Espero que em 2024 a gente aprenda as lições e busque unidade em São Paulo
A decisão de Guilherme Boulos (PSOL-SP) de abandonar a corrida eleitoral para o governo de São Paulo atendeu, segundo o psolista, a dois fatores: a unidade do campo progressista em um dos principais estados do país; e a necessidade premente de revitalizar o Congresso Nacional com parlamentares de esquerda.
Os ares conservadores permeiam cada vez mais o Congresso desde as eleições de 2018. Durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL), com os questionamentos à governabilidade do presidente e um número estrondoso de pedidos de impeachment acumulados na mesa do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), os partidos aglomerados no bloco conhecido como "Centrão" ganharam protagonismo. A janela partidária que terminou no último dia 2 de abril ratificou uma maioria de apoio ao presidente nos últimos meses de mandato.
“Bolsonaro esculhambou de vez a governabilidade no Brasil, entregando a chave do cofre para o Centrão, terceirizando o orçamento e as políticas públicas. Precisamos desmontar isso. Eleger o Lula é o primeiro passo. O mais decisivo deles, sem sombra de dúvidas”, explica Boulos.
Convidado desta semana no BdF Entrevista, Boulos destaca que a estratégia para ter maior equilíbrio de forças ao Congresso é “levar para o debate público a importância da eleição parlamentar, porque essa não é a cultura política brasileira”.
“E o primeiro passo dessa estratégia é justamente a gente ter nomes e chapas robustas nos estados, dos partidos de esquerda, das federações de esquerda, que sejam competitivas, capazes de atrair uma votação expressiva para a gente chegar ao número que precisa”, completa.
Na conversa, o agora candidato a deputado federal fala ainda sobre a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB-SP), a necessidade de ajustes de um futuro Minha Casa Minha Vida e o caminho do PSOL nas eleições deste ano, enquanto parte da legenda ainda discorda da federação com a Rede e o apoio do partido ao ex-presidente Lula.
“Todo partido tem sua diversidade interna, tem espaço para debate interno. O PT tem também suas diferenças internas”, afirma. “Felizmente, essa posição [contrária à federação e ao apoio a Lula] é minoritária no PSOL. O PSOL indicou no seu Congresso, e caminha para chancelar na sua conferência eleitoral, o apoio a Lula. O pessoal na sua Executiva Nacional já definiu pela federação com a Rede e vamos seguir trilhando essa caminhada de amplitude”.
Confira na íntegra a entrevista realizada pelo repórter José Bernardes com a participação de Cristiane Sampaio:
Brasil de Fato: Sobre a sua decisão de concorrer a deputado federal pelo PSOL. Seu nome aparecia bem no pelotão da frente das pesquisas para o governo de São Paulo. Obviamente você já comentou bastante sobre essa decisão, mas passados os dias, ela parece mais acertada?
Guilherme Boulos: Eu tomei essa decisão com muita convicção, porque ela não foi produto de um rompante, de uma definição pessoal. Ela foi produto de um amplo diálogo com meus companheiros de partido, com meus companheiros de movimento social, analisando a situação crítica que a gente vive hoje no Brasil.
Foram duas as razões que me levaram a essa definição e que me fazem acreditar que foi a decisão mais acertada neste momento. A primeira é um esforço pela unidade. Nós já temos feito, no PSOL, um debate que caminha para compor com a frente liderada pelo Lula para derrotar o Bolsonaro em nível nacional. E temos um desafio também aqui no estado de São Paulo, governado há 27 anos pelo PSDB.
O estado mais rico do Brasil é o mais profundamente desigual, paralisado, os servidores públicos são atacados. Analisando o cenário, vi que era importante dar um gesto para a unidade. Claro, também tem um elemento que é compreender a importância do debate hoje sobre as eleições legislativas.
Bolsonaro esculhambou de vez a governabilidade no Brasil, entregando a chave do cofre para o Centrão, terceirizando o orçamento e as políticas públicas. Precisamos desmontar isso. Eleger o Lula é o primeiro passo. O mais decisivo deles, sem sombra de dúvidas.
Mas não basta eleger o Lula e manter o Congresso com a mesma composição. Então vai ser preciso um esforço para ter uma bancada de esquerda, uma bancada popular grande no Congresso Nacional. Eu entendi que a melhor contribuição que eu posso dar para o projeto que eu acredito e para o projeto que muita gente acredita nesse ano de 2022 é ajudar a fortalecer essa bancada.
