Depois da decisão do Tribunal Superior Eleitoral de proibir qualquer manifestação política no Lollapalooza, diversos artistas que marcaram presença no terceiro e último dia do festival se posicionaram contra a censura. O alvo da maioria das manifestações foi o atual presidente Jair Bolsonaro, cuja equipe entrou com o pedido de intervenção no sábado (26).
A banda Fresno projetou a frase "Fora, Bolsonaro" no telão do palco. O vocalista gritou a mesma palavra de ordem antes de cantar o trecho de uma das músicas da banda que diz "o presidente basicamente quer te exterminar, e o ideal fascista já conquistou teu núcleo familiar". Na participação especial do cantor Lulu Santos durante o show da banda, o artista criticou o TSE: "Como disse a [ministra] Carmem Lúcia, cala a boca já morreu, quem manda na minha boca sou eu". No final do show Lulu ainda enfatizou: " Censura nunca mais", se referindo a decisão do ministro Raul Araujo, do TSE.
O artista Marcelo D2 entrou com uma ação para derrubar a decisão do TSE que proíbe manifestações políticas dos artistas. A medida foi articulada junto com o deputado federal Marcelo Feixo, através de uma procuração do rapper para o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay.
Eu articulei, junto com @Marcelodedois e o advogado Kakay, uma ação para derrubar a decisão do TSE que tenta impedir a manifestação política de artistas no @LollapaloozaBr. A liberdade de expressão é direito garantido pela Constituição.#LollaLivrehttps://t.co/gs6L0SKUhg
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) March 27, 2022
A cantora Marina Sena defendeu "Quem ainda não tirou o título, tira. Bora votar que é o único jeito da gente conseguir mudar alguma coisa". O público reagiu à fala de Sena com um "Ei, Bolsonaro, vai tomar no *" e ela interagiu com a manifestação: "É muita gente gritando isso, não é possível que a gente não vai conseguir."
"Dedo do meio pro alto, pensa numa pessoa que vocês odeiam muito" Quem? Não pode falar, não? Então já que não pode eu vou falar porque eu gosto de desobedecer", manifestou o cantor Djonga no início da sua apresentação. O público reagiu com o "Ei, Bolsonaro, vai tomar no *". Em outro momento do show, o artista repetiu a reação do público e acrescentou: "Eu odeio o Bolsonaro, quem gosta problema é seu. Mas eu odeio o Bolsonaro. Mas não pode falar né? Porque depois vai contabilizar né? Eu vou falar 22 vezes em homenagem a 2022."
A cantora Anitta divulgou um vídeo dizendo que "os amigos que quiserem se manifestar, pago a multa de vocês". A artista que é a primeira brasileira a estar no Top 1 mundial do Spotfy criticou a proibição e disse que vai lutar com todas as armas. "Não existe isso de proibir um artista de expressar publicamente a infelicidade dele perante ao governo que ta rolando no exato momento. Isso é 1900 e bolinha, a gente não quer voltar para a estaca 0, pelo amor de Deus".
A guerra de papéis
O pedido de impugnação realizado pela equipe de Bolsonaro virou motivo de chacota nas redes sociais depois que advogados perceberam que a empresa que foi notificada que tem o nome de Lollapalooza não é a responsável pelo evento e está inativa. O erro cometido pelos advogados do PSL pode dar margem para a ilegitimidade da ação, não produzindo nenhum efeito.
Pessoal novas imagens
— Rodolfo Prado .:.Advogado do Diabo .:.🇺🇦 (@rodolfoprado) March 27, 2022
A parte é ilegítima, Portanto não tem como cumprir
HAHAHA
Segue o jogo
Vejamos pic.twitter.com/BWwlpAXxum
Ainda assim, na tarde deste domingo (27), a empresa responsável pelo Lollapalloza, a T4F, entrou com recurso no TSE alegando que não há como fazer cumprir a ordem por não poder agir como censora privada "controlando ou proibindo conteúdo de falas". A empresa ainda afirmou que as manifestações dos artistas representam "o exercício regular da liberdade de expressão" e que "nem a TF4 e nem seus representantes dirigiram, de qualquer forma, o conteúdo do show, que não foi contratado com a intenção de promover qualquer candidato ou influencer na campanha eleitoral", diz os advogados que assinam o recurso.
A Ordem dos Advogados do Brasil - seção São Paulo também se manifestou dizendo que vê com preocupação a proibição de manifestação política no festival e que "a liberdade de expressão, por meio da manifestação espontânea e gratuita de ideias, é essencial para assegurar a continuidade democrática e fomentar o debate público das eleições".
Edição: Camila Salmazio