Na manhã desta sexta-feira (1º), Rodrigo Garcia (PSDB) foi empossado governador de São Paulo pelo presidente da Assembleia Legislativa (Alesp) do estado, Carlão Pignatari, durante uma visita ao Bom Prato de Paraisópolis, na Zona Sul da capital.
No local, inaugurado pelo tucano há 10 anos, quando ainda era secretário do governo Geraldo Alckmin (PSB), Garcia tomou café da manhã e acompanhou o atendimento aos usuários.
A atenção do novo governador à unidade do Bom Prato nesta sexta contrasta, entretanto, com as reclamações de moradores da região do tempo em que a unidade esteve fechada para reformas, entre setembro de 2020 a maio de 2021. O período coincidiu com a pandemia de covid-19, que deixou famílias mais expostas à vulnerabilidade social, e a suspensão do auxílio emergencial, entre janeiro e abril de 2021.
No total, o programa estadual tem 59 unidades, sendo 22 na capital, 12 na Grande São Paulo, 17 no interior e oito no litoral. Os restaurantes comercializam café da manhã e almoço e jantar a um preço simbólico de R$ 0,50 e R$ 1, respectivamente.
Nos sete meses de fechamento, a unidade atuou com a distribuição de marmitas do lado de fora do estabelecimento. Nesse tempo, o Bom Prato Paraisópolis passou a vender menos de um quarto apenas dos almoços que eram comercializados anteriormente: de 1,8 mil passou para 300, uma diminuição de 83%.
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Situação semelhante é a da unidade do Bom Prato do Grajaú, também na Zona Sul, que segue fechada para reformas desde outubro do ano passado. Antes 1,6 mil refeições eram servidas somente no horário de almoço. Agora, caiu para 300.
"Infelizmente a reforma está demorando muito, o que penaliza a população que mais precisa: desempregados, idosos e moradores em situação de rua", disse o deputado estadual Enio Tatto (PT) à Folha de S. Paulo.
Do outro lado do município, em Santana, na Zona Norte, a unidade do Bom Prato foi fechada devido ao vencimento do aluguel do lugar, na primeira quinzena de março. No improviso, os funcionários passaram a comercializar apenas almoço em unidades móveis.
Fechar unidade do Bom Prato gera crise
Para o coordenador da Associação Rede Rua, Alderon Costa, conselheiro do Comitê PopRua da secretaria municipal de Direitos Humanos, durante a pandemia o programa Bom Prato se tornou essencial para a defesa da vida e a qualidade mínima que as pessoas devem ter para trabalhar e buscar seu sustento”.
“As pessoas não têm dinheiro para comprar comida, porque a cesta básica está muito cara, muitos menos para pagar aluguel, luz, água e comprar gás. O salário mínimo não consegue dar conta de tudo isso. O Estado, então, precisa nesse momento colaborar de alguma forma com a população”, diz Costa.
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Nesse sentido, Costa entende que “qualquer fechamento de um projeto como esse gera uma crise ainda maior e leva as pessoas a uma dificuldade bem maior. A fome precisa ser levada a sério. Esses projetos não podem ser fechados”.
Se há problemas prediais, o programa deve ser transferido, acredita Costa, “mas não pode fechar, porque essas ficam dependem desse recurso. Fechar um Bom Prato na normalidade da sociedade já é ruim. Imagine no tempo de pandemia e no tempo de crise”.
O conselheiro espera que a visita de Rodrigo Garcia ao Bom Prato de Paraisópolis represente uma ampliação dos investimentos para o programa.
Secretaria de Desenvolvimento Social
O Brasil de Fato enviou um e-mail para a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, responsável pelo programa, solicitando explicações sobre as unidades fechadas do Bom Prato. Até o momento não houve retorno. O espaço está aberto para posicionamentos.
Eleições 2022
Rodrigo Garcia assumiu o governo de São Paulo um dia após João Doria renunciar ao cargo para se candidatar à Presidência da República nas eleições de 2022, que ocorrerão em outubro. Garcia também participará do pleito para tentar se reeleger governador.
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Para isso, o tucano irá apostar no discurso da terceira via a nível estadual para enfrentar Fernando Haddad (PT), candidato de Lula (PT), e Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Durante sua visita ao Bom Prato de Paraisópolis, Garcia afirmou que “o Brasil vive hoje uma guerra de narrativas, uma briga ideológica, e isso não resolve o problema das pessoas", disse. "Eu não entrei na política para mudar a ideologia de ninguém, entrei na política para mudar a vida das pessoas. Não entrei na política para tentar convencer alguém de que o que eu penso é correto. Como gestor público, tenho que governar para todos, [...] de direita, de esquerda ou de centro."
Edição: Rebeca Cavalcante