Os policiais militares que participaram da operação que, no último dia 30 de março, resultou na morte da menina Heloysa Gabrielle, de 6 anos, seguem atuando nas ruas da região metropolitana, só não mais em Porto de Galinhas.
A informação foi dada pelo próprio Secretário de Defesa Social (SDS) do Governo de Pernambuco, Humberto Freire. A família da criança quer punição aos envolvidos e fez outras reivindicações durante reunião com o governador Paulo Câmara e secretários.
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Na última segunda-feira (4) houve um protesto, no Recife, reunindo familiares da criança, colegas de escola e vizinhos. Após uma audiência no Ministério Público de Pernambuco (MPPE), o grupo se dirigiu ao Palácio do Campo das Princesas, sendo recebidos pelo secretário da Casa Civil, José Neto.
Na tarde de quarta-feira (6), os pais da criança foram novamente ao Palácio, acompanhados de juristas que estão acompanhando o caso, e foram recebidos pelo governador Paulo Câmara e pelos secretários de Defesa Social, Humberto Freire; de Justiça e Direitos Humanos, Eduardo Figueiredo; e o secretário de prevenção à violência e às drogas, Cloves Benevides.
No encontro, que durou apenas 30 minutos, os pais da criança pediram o afastamento dos policiais envolvidos na morte da menina; os policiais em questão integram o Batalhão de Operações Especiais (Bope), de modo que os pais também pediram a retirada gradual do Bope dos bairros de Salinas, Socó e Pantanal, todos em Porto de Galinhas; e que o Governo do Estado apresente publicamente um plano de redução da letalidade policial.
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Após a reunião o secretário de Defesa Social, Humberto Freire, afirmou que “os policiais que estavam na ocorrência foram retirados daquela localidade”, confirmando que não houve ainda suspensão ou qualquer punição.
“Queremos uma investigação célere na Corregedoria para, no menor prazo possível, reconstruir os fatos”, disse ele. Sobre a saída do Bope da região, o secretário considera que é necessário seguir com o perfil da operação “para manter a segurança”.
O Brasil de Fato Pernambuco entrou em contato com a SDS, fazendo alguns questionamentos sobre o caso, mas até o momento a secretaria não respondeu.
Mobilizações
Desde a morte da criança, na quarta-feira (30) da última semana, a população do bairro de Salinas, no distrito de Porto de Galinhas, Ipojuca, realizou uma série de protestos, trancamentos de rua e isso afetou o turismo local. O Governo do Estado respondeu enviando mais 250 policiais para a região.
A população de Salinas tem reclamado da presença ostensiva da polícia, problema que já existia antes, mas que segundo os moradores teria se agravado desde a morte de Heloysa e os protestos. Ana Luiza, prima da criança vitimada e mãe de outras crianças, disse à Rede Globo que está amedrontada. “São muitas crianças aqui. Deixo as minhas em casa, mas com medo. A PM está aqui todos os dias e a gente não tem mais sossego, não se sente mais segura”, reclamou.
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A Polícia Militar afirma que houve uma troca de tiros com traficantes e ainda não era possível afirmar de quem partiu o tiro que matou a criança. Mas moradores contam que não houve troca de tiros, apenas disparos efetuados pela polícia, que perseguia um único suspeito fugindo numa moto.
Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, a região metropolitana do Recife teve, de 2018 a 2022, 286 pessoas baleadas durante operações policiais, dos quais 127 (44,4%) morreram. No ano de 2021 a RMR teve 1 criança e 70 adolescentes mortos por armas de fogo. Em 2022, só no período de janeiro ao fim de março, já foram 1 criança e 23 adolescentes mortos por arma de fogo.
Carta à ONU e ao CIDH
Uma carta foi endereçada à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) falando sobre a atuação da Polícia Militar em Pernambuco e chamando as instituições a cobrarem respostas do Governo do Estado e Governo Federal.
O documento afirma que estava havendo violação de Direitos Humanos, resultando na morte da criança. E que quando a população protestou, o poder público respondeu com mais policiamento e cerceamento ao direito à manifestação. A carta é assinada por 119 organizações que atuam na defesa dos Direitos Humanos e defesa do povo negro.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga