O Congresso do Peru rechaçou o pedido de impeachment contra o presidente Pedro Castillo, com 55 votos a favor, 54 contrários e 19 abstenções, em votação na noite da última segunda-feira (28). Este é o segundo pedido de vacância presidencial em oito meses de gestão. Apesar da maioria ser favorável à destituição, a oposição não obteve apoio de 2/3 do plenário, equivalente a 87 votos, o mínimo para aprovar a destituição do mandatário.
Castillo celebrou o resultados e convidou à unidade pelo país. "Saúdo a vitória da sensatez, a responsabilidade e a democracia. Reconheço os parlamentares que votaram contra e respeito a decisão de quem votou a favor. Convido todos a fechar essa página e trabalhar juntos pelos grandes desafios do país", publicou o mandatário.
Saludo que haya primado la sensatez, la responsabilidad y la democracia. Reconozco a los parlamentarios que votaron en contra de la vacancia, y respeto la decisión de quienes sí lo hicieron. Llamo a todos a cerrar esta página y trabajar juntos por los grandes desafíos del país.
— Pedro Castillo Terrones (@PedroCastilloTe) March 29, 2022
Na última semana, o primeiro-ministro Aníbal Torres se reuniu com as lideranças de cada bancada para buscar um acordo nacional. O resultado foi a abstenção de todos os 15 deputados do partido de centro-esquerda Ação Popular e a divisão de outros grupos.
"Apesar de ter sido apenas um voto a mais pela vacância, eu ainda acredito que é uma derrota da oposição. Não sei se foi uma grande vitória do governo, mas foi uma derrota da oposição, já que a abertura do processo foi aprovada por 76 congressistas. São praticamente 21 votos a menos agora", comenta o jornalista peruano Javier Torres ao Brasil de Fato.
A moção de vacância foi proposta pela bancada de extrema direita, composta pelos partidos Força Popular, de Keiko Fujimori, e Renovação Popular, de Rafael Aliága, ex-candidatos à presidência. A justificativa seria uma incapacidade moral de Castillo de comandar o país por denúncias de corrupção e quatro trocas de gabinete de ministros.
"Dá um certo respiro a Castillo, mas o mais provável é que a batalha pela destituição deva seguir nos meios de comunicação, em cima de denúncias de corrupção. Para sobreviver, a tendência é que Castillo busque um pacto com setores da direita", disse ao Brasil de Fato o sociólogo e ex-deputado do Parlamento Andino, Luis Alberto Adrianzen.
A base da defesa do presidente foi a falta de evidências sobre as denúncias de corrupção, que ainda estão em fase de investigação preliminar no Ministério Público, e o fato de que as acusações são contra terceiros.
"Todos sabem que esse pedido não tem qualquer elemento que o sustente, pois se trata de uma recompilação de versões de um setor da imprensa. Trabalhemos juntos para combater os verdadeiros inimigos da nossa pátria: a corrupção, a pobreza, a discriminação, a desigualdade, a insegurança, a violência contra as mulheres são alguns deles", afirmou Castillo durante seu discurso no Congresso.
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Logo após a aprovação do início do processo de impeachment, Castillo solicitou expor cifras sobre o seu governo ao Congresso. Para Javier Torres, nesse momento o governante mandou duas mensagens aos congressistas: que apoia as críticas ao sistema anticorrupção do país e que havia orçamento para iniciar novas obras em 2022 - ano em que serão celebradas eleições para prefeitos e governadores.
"O problema não é necessariamente a negociação de algo, mas a falta de norte claro para o país. Esse é o problema central desse governo. Não vejo nem no parlamento e nem no governo uma vontade de acordos políticos maiores. São sempre acordos para hoje à tarde e amanhã já voltaremos a negociar. Essa forma de fazer política é nociva para a gestão pública", critica o chefe de redação do portal Noticias SER.
A sessão durou cerca de cinco horas, com o tempo de fala dividido de maneira proporcional ao tamanho das bancadas. Sendo a bancada governista, do partido Peru Livre, a mais favorecida, com direito a 63 minutos de exposição. Em frente à sede do Legislativo, em Lima, peruanos realizaram protestos à favor e contra o governo.
"A sensação é que, se não tinham os votos ou não estavam perto de ter os votos, por que geraram essa situação? O comentário das pessoas nas ruas é de que foi uma perda de tempo. A pergunta é se o presidente poderá converter isso numa vitória", questiona Javier Torres.
Segundo as últimas pesquisas de opinião, 79% dos peruanos não aprovam o trabalho dos congressistas. No entanto, Castillo também bateu o ponto mais baixo da avalição do seu governo com 65% de reprovação.
Estudo realizado em março pelo jornal La República também indica que 71% da população peruana acredita que dificilmente Castillo chegará ao fim do mandato.
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O aumento do preço dos combustíveis e do trigo, reflexo da guerra na Ucrânia, também já é visto como outro elemento de turbulência para os próximos meses de governo.
O sociólogo Luis Alberto Adrianzen afirma que Castillo já é comparado ao ex-presidente Ollanta Humala, eleito com um programa de esquerda, mas que mais tarde exerceu uma gestão de direita e terminou preso acusado de lavagem de dinheiro pela Operação Lava Jato.
"O fim não é um problema neste país, mas a repetição. Este processo de pedidos de moção de vacância, de pedidos de fechamento do Congresso ou de que todos devem sair já vem desde 2017. A ideia de que todos devem sair expressa isso", conclui Adrianzen.
Edição: Arturo Hartmann