Na manhã desta terça-feira (29), famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) acampadas na Fazenda 2 Rios, no município de Itaetê, região da Chapada Diamantina, foram atacadas por dois homens armados, que espancaram uma liderança e atiraram contra as pessoas. Um dos tiros atingiu uma mulher, que foi socorrida e hospitalizada, sem risco de morte, de acordo com o movimento.
A Fazenda 2 Rios foi ocupada na última sexta-feira (25) por cerca de 250 famílias com o objetivo de desapropriar a área improdutiva para fins da reforma agrária. "Na madrugada do dia 25 para o dia 26, nós fizemos a ocupação dessa fazenda, que tem 8,5 mil tarefas de terra. É uma fazenda que está abandonada e não vem cumprindo com sua função social há muito tempo", explica Abraão Brito, que é articulador político do MST na Regional Chapada Diamantina. Desde então, as famílias acampadas vêm sofrendo intimidações dos pistoleiros. Ainda de acordo com Abraão, a polícia já foi acionada, porém ameaças continuam sendo feitas.
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Ataques e intimidações desde sexta (25)
Abraão Brito explica que, já no primeiro dia de acampamento, foram intimidados por dois homens, que se identificaram como seguranças da fazenda. "Nós não recuamos. Então, na madrugada de hoje, um pai de família, que é um dos líderes da ocupação, deu uma saída do acampamento, quando dois homens encapuzados, que suspeitamos serem os mesmos do primeiro dia, agrediram o companheiro, bateram muito com vários tipos de armas. Em seguida, eles foram na direção do acampamento. As famílias foram para cima e, então, eles atiraram", relata.
Pouco depois do ocorrido, a polícia foi acionada. "Foram para lá a Rondesp, a Caatinga e a Polícia Militar. Fizemos o boletim de ocorrência, e a jovem que sofreu o tiro irá fazer corpo de delito. Estamos nessa situação, com as famílias amedrontadas, pois os dois homens avisaram que vão voltar para a fazenda", afirma Abraão.
A motivação dos ataques, de acordo com Abraão, é a preocupação com as cabeças de gado. "Eles estão desesperados achando que vamos mexer nas cabeças de gado – já tiraram mais de 800 cabeças nesse período –, mas nós não mexemos em nada. Ocupamos a sede, mas depois saímos e fomos para a beira do rio, onde montamos o acampamento", explica.
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Ocupações na região
Esta é a terceira ocupação do MST na região da Chapada Diamantina realizada este mês. Uma delas ocorreu em uma área de monocultivo de eucalipto, abandonada, pertencente à empresa Ferbasa, no município de Planaltino, onde cerca de 230 família estão acampadas. A outra ocupação foi no município baiano de Piritiba, na fazenda Cajazeira, com 50 famílias. A área também está abandonada e improdutiva. Em todas essas ocupações realizadas pelas famílias sem terra, é reivindicada a desapropriação das áreas improdutivas para fins da reforma agrária.
Diante da violência, Abraão comenta que ações coletivas estão sendo organizadas. "O povo dos assentamentos próximos já tem descido para prestar solidariedade e ficar no acampamento ajudando a construir os barracos das famílias. Mas estamos pensando, diante dessas atrocidades, em fazer uma marcha, uma grande caminhada começando no povoado de Colônia, que fica próximo ao acampamento, e indo em direção à cidade, para denunciar a impunidade desses ataques", detalha.
Fonte: BdF Bahia
Edição: Elen Carvalho e Rodrigo Durão Coelho