Inclusive falando sobre São Paulo, você propôs um debate público com o Eduardo Bolsonaro, que obviamente, não topou. Você tem, então, um desafio ainda maior: de ser o deputado com mais votos do Estado e impedir que o Eduardo Bolsonaro volte a ocupar esse posto. Qual o tamanho desse desafio?
Digamos, que esse é um objetivo adicional, é a cereja do bolo. Além da gente fortalecer uma bancada de esquerda, é simbolicamente muito ruim, é uma mensagem política muito ruim, que um cidadão como Eduardo Bolsonaro, desqualificado, amigo de miliciano, filhote mimado do presidente, seja o deputado federal mais votado de São Paulo e do Brasil, como foi em 2018.
Agora, eu acho que a votação que ele teve em 2018, é difícil que se repita nessa eleição, porque a circunstância era outra, a conjuntura era outra. A máscara do Bolsonaro caiu e os votos do Bananinha não são dele. Os votos do Bananinha são do papai, então eu acho que nós temos condição real de tirar esse posto dele de deputado mais votado.
Vamos ter que trabalhar pra caramba, amassar barro, correr esse estado, construir unidade no campo progressista para poder chegar a esse objetivo. Agora eu soube, vocês devem ter visto também circulando na imprensa – precisa ver o que que é especulação e o que é fato – mas o Sergio Moro transferiu o título [eleitoral] para São Paulo e começa a dizer que pode ser candidato a deputado federal. Meu amigo, imagine de uma vez só a gente derrotar o Bananinha e o juiz ladrão? Vai ser sensacional. É correr pro abraço.
Talvez tenhamos, hoje, o Congresso Nacional mais conservador da história. Você falou em uma entrevista recente sobre a importância de esse bloco progressista ter pelo menos um terço da Câmara para barrar impeachments, por exemplo. Há uma estratégia para isso, para que as pessoas olhem para as eleições legislativas, para além das escolhas majoritárias para governador e presidente?
Zé, precisa ter essa estratégia. E o primeiro passo dessa estratégia é justamente a gente ter nomes e chapas robustas nos estados, dos partidos de esquerda, das federações de esquerda, que sejam competitivas, capazes de atrair uma votação expressiva para a gente chegar ao número que precisa.
A outra parte dessa estratégia é levar para o debate público a importância da eleição parlamentar, porque essa não é a cultura política brasileira. Muitas vezes você vai discutir a eleição presidencial, a eleição para o governo, a eleição para prefeito e você não discute os nomes de deputados, deputadas estaduais e federais, vereadores, senadores. Isso fica fora do foco. E é muito ruim, porque aí você despolitiza a eleição para o legislativo e gera espaço para que o voto parlamentar, seja ocupado pelo clientelismo. Quem ajudou ali a comunidade, quem botou um asfalto, quem fez uma relação despolitizada.
Cabe a nós, da esquerda, dos partidos de esquerda, do campo progressista, dos movimentos sociais, colocar o debate da eleição legislativa também no centro da agenda de 2022. Eu tenho conversado bastante com o Lula nesse sentido, inclusive. Acho que ele tem um papel decisivo que é, nas suas falas como candidato à presidência do nosso campo, de combate ao bolsonarismo. O Lula precisa, a todo momento, reafirmar que a eleição dele é absolutamente fundamental, mas que para que ele possa ter um projeto de reconstrução do Brasil, vai precisar ter um parlamento diferente daquele que a gente tem hoje.
Cristiane Sampaio: Aliados do [prefeito de São Paulo] Ricardo Nunes têm dito nos bastidores que ele prepara algumas ações habitacionais para ter um capital de defesa contra você em uma eventual disputa pela prefeitura de São Paulo em 2024. Paralelamente, a gente tem no Brasil um processo histórico que tenta invisibilizar essa luta popular por habitação. Me parece que nós temos em você um ator político, um personagem que consegue vocalizar de uma forma muito bem sucedida essa demanda. Queria saber a que você atribui o êxito político que te fez chegar até aqui?
Olha, Cris, primeiro eu lamento muitíssimo que alguém que ocupa o cargo de prefeito da maior cidade da América Latina resolva fazer uma política habitacional, não porque São Paulo tem 40 mil pessoas em situação de rua, mas por uma preocupação eleitoral daqui a dois anos. É triste ver esse tipo de pensamento eleitoreiro e totalmente descomprometido com a vida real, com a necessidade real das pessoas.
