Estudo realizado pela consultoria Global Petrol Prices mostra que o Brasil é ao mesmo tempo o nono colocado no ranking dos 15 principais produtores de petróleo do mundo, mas o segundo entre os que registram os maiores preços de gasolina, considerando o poder compra da população nesses mesmos 15 países. O Brasil só perde para a Noruega, onde a renda mensal média entre os trabalhadores é mais de 10 vezes a dos brasileiros. Nesse caso, mesmo pagando US$ 121 por 50 litros de gasolina, um norueguês compromete 2,11% de sua renda mensal. Enquanto um brasileiro gastará R$ 358, ou US$ 76,50 no combustível. O equivalente a 14,26% da atual renda média mensal.
De acordo com o economista do Dieese na subseção da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cloviomar Cararine, a situação brasileira “comprova o equívoco da política de Preço de Paridade Internacional (PPI)”, adotada desde outubro de 2016 pelo governo de Michel Temer e mantida pelo atual governo de Jair Bolsonaro. Após o golpe do impeachment contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, a direção da estatal decidiu dolarizar os preços dos combustíveis no Brasil. De lá para cá, a gasolina já subiu 82,4% nos postos do país. Do mesmo modo, os preços do diesel e do gás de cozinha também aumentaram 93,2% e 85%, respectivamente.
Quando o levantamento da consultoria internacional foi concluído, no último dia 11, o valor médio do litro do combustível calculado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) era R$ 7,192. Enquanto a média mundial estava em R$ 6,29. Ao todo, 170 nações foram pesquisadas. Globalmente, o preço do combustível brasileiro está 15% acima da média.
Brasileiros pagam a conta
“E se a gente comparar qual porcentagem do salário mínimo se utiliza em um país para encher um tanque de gasolina, se percebe que o Brasil está entre os cinco países mais caros do mundo. Porque tanto o salário mínimo parou de crescer quanto a gasolina sobe muito, e você tem esse efeito de redução no poder de compra. Agora, isso não faz nenhum sentido se você compara com países que têm uma capacidade de produção de refino igual ou semelhante à do Brasil. Se a gente compara com esses países é perceptível que muitos deles têm uma política de preços diferente, de proteção ao habitante, ao cidadão daquela região, diferente do Brasil”, critica o economista na coluna do Dieese na Rádio Brasil Atual.
Levantamento da FUP indica, no entanto, que mesmo com os preços em patamar histórico elevado, a Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom) ainda mantém pressão sobre a Petrobras. Segundo nota da entidade, divulgada na semana passada, “apesar da ligeira redução do câmbio e dos preços de referência da gasolina e do óleo diesel no mercado internacional, as defasagens mantiveram-se afastadas da paridade, inviabilizando as operações de importação”. De acordo com Cararine, isso indica que, além da dolarização dos preços dos combustíveis, o Brasil vem perdendo sua capacidade de refino, ficando ainda mais dependente da associação dos importadores.
“Essa é a disputa colocada”, destaca o economista. “Temos que considerar ainda que os acionistas da Petrobras passaram a pressionar a empresa para aumentar o lucro e pagar mais dividendos. Então faz parte desse jogo essa disputa por essa riqueza que é o petróleo”. Em outro ranking, elaborado pela consultoria Oxford Economics, a gasolina brasileira é a terceira mais cara de uma lista de 29 países mais a zona do euro. A comparação também levou em conta o poder de compra do consumidor de cada nação e identificou que o brasileiro compromete 9% de seu salário médio diário na compra do combustível. O mesmo percentual verificado no Paquistão. Apenas nas Filipinas (19%) e na Indonésia (13%) a gasolina é mais cara.