Paquistão

Liga Muçulmana do Paquistão volta ao poder após destituição de Imran Khan

Ex-premiê acusa Estados Unidos de inteferência e diz que há "intervenção estrangeira" em curso no país

Brasil de Fato | São Paulo |
Novo primeiro-ministro representa coalizão inédita - AFP

O novo primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif (Liga Muçulmana do Paquistão - PML-N) foi eleito nesta segunda-feira (11) após a destituição de Imran Khan (Movimento Paquistanês pela Justiça - PTI) por uma moção de censura.

O ex-primeiro ministro denuncia a interferência dos Estados Unidos em seu afastamento por conta de sua negativa em apoiar o país norte-americano em seu posicionamento contra a Rússia e a China, países com os quais mantém relações econômicas. Além disso, o Paquistão também é um dos poucos países com ligações políticas e econômicas com o Afeganistão desde que o Talibã assumiu o governo, em agosto.

O movimento decisivo partiu da perda de aliados e da coalizão entre os dois partidos da oposição que historicamente se alternaram no poder desde a independência do Paquistão, em 1947: a Liga Muçulmana do Paquistão (PML) e o Partido Popular do Paquistão (PPP). Para driblar esses movimentos recentes da oposição, Khan decidiu dissolver o Parlamento na semana passada, alegando interferência estrangeira na política do país.

O Supremo Tribunal decidiu na última quinta-feira (7) que a moção era ilegal e que o Parlamento deveria ser restaurado. Então, nas primeiras horas deste domingo (10), Khan foi deposto com 174 votos a favor dos 342 deputados da Assembleia Nacional.

A sessão foi presidida por Ayaz Sadiq (PML-N) após a renúncia do presidente da Assembleia Nacional, Asad Qaiser. "De acordo com nossas leis e a necessidade de defender nosso país, decidi que não posso permanecer no cargo de orador e assim me demitir", disse Qaiser.

Protestos multitudinários em apoio a Khan ocorreram ainda durante a votação de seu afastamento. Em seu discurso final no Parlamento, o agora ex-premiê reforçou que não ficará de braços cruzados e que continuará na luta "contra a intervenção estrangeira no Paquistão".

Khan publicou nesta segunda-feira em sua rede social agradecendo pela presença da população nos protestos massivos contra sua destituição, a qual acusa ter sido promovida com o apoio dos Estados Unidos. "Nunca antes na história do meu país tantas pessoas saíram por conta própria para rejeitar um governo importado por bandidos", disse.

Eleito em 2018 graças a alianças com outros partidos menores, foi o primeiro chefe de governo a ser destituído por esta via na história do país. A crise política foi aprofundada com a saída de dois desses partidos aliados do PTI, o Movimento Muttahida Qaumi e o Partido Awami do Baluchistão.

A eleição de Sharif chega em um contexto de alta inflação e profunda crise econômica, com o aumento descontrolado dos preços de produtos essenciais, como grãos, trigo, açúcar e azeite. Além disso, será a primeira vez que o PML-N e o PPP, historicamente rivais, atuam como aliados, o que abre uma incógnita sobre sua governabilidade.

"A história mostra que não há convergência ideológica entre eles", disse o ex-ministro das Relações Exteriores Shah Mehmood Qureshi, de acordo com a AFP. Qureshi, que foi candidato pelo PTI a primeiro-ministro, ressaltou que a destituição de Khan havia se tratado de um "processo ilegítimo".

*Com informações de People's Dispatch e Prensa Latina.

Edição: Thales Schmidt