O alimento sagrado é aquele que produz saúde plena, para o corpo e para os territórios
“A alimentação não deixa de ser uma questão política. O ato de alimentar, produzir e preparar os alimentos pode definir você e seu coletivo. Ou seja, a alimentação diz quase tudo sobre a gente”. É o que afirma Iran Neves Xukuru que faz parte do coletivo de agricultura ancestral Jupago Krekrá sobre a importância da alimentação para os indígenas Xukuru de Ororubá.
A maior parte do Território Indígena Xukuru de Ororubá está localizado na Serra do Ororubá, no município de Pesqueira, e uma pequena parte cerca de 5% fica no município de Poção, no estado de Pernambuco. A demarcação das terras ocorreu em 2006 e lá vivem 2.500 famílias.
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Para ele, a alimentação em si traz a fidelidade com o mundo velho e a revolução ocorre quando os indígenas não dependerem do alimento que vem de fora, por exemplo, do que é produzido pelo agronegócio.
“Se a gente se alimenta do que vem dos nossos inimigos e opositores, isso significa que o levante em relação aos direitos territoriais e os direitos sagrados da natureza, ainda tem um longo caminho. Brigamos com o agronegócio e nos alimentamos dos produtos deles, então temos muito por fazer”, diz Iran.
Essa fidelidade citada por Iran tem a ver com a identidade e a espiritualidade do povo Xukuru. A alimentação considerada sagrada leva em conta o manejo saudável da terra, com o cultivo com base na agroecologia que, segundo eles, ativam as memórias ancestrais além de também refletir na saúde do corpo, do espírito e da mente.
Segundo Iran, o alimento sagrado é todo aquele alimento que atende as necessidades nutricionais do corpo e é produzido em sistemas agrícolas sustentáveis e saudáveis.
“Estamos em uma terra que é sagrada, cujos donos são os encantados, e em terra alheia se pisa devagar. Além disso se produz alimento trazendo a cultura do encantamento que exige de nós produzir também saúde e promover territórios saudáveis. Isso diz muito sobre a nossa identidade, porque se somos filhos da mãe natureza temos que promover a saúde plena”.
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O agrônomo explica que o "bem viver" é um conceito, uma linha de pensamento que os Xukuru trazem à memória e valorização da cultura indígena . Todo alimento que promove vida, saúde, identidade, luta e resistência são alimentos que fortalecem o bem viver. Ele cita alguns.
“Temos alimentos e preparados que entram em rituais e que trazem a memória ancestral: favas, alimentos que são remédios, tipo café de gandu, mandioca purnunça, café do cabruncursso, mogolo, que é uma espécie de favada , xoxogo, tipo um pirão, feito da massa da mandioca, são alimentos que nutrem o espírito”.
Edição: Douglas Matos