O presidente do Peru, Pedro Castillo, suspendeu na tarde de terça-feira (5) o decreto que assinou horas antes e que impôs um toque de recolher na capital Lima e no distrito de Callao. A medida foi tomada após reunião com a Mesa Diretiva do Congresso.
"Devo informar que a partir de agora vamos anular o toque de recolher, cabe ao povo peruano se acalmar", disse Castillo.
Diante de um protesto de caminhoneiros por conta da disparada do preço dos combustíveis, Castillo havia decretado um toque de recolher após mais de uma semana greve, com episódios de interrupções de rodovias, saques e destruição da propriedade privada.
Parte da população, contudo, não aceitou a determinação a saiu às ruas mesmo assim. Os manifestantes chegaram, inclusive, a ficar a apenas uma quadra do Congresso enquanto Castillo estava no local, mas foram afastados pelas forças policiais.
“Saíram [às ruas] nos bairros mais ricos e prósperos, famílias brancas com a camiseta de futebol do Peru, levantando um nacionalismo chauvinista, protestando contra uma suposta ditadura. Essa fórmula que já conhecemos do Brasil, na Bolívia”, diz José Carlos Llerena, militante da organização La Junta, ao Brasil de Fato.
Llerena destaca que existe um descontentamento legítimo com os aumentos dos preços e do custo de vida, e que Castillo errou ao não tentar lidar com esse problema imediatamente, mas ressalta que a direita tenta agora aproveitar o descontentamento para promover sua "estratégia golpista".
Nesta quarta-feira (6),o tradicional jornal peruano El Comercio defende em editorial a renúncia de Castillo: "O principal responsável pela deriva em que o país se encontra é Pedro Castillo. A essa altura, sua incompetência já parece incorrigível; sua presidência, insustentável, e sua renúncia, a melhor saída", defende o jornal.
Além das quatro mortes já registradas durante os protestos, outras 11 pessoas ficaram feridas na terça-feira (5). Segundo o Ministério da Saúde do Peru, do número total de feridos, cinco são civis e seis são membros da polícia peruana.
Castillo, que já sofreu duas tentativas de impeachment e reformulou diversas vezes seu gabinete de ministros, foi criticado por setores da esquerda por sua postura. A ex-candidata presidencial Verónika Mendoza, cujo grupo político rompeu com o presidente, atacou Castillo.
“O governo não apenas traiu suas promessas de mudança, mas agora está repetindo o método de direita de 'resolução de conflitos': ignorar aqueles que se mobilizam em legítima insatisfação com a situação econômica e política, reprimindo, criminalizando e restringindo direitos”, disse Mendoza.
*Com informações de Opera Mundi.
Edição: Arturo Hartmann