Agora, eu acho que um dos grandes ganhos da crise que a gente teve na campanha de 2020, no debate político que a gente tem feito, é conseguir colocar a pauta da moradia, a pauta do direito à cidade, como um debate importante na agenda pública. Como você disse, historicamente foi invisibilizada. Da mesma forma que muita gente passa, vê alguém numa calçada debaixo de um viaduto e vê como se fosse parte da paisagem, também invisibiliza.
Então esse mérito não é meu, individualmente. Esse mérito é de uma luta coletiva de milhares de pessoas, luta da qual eu faço parte e tenho tido a honra de ser um porta-voz, um representante dessas batalhas, que é a luta do MTST, a luta dos movimentos de moradia, das ações de solidariedade e de acolhimento em relação à população de rua por lideranças como o padre Júlio Lancelotti.
É um resultado coletivo, não é mérito individual. É resultado de muitas manifestações, de muitas ocupações, de muitas denúncias, de muita gente lutando debaixo de chuva, debaixo de sol. Tudo isso teve a potência de colocar esse debate no centro da agenda. Eu jamais teria sido um porta-voz dessa luta se ela não tivesse a base e a força de tanta gente.
José Eduardo Bernardes: Pegando carona no tema que a Cris levantou sobre o Ricardo Nunes. Sei que ainda tem muita água para rolar, mas você já pensa em disputar a prefeitura de São Paulo em 2024? É um desejo pessoal?
Em 2020 nós fizemos uma campanha que teve uma força popular e simbólica muito grande, nas condições mais adversas. Eu tinha 17 segundos na TV, não tinha máquina, não tinha estrutura, não tinha grana, ninguém acreditava e a gente chegou no segundo turno e quase ganhou a prefeitura da maior cidade do Brasil, mesmo sem ter, naquele momento, uma unidade do campo progressista. Havia quatro candidaturas do campo progressista no primeiro turno.
Então, eu espero que em 2024 a gente aprenda essas lições e busque unidade para apresentar outro rumo para São Paulo. Mas, neste momento, o foco tem que ser o desafio de 2022. Nós temos uma eleição presidencial para ganhar, tirar o Bolsonaro. Temos o desafio aqui no estado de São Paulo de derrotar o tucanato. Temos o desafio de eleger um Congresso Nacional diferente, então é muita coisa em 2022 para que a gente antecipe os desafios daqui a dois anos.
A Campanha Despejo Zero teve uma vitória importantíssima na última semana, com a decisão do ministro Barroso de prorrogar a proibição de despejos até junho deste ano. O Brasil de Fato tem feito coberturas, há muito tempo, de despejos que aconteceram mesmo durante a proibição decretada durante a pandemia. Qual é a segurança que os movimentos e as ocupações podem ter com essa decisão?
Essa decisão foi muito importante. Eu quero aqui, inclusive, parabenizar o ministro Barroso pela sensibilidade social que tem tido na condução desse caso, rara de se ver nas instituições no Brasil. A suspensão dos despejos foi fruto de uma ADPF [Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental], uma ação do PSOL junto com o MTST e a Campanha Despejo Zero, em junho do ano passado. Ela determinou um prazo de suspensão no Brasil inteiro e no fim do ano tivemos conversas com o ministro Barroso. Ele prorrogou até agora, o fim de março, e agora fez uma nova prorrogação, entendendo que a situação é muito dramática.
Primeiro, nós solicitamos a suspensão dos despejos, com o argumento evidente de que ainda estamos no meio da pandemia e a orientação sanitária é das pessoas buscarem o isolamento, as pessoas terem condições de higiene pessoal para se protegerem do vírus. Despejar pessoas das suas casas é um contrassenso absurdo. E foi assim que foi acolhido.
A pandemia não acabou. É óbvio que a pandemia hoje está numa situação mais moderada por conta do processo de vacinação, mas ela ainda não acabou. Em segundo lugar, nós vivemos hoje, além da pandemia, uma crise social gravíssima, uma epidemia de desemprego, uma epidemia de fome, uma epidemia de inflação nos alimentos, nos produtos básicos, nos combustíveis.
Então veja, existem agora 130 mil famílias que foram atendidas por essa medida, que poderiam ser despejadas a partir de amanhã se o Barroso não desse a complementação. A gente poderia ter um cenário de tragédia de despejos a rodo no Brasil. Foi muito razoável a postura dele, sensibilizado com o argumento levado pelos movimentos sociais. Claro, termina em junho.
Nós temos que nos organizar para que esse debate tenha mais força na sociedade Brasileira, porque o ideal, para além da discussão da pandemia – porque a decisão do Barroso, da ADPF, tem a ver com a pandemia – nós temos que fazer um debate sério na sociedade brasileira, de que nenhuma família pode ser despejada sem ter alternativa habitacional.
Porque tirar as pessoas do lugar onde elas vivem por tanto tempo, regularmente – e ninguém vive numa área irregular porque quer, vive por falta de alternativa – ainda mais no momento em que as políticas habitacionais foram desmontadas no país?
Essa, inclusive, deve ser uma das suas bandeiras, caso eleito deputado federal. O Minha Casa Minha Vida, como você falou, foi destruído, asfixiado e o novo programa que o substituiu, o Casa Amarela, até agora não surtiu nenhum resultado concreto. É possível resgatar o programa como ele funcionava antes?
Zé, eu acho que nós temos que aprender com a experiência do Minha Casa Minha Vida, que foi um programa importante, o maior programa habitacional da história do Brasil, contratou mais de 550 mil moradias. Isso é relevante, ainda mais quando a gente está hoje num cenário de destruição da política habitacional. A gente sente falta de ter essa política, mas tinha alguns limites que nós precisamos superar numa nova versão de programa habitacional.
Por exemplo, o Minha Casa Minha Vida acabou, pela sua lógica de funcionamento, reproduzindo o processo de jogar as famílias mais pobres para periferias mais distantes, onde não tem infraestrutura, onde não tem serviços públicos, longe dos polos geradores de emprego, o que faz com que as pessoas façam viagens de uma hora e meia, duas horas em grandes cidades, todos os dias, para ir trabalhar.
Então, nós precisamos fazer um debate de um programa habitacional com participação ativa dos movimentos sociais, de arquitetos urbanistas, também na sua concepção, que leva em conta a necessidade de produção em massa de moradia, porque o déficit habitacional no Brasil é gigantesco, mas que faça isso não apenas pensando o teto. Que faça isso pensando lógica de cidade, uma cidade mais inclusiva, uma cidade mais democrática, menos segregada, com acesso a serviços, com acesso à infraestrutura urbana.
Que se reduzam as distâncias entre o local de moradia e local de trabalho, que se envolva também políticas de atendimento emergencial por locação social, que é fundamental para atender a população em situação de rua, por exemplo.
Nós temos o desafio de conceber um programa habitacional que tenha o mérito do Minha Casa Minha Vida, que foi o sentido de muitos recursos, subsídios, para atender famílias mais pobres, mas que supere os limites do Minha Casa Minha Vida, tendo uma concepção de cidade mais democrática.
O ex-juiz Sergio Moro praticamente desistiu da pré-candidatura à presidência e trocou o podemos pelo União Brasil. Essa terceira via está ficando cada vez mais caduca, Boulos?
Francamente, nessa eleição, com o Bolsonaro mantendo uma base consolidada como ele tem – ele tem ali um núcleo duro dele, um piso eleitoral, em torno de 15, 20 por cento da sociedade – e o Lula, que representa a possibilidade real de derrota do bolsonarismo do outro lado, eu não vejo que haja espaço para crescimento de terceira via.
E vamos combinar que tanto o Moro quanto o Doria, eu não diria nem que são terceira via, são a segunda via do bolsonarismo. Eles representam a mesma agenda econômica do Bolsonaro, muitas vezes representam as mesmas práticas autoritárias do Bolsonaro. Não foi por acaso que ambos estiveram com Bolsonaro nas eleições de 2018. O Moro foi ministro do Bolsonaro.
Eu acho que nós vamos ter uma eleição polarizada entre Lula e Bolsonaro e espero que todo o campo popular e progressista se reúna em torno da candidatura do Lula para poder derrotar o Bolsonaro.
Talvez o Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul, possa entrar nessa disputa, não é?
