Filha de pescadores da Ilha do Peru, no município maranhense de Cururupu; a professora Luciléia Ferreira Lopes Gonçalves atua há 32 anos como professora de Geografia e foi empossada reitora da Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL) no mês de março.
Luciléia atua na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) desde 1990 e, com o desmembramento do campi Imperatriz que deu origem à UEMASUL em 2016, a educadora passou a atuar na instituição da qual hoje é reitora. O Brasil de Fato Pernambuco conversou com Luciléia no Trilhas do Nordeste. Confira os principais pontos da entrevista:
Brasil de Fato Pernambuco: Luciléia, sua chegada ao posto mais alto de uma universidade levanta muitas questões, uma delas é do espaço da mulher em lugares de decisão. Como você avalia esta conquista?
Luciléia Ferreira: Eu avalio pelo caminho que todas as mulheres devem seguir: a educação. E eu nunca posso esquecer da minha estrutura familiar humilde e distante dos grandes centros, mas que sempre pensou. Essa chegada ela se dá por toda essa trajetória da educação que me proporcionou e que eu nunca parei, eu sempre fui em busca dessa qualificação.
Então, eu vejo tudo isso como uma oportunidade. E é uma oportunidade que as mulheres, todas as crianças, as nossas meninas devem ter.
O que mudou nesses seus 32 anos como educadora, no que diz respeito ao acesso ao ensino superior?
Eu comecei exatamente na década de 90, a chamada década da educação. A década de 90 foi considerada em função da nossa LDB que é de 96. E, apesar disso estar na Constituição desde 88, é realmente a partir de 96 que algumas leis vão implementar a educação superior e ela vai poder, até mesmo, se diversificar e se interiorizar.
:: Universidades federais perdem 12% do orçamento durante governo Bolsonaro ::
Essa interiorização ela tem que ser realmente pensada como algo que foi positivo, no nosso caso em nível estadual criando a nossa instituição e em nível federal, com os institutos e as universidades federais que se interiorizaram dando oportunidade a muitas pessoas que às vezes só fazia o ensino médio e por condições econômicas não iam para as grandes sedes.
Você vem de uma comunidade pesqueira. Como era o acesso à educação e qual a realidade que essas comunidades enfrentam?
É a mesma realidade, uma escola com duas salas de aula, salas muito seriadas ainda, professores que vão da sede às vezes, dá aula lá e uma professora também que já existe lá. Então, não mudou nada. A única diferença hoje é que, na hora que ligam o motor a diesel, por exemplo, nesse momento agora se eu quiser falar com alguém de lá por WhatsApp eu consigo, eles têm acesso a internet à noite.
As comunidades pesqueiras continuam na pesca artesanal, a diferença hoje é a facilidade de ter gelo na sede de Ururucu, que tem várias fábricas de gelo. As pessoas hoje têm lanchas a motores, então é fácil ir na comunidade. Mas, em termos de escola, a comunidade é a mesma, as dificuldades ainda são intensas, melhorou um pouco a questão das vias e do transporte que na minha época era muito difícil mesmo”.
Na sua experiência como professora e reitora, como você analisa as políticas públicas de investimento na educação superior? Você acha que há um recorte de importância dessas políticas para a região Nordeste?
:: Crise na Capes expõe fragilidade da ciência no Brasil e abandono de pesquisadores de ponta ::
Aqui eu posso falar a partir da UEMASUL, as políticas públicas estão muito centradas. Por exemplo, o auxílio Bolsa Permanência que a gente tem é uma política social para que o aluno que vem de fora ele tenha condições de ficar, de não evadir da universidade. Então, a gente tem várias modalidades de bolsa.
Bolsa pro incentivo aos professores de mestrado e doutorado, a gente tem as bolsas de iniciação científica, a bolsa pra quem já é graduado e ainda não conseguiu emprego, então são políticas públicas que fazem com o que o aluno tenha acesso a esses tipos de bolsa que possibilita ele permanecer na universidade
Como você percebe a necessidade das políticas públicas de cotas na educação, principalmente na região Nordeste?
Eu sempre fui e sou a favor das cotas, eu penso que é um programa de inclusão, é um programa de até rever mesmo todos esses problemas que a gente sempre teve com os menos favorecidos.
Leia também: Apenas 20% das universidades públicas têm cotas para quilombolas
Todos os dados socioeconômicos relacionados à educação também sempre colocam nossos indígenas, nossos negros, nossos pardos, como aquelas pessoas que menos têm acesso a condições sociais de vida, moradia, de estudo e salários.
Então eu sou totalmente a favor, acho fundamental pra uma região que precisa de muita política pública, muito apoio aos investimentos na educação para que essa região se desenvolva plenamente com base em conhecimento técnico na ciência.
Fonte: BdF Pernambuco
Edição: Vanessa Gonzaga