta denúncia contra Lula e o PT. Leia algumas publicações:
"Olha, precisa falar com aquele pastor que está conversando com o PT sobre o escândalo do MEC" (...) "Nossa, descobri que o cara do lobby é mentor e amigo do cara do Lula!" "Oba! Já sei até o título que a gente vai dar!" O diálogo, claro, é inventado. O resto está no jornal. pic.twitter.com/m9Uohyh4id
— Bia AbramoTaradaporVacina (@biawabramo) March 24, 2022
Amigo da vizinha da prima da enteada do auxiliar do vendedor de picolé da rua por trás da casa do pedreiro que trabalhou na casa do advogado da empreiteira da cunhada do pastor da igreja do tesoureiro da campanha de Bolsonaro diz que Lula é bonito https://t.co/nVPvSrJe5t
— Paulo Gustavo 💉💉💉 (@paulogustavo) March 24, 2022
matéria sem pé nem cabeça só pra colocar #Lula no rolo. nunca vi tamanha falta de assunto. a citação do congresso gideoes ñ tem link nenhum com Lula nem com o “pastor da campanha”. RT Governo Bolsonaro: Pastor da campanha de Lula diz que suspeito por ação no MEC é seu mentor
— Judith de Almeida (@JudithAlm) March 24, 2022
Edição: Rebeca Cavalcante