Pode até entrar na jogada o Eduardo Leite, mas que projeto diferente o Eduardo Leite representa? Nós temos que fazer esse debate: que projeto econômico, social e político ele representa? Às vezes as pessoas querem buscar um Bolsonaro que saiba comer de garfo e faca. Um Bolsonaro mais civilizado. Nós não podemos cair nesse canto da sereia.
E esse é um ano importantíssimo para a democracia brasileira, que a gente sabe, se faz nas ruas, com a luta por direitos e levando os poderes executivos sempre para o lado dos direitos humanos. Há espaço para grandes manifestações ainda neste ano? Sei que no próximo dia 9 de abril tem ato marcado. O que esperar desse ato?
Nós não podemos perder o pulso da rua, inclusive para o debate na sociedade brasileira, para a disputa de projetos no processo eleitoral. A rua é fundamental. Nosso desafio este ano não é só buscar votos, nós vamos ter que conquistar mentes e corações no Brasil. E você ter o caldo de rua, a mobilização de rua, os movimentos sociais atuantes, é muito importante para o que a gente vai enfrentar agora em 2022, ao longo dos próximos meses.
Então, eu acho que foi muito correto, um acerto da Frente Povo Sem Medo, da Frente Brasil Popular, da Campanha Fora Bolsonaro convocar essa mobilização para o dia 9, inclusive em resposta à ofensiva autoritária do Bolsonaro, essa nota absurda que nós tivemos do golpe militar, assinada pelo ministro da Defesa e pelos comandantes militares.
É um ato de reafirmação da defesa da democracia, de ditadura nunca mais, trazendo as pautas sociais que estão massacrando o povo brasileiro: a fome, o desemprego, a inflação, a carestia. É muito importante que a gente tenha mobilizações de rua, ainda que elas possam não ser mobilizações de multidões nesse momento, é importante que a gente marque a presença do movimento social nas ruas do Brasil.
O Babá, o Plínio de Arruda Sampaio Júnior e outros integrantes do PSOL defendem uma candidatura própria do partido à presidência e o nome seria do [deputado federal] Glauber Braga. Pregam também uma ruptura da aliança com o PT e da federação com a Rede. Como lidar com essas tendências dentro do PSOL?
Zé, todo partido tem sua diversidade interna, tem espaço para debate interno. O PT tem também as suas diferenças internas. Eu me lembro, em 2002, quando o Lula foi eleito Presidente da República, ele teve que passar por uma prévia interna no PT para ser candidato a Presidente.
Você tem campos majoritários e campos minoritários em todos os partidos. Felizmente, essa posição [contrária à federação e ao apoio a Lula] é minoritária no PSOL. O PSOL indicou no seu Congresso, e caminha para chancelar na sua conferência eleitoral, o apoio a Lula. O pessoal na sua Executiva Nacional já definiu pela federação com a Rede e vamos seguir trilhando essa caminhada de amplitude.
Sem sectarismos, sem estreiteza, mantendo a coerência com os princípios do partido, fazendo uma disputa em um debate programático, que é importante nesse momento, mas ao mesmo tempo, buscando unir forças para derrotar a extrema direita e derrotar o Bolsonaro. Esse será o caminho que o PSOL deve seguir.
A federação com a Rede, inclusive, foi aprovada nas últimas semanas, mas os membros dos partidos terão liberdade para se posicionar durante o período eleitoral. Há uma expectativa de que uma parte da Rede apoie, por exemplo, Ciro Gomes. É, também, uma tarefa difícil para que essa federação se fortaleça durante os próximos quatro anos?
Não é isso que foi aprovado na federação. Não é a liberação dos seus membros. A federação deverá apoiar o Lula, vai estar na coligação do Lula. É o que foi definido. Isso, assim, é mais como uma cláusula de segurança. Em tese, ela seria desnecessária, já que a federação garante a autonomia dos partidos.
É que a Rede passa por uma disputa interna mais forte em relação a isso, na sua executiva partidária nacional, de definir que alguns militantes da Rede que não querem apoiar o Lula não sejam obrigados a apoiar. Isso é quase uma obviedade, nem seria necessário ter uma cláusula nesse sentido. Ninguém iria obrigar, forçar alguém a apoiar o Lula.
Talvez apoiem o Ciro, não sei, mas o fato é que a federação não tem uma questão de liberação. A federação deverá estar na coligação do Lula e fará a campanha para o Lula.
Edição: Rodrigo Durão Coelho