Representantes de organizações sociais e políticos de oposição manifestaram solidariedade ao padre Júlio Lancelotti pela abordagem policial sofrida pelo religioso durante encenação da Via Sacra em São Paulo, na sexta-feira (15). O pároco, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, conduzia o evento quando agentes da Polícia Militar (PM) o abordaram para cobrar informações e pedir os documentos do padre.
Segundo informações publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo, os agentes da corporação chegaram a fotografar a identidade de Lancelotti, que também teve que prestar esclarecimentos sobre a origem e o destino final da Via Sacra.
“Toda solidariedade ao Padre Julio Lancellotti, abordado de forma intimidatória pela PM durante Via Sacra em SP. Enquanto isso, uma estrada foi fechada e os cofres públicos desperdiçaram R$ 1 milhão em uma motociata eleitoreira”, afirmou, neste domingo (17), o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP).
A declaração do psolista é uma comparação entre a ação do religioso e o evento promovido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) na capital paulista na mesma data, quando o chefe do Executivo liderou milhares de motoqueiros em um trajeto de São Paulo até o município de Americana (SP).
“Minha solidariedade ao Padre Julio Lancellotti, que foi interrompido pela Polícia Militar ontem, em São Paulo, durante a Via Sacra, evento religioso importante e tradicional, em plena Sexta-feira Santa”, disse também a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS).
Usando a mesma rede social, o deputado Glauber Braga (Psol-RJ) demonstrou “apoio e solidariedade” ao pároco e acrescentou que “ele nunca está sozinho”.
Outros atores também se manifestaram pelo Twitter. A advogada Mírian Gonçalves, uma das fundadoras do PT e ex-vice-prefeita de Curitiba (PR), também lamentou o ocorrido.
A diretora-executiva da Anistia Internacional Brasil e ativista do movimento de mulheres negras, Jurema Werneck, também demonstrou apoio ao líder religioso pela atitude da Polícia Militar: “Toda solidariedade ao padre Júlio Lancelotti!”, disse pelo Twitter.
Via Sacra
A procissão organizada pelo padre Júlio contou com a presença de moradores de rua que vivem na região central de São Paulo. A encenação começou no Largo de São Bento e em sua quarta parada, em frente ao prédio da Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, foi abordada por quatro policiais.
Segundo o padre, toda encenação foi pacífica. “A população de rua pendurou cobertores nas grades em frente à Prefeitura como forma de protestar contra as operações do “rapa” [retirada de pertences por agentes do Estado]. Quando os cobertores foram retirados, foram jogadas flores naquele espaço. E várias dessas pessoas estavam manifestando o seu sofrimento e realidade que vivem”, disse à Ponte.
“Quatro policiais militares entraram no meio da manifestação e queriam saber quem era o responsável. Quando chegaram até mim, queriam me levar para outro local. Eu disse que não iria porque estava comandando a procissão. Eles insistiram e eu concordei em falar com eles ali. Queriam saber o que era aquilo que estava ocorrendo, para onde iria, até que horas iria e tiraram foto dos meus documentos”, detalhou o padre em depoimento à Ponte.
A PM não se manifestou a respeito da ação.
Edição: Sarah Fernandes