Foi no sertão piauiense que a arqueóloga franco-brasileira Niède Guidon fez a descoberta que mudou a história do povoamento do homem nas Américas. Esse lugar, que reúne um aglomerado de história, é a Serra da Capivara, localizada em quatro municípios do sudoeste do estado do Piauí: Canto do Buriti, Coronel José Dias, São João do Piauí e São Raimundo Nonato.
O Parque Nacional Serra da Capivara foi criado em 1979 com o objetivo de preservar vestígios arqueológicos que certificam a presença do homem na América do Sul. Por baixo das rochas gigantes, se escondem pinturas e gravuras rupestres, que são consideradas formas gráficas de comunicação utilizadas pelos grupos pré-históricos que habitaram a região há pelo menos 6 mil anos atrás.
Gisele Daltrini Felice, arqueóloga e pesquisadora, explica a dimensão do parque para a história da humanidade: “É a maior concentração de abrigos com pinturas rupestres, até o momento, conhecida no mundo. Essas pinturas foram consideradas pela Unesco, em 1991, como Patrimônio Cultural da Humanidade”.
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De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), no Brasil há mais de 26 mil sítios arqueológicos cadastrados. Mais de mil deles estão concentrados dentro da Serra da Capivara.
Como explica Gisele, “a região é extremamente importante porque ela tem, num total de vários tipos de sítios arqueológicos, sítios paleontológicos também, são mais de 1,3 mil sítios. Desse total, pelos menos, 900, ou um pouco mais, são abrigos com pinturas rupestres”.
Além de tentar identificar os grupos humanos que viveram na região, as pesquisas arqueológicas e a preservação do lugar buscam a valorização da ancestralidade e, consequentemente, dos descendentes que são guardiões do patrimônio.
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O envolvimento da comunidade é tão grande que as pinturas saem das paredes e passam a ser produzidas em pratos, copos, chaveiros e artigos de decoração feitos com cerâmica e outros materiais naturais oriundos da região.
O mercado da cerâmica é uma grande fonte de renda que oportuniza os ceramistas locais, como o artesão Josias Pereira, na produção de peças que são exportadas para o mundo todo.
“Eu estou nessa profissão tem 28 anos. Para falar sobre esse serviço, eu acho que é um meio que veio para mudar a vida de bastante pessoas na comunidade, na redondeza, e esse trabalho aqui é tão bom que hoje está sendo usado com uma terapia no mundo inteiro”, afirma.
Faltam políticas de preservação
Por estarem situados em ambientes expostos, ou seja, ao ar livre, os sítios arqueológicos sofrem diretamente os impactos dos processos naturais que causam a decomposição da rocha e, consequentemente, das pinturas.
Apesar de estarem ali há milhares de anos, as pinturas sofrem um desgaste mais intenso agora com as mudanças climáticas, como explica Gisele Daltrini Felice. “A chuva, o sol intenso, o vento com uns grãos de areia com agente abrasivo, amplitude térmica, todos esses fatores eles aceleram o processo de desaparecimento, de erosão desse patrimônio arqueológico que são os grafismos rupestre”, explica.
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Ela cita medidas simples que podem retardar o desaparecimento das pinturas. “Medidas de proteção e conservação precisam ser tomadas. O sombreamento, não deixar a água da chuva impactar essas pinturas, evitar que a água da chuva escorra pelas paredes rochosas e acabe deteriorando essas pinturas”.
Diante deste cenário, se fazem ainda mais necessários os investimentos na preservação. A Fundação Museu do Homem Americano, junto com o IPHAN, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e outras instituições de fomento, como a Petrobras e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Piauí contribuem financeiramente para que equipes de conservação possam garantir a preservação dos sítios arqueológicos.
Para quem deseja conhecer o parque, ele pode ser visitado durante todo o ano, de segunda a sexta. A entrada é gratuita, mas é obrigatório o pagamento de um guia que conduzirá a visita.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga