O ex-ministro Milton Ribeiro se negou a comparecer na Comissão de Educação do Senado nesta quinta-feira (31). Ele foi convocado para explicar o escândalo envolvendo esquema montado por pastores no Ministério da Educação (MEC).
Ribeiro pediu demissão na última segunda-feira (28). Ainda assim, sua presença no Senado era esperada, mas o próprio MEC confirmou a ausência. Dessa maneira, aumentou a pressão para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso.
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No foco do escândalo está o presidente Jair Bolsonaro. Isso porque Ribeiro teve um áudio vazado em que disse que recebeu ordens do próprio presidente para priorizar demandas apresentadas por pastores aliados.
Posteriormente, o prefeito de Luis Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB), revelou que o pastor Airton Moura, citado por Ribeiro, chegou a cobrar propina em ouro para intermediar a liberação de recursos do ministério. O pastor Gilmar Santos também operava o esquema.
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Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos autores do requerimento para que Ribeiro prestasse informações, a ausência do ex-ministro “equivale a uma admissão de culpa”. “Não restará, diante deste gravíssimo desrespeito, senão a instalação de uma CPI”, afirmou Randolfe na comissão. Além disso, ele classificou o escândalo como “desavergonhado tráfico de influência, o mais explícito da história desta República”.
O presidente da Comissão de Educação, senador Marcelo Castro (MDB-PI), disse que o mais grave é que Ribeiro não deu qualquer satisfação aos parlamentares. “Os fatos que nos trouxeram até aqui hoje são fatos graves. Vão contra todos os princípios que regem a administração pública”, afirmou.
Interino convocado
Diante da recusa de Ribeiro, a comissão aprovou a convocação do ministro interino Victor Godoy Veiga. O requerimento de convocação foi feito pelos senadores Jean Paul Prates (PT- RN), Humberto Costa (PT-PE) e Zenaide Maia (PROS-RN). “O ministro, braço direito de Milton Ribeiro, terá que explicar o inexplicável na pasta”, tuitou Jean.
Veiga chegou a participar de reunião em janeiro de 2021, no ministério, na qual estiveram os dois pastores apontados como lobistas no MEC, Gilmar Santos e Arilton Moura. Ainda não há data, no entanto, para o depoimento do ministro interino.
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A Comissão de Educação também aprovou convite a prefeitos que relataram pedido de propina no esquema montado por Santos e Moura, e que contava com o aval de Bolsonaro. Randolfe afirmou que terão prioridade aos prefeitos que “corajosamente, se dispuseram a enfrentar esse esquema de corrupção". A previsão é que sejam ouvidos em duas reuniões na próxima semana, nos dias 5 e 7 de abril.
Além disso, o senadores também aprovaram a convocação do ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário. Na semana passada, o órgão informou que encontrou “possíveis” irregularidades no processo de liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que teriam relações com o esquema montado pelos pastores.
Cortinas de fumaça
Quando eclodiram as primeiras denúncias contra Ribeiro, Bolsonaro chegou a afirmar que seria capaz de “colocar a minha cara no fogo” pelo então ministro. Após as novas revelações sobre o esquema comandado pelos pastores, Bolsonaro se internou, novamente, num hospital de Brasília, no mesmo dia em que comunicou a saída do ministro.
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Simultaneamente, o governo também anunciou a troca de comando na Petrobras. A coincidência desses eventos levanta suspeitas da tentativa por parte do presidente de tentar desviar as atenções do escândalo no MEC.
Com informações da Agência Senado