“A eleição de 2022 vai começar de onde parou em 2018. Eles estão subindo degraus sobre como produzir fake news. Vamos tratar a comunicação com a centralidade que ela tem ou não?”, provocou Manuela D'Ávila, ex-deputada federal e militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
A fala foi o pontapé inicial de sua participação no debate que discutiu a comunicação em tempos de ódio no Teatro Popular Oscar Niemeyer, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, na noite desta sexta-feira (25).
A fala de Manuela integrou sua análise sobre a necessidade de regulamentar a comunicação em um futuro próximo, mais precisamente após as eleições de 2022, caso Lula (PT) se eleja, conforme mostra a maior parte das pesquisas até aqui.
Leia mais: Datafolha: Lula está 17 pontos à frente de Bolsonaro e segue na liderança em todos os cenários
“E falo de todos os meios de comunicação. As rádios, televisão, também a Internet. É preciso voltar para trás nesse debate. Além disso, é preciso nos perguntar como comunicar de maneira permanente. Na eleição, a gente chega e eles estão há tempos falando diariamente com as pessoas. Estamos anos-luz atrasados em como nos comunicar”, complementou.
Também participaram da discussão Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Orlando Silva, deputado federal PCdoB-SP, Leandro Demori, editor do The Intercept, e Suzy dos Santos, diretora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E evento fez parte da programação do Festival Vermelho, série de comemorações pelo centenário do PCdoB na cidade em que foi fundado em 1922.
Leia também: "Me mataram depois da eleição de 2018": Manuela D'Avila e Guilherme Boulos têm dados hackeados
Para Demori, o grande diferencial das eleições de 2022 é que os mecanismos utilizados pelos grupos de extrema-direita estão expostos e não são mais desconhecidos ou subestimados como foram em 2018.
“A estratégia inicial deles foi usar meios para atacar diretamente pessoas públicas e não as instituições ou meios em que trabalham. Escracho contra as pessoas. Eles passaram então a criar o produto, identificar o alvo e passar a sensação de que está todo mundo contra essa pessoa. É uma estratégia muito poderosa. Antes nós não a conhecíamos, agora nós sabemos e sabemos que são podres. E temos que enfiar o dedo no olho dessa gente até outubro de 2022”, disse aos aplausos da plateia, em grande parte formada por militantes do PCdoB.
Complementando a fala de Demori, o pesquisador Sérgio Amadeu falou sobre a maneira como a internet inverteu o fluxo de comunicação conhecido até então.
“E Bolsonaro chegou tocando o terror e usando a estratégia de micro segmentação, ou seja, se minha mãe tem ‘medo de homossexuais’, as notícias reforçando isso chegavam até ela, por meio do WhatsApp. Estamos enfrentando o fascismo na era digital. O fascismo clássico é outra coisa. Hoje é uma guerra via rede. Os fascistas são replicadores, eles não questionam, seguem o líder. Só tem um jeito do Bolsonaro ganhar a eleição e é por meio de uma campanha de desinformação, em uma campanha como nunca vimos: 2018 é fichinha perto do que vem por aí”, avaliou o professor.
Para Manuela, a estratégia para driblar o que promete ser a disputa eleitoral deste ano tem que ser o enfrentamento.
“Eu acho que temos que enfrentar e dobrar a aposta. Mostrar quem somos, falar menos do que eles falam e mais do que queremos falar. Para não virarmos uma esquerda que tem medo. Nós somos o terror deles, justamente porque acreditamos em um mundo completamente diferente deles, por isso querem nos eliminar. Nós temos que reforçar quem somos”, finalizou.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Eduardo Miranda