As igrejas evangélicas têm dado respostas concretas para trabalhadores e, por isso, vêm se expandindo ao longo de décadas pelas periferias do país, incluindo no Distrito Federal, onde o segmento tem enorme penetração social.
A partir desta inegável constatação, o Movimento dos Trabalhadores por Direitos no DF (MTD-DF), por meio de um trabalho realizado em parceria com o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, tenta responder uma série de questões sobre a religiosidade e a classe trabalhadora.
Quem são os evangélicos? Como e por que eles cresceram tanto nas últimas décadas? O que os evangélicos pensam sobre a esquerda brasileira? Afinal, ao falarmos sobre os evangélicos estamos tratando de algo homogêneo?
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Essas perguntas guiaram a pesquisa que resultou na cartilha: ‘Resistir com Fé: Evangélicos e Trabalho de Base’, que será lançada nesta sexta-feira (8), em Brasília, no auditório da Central Única dos Trabalhadores no Distrito Federal (CUT-DF), com a presença das pesquisadoras do Instituto Tricontinental Angélica Tostes e Delana Corazza.
O material elaborado pelo Instituto traz entrevistas com evangélicos e evangélicas, com visões tanto conservadoras como progressistas. A análise aborda as origens e o crescimento do fenômeno religioso, além dos desafios e avanços do trabalho de base realizado entre esse público.
"O objetivo central da cartilha é entender que os evangélicos estão realizando o trabalho de base, têm uma atuação no território, possuem relação de vínculo com mulheres e homens, contribuem na melhoria da condição de vida do nosso povo. A questão central é: Como iremos fazer para nos reaproximarmos desse campo que é plural?", aponta Márcia Silva, da coordenação do MTD-DF e uma das militantes envolvidas com o trabalho de aproximação do movimento social com os evangélicos na periferia do DF.
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Em meados de 2020, quando a pandemia se agravava no país, organizações do campo popular, como MTD, Levante Popular da Juventude, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre outros, passaram a desenvolver ações de solidariedade nas comunidades periféricas da capital do país, incluindo um estreitamento de laços com a população evangélica, formada em sua maioria por trabalhadores pobres e, por isso, alvo do descalabro da pandemia causado principalmente pelo governo Bolsonaro.
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"Com o passar do tempo fomos percebendo que o povo precisa de comida, mas tem também uma dimensão subjetiva que é a da religiosidade no cotidiano das nossas periferias. Por isso, iniciamos o grupo de trabalho (GT) de espiritualidade em parceria com as famílias, militância, os Evangélicos Pela Justiça (EPJ) e o Instituto de Pesquisa Tricontinental", relata Márcia Silva.
Todo esse trabalho realizados nos últimos dois anos resultou em em textos, análise e formações, contribuindo para a estruturação da cartilha, que será lançada em diversos estados justamente para fomentar o o diálogo das esquerdas com a população evangélica.
Um dos objetivos da cartilha é justamente derrubar preconceitos construídos em relação à fé evangélica dentro do campo da esquerda e estimular um olhar ampliado sobre esse seguimento. "Precisamos ir ao encontro de nosso companheiro e companheira de classe, que tem sua fé, mas que também sofre com os males das políticas neoliberais e excludentes tão presentes na atualidade", diz um trecho do documento.
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Atualmente, mais de 30% da população brasileira segue a fé evangélica. A cartilha do Instituto Tricontinental mostra que esse grupo não é homogêneo e que há espaço para debates sobre direitos, política e justiça social.
Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Flávia Quirino