"O capitalismo chegou ao seu fim. O socialismo não é um sonho, é uma realidade". Assim o jornalista indiano Vijay Prashad, da Assembleia Internacional dos Povos, deu o tom do painel de conjuntura da 3ª Assembleia da Alba Movimentos, uma articulação que reúne mais de 400 organizações sociais da América Latina e o Caribe, que teve início da tarde desta quarta-feira (27) na Argentina.
O encontro reúne cerca de 260 representantes de organizações sociais de 23 países da América Latina, Caribe e do mundo no Centro Recreativo Nacional, em Ezeiza, na província de Buenos Aires, para debater os avanços e desafios do campo popular na região e definir, após 5 dias de assembleia, uma atualização do plano de ação comum nos territórios.
"A inflação está fazendo com que as pessoas morram de fome em todo o mundo", pontuou Prashad. "A classe capitalista não tem ideia de como resolver esse problema, ela nos levou à guerra", disse, citando Afeganistão, Síria, Iêmen, Ucrânia. "Somente o socialismo pode acabar com essa realidade tão preocupante."
Representando uma importante delegação na assembleia, a do Haiti, Camille Chalmers, dirigente da Plataforma Haitiana de Reivindicação de um Desenvolvimento Alternativo (Papda), fez uma leitura sobre o momento global em que, segundo diagnosticou, atravessa uma aceleração da crise do sistema capitalista, e propôs uma pedagogia das revoluções.
"A crise está gerando uma indignação crescente dos povos, onde há mobilizações em vários países que questionam certos elementos que haviam sido naturalizados. Mas somos um povo rebelde. Temos que lembrar das revoluções cubana, haitiana, jamaicana, da República Dominicana. São processos de revolução que produziram rupturas profundas com o capitalismo. Esses processos devem dialogar entre si para definir novos caminhos", pontuou.
A construção de um paradigma socialista é a única alternativa que os povos têm para enfrentar a crise capitalista.
– Camille Chalmers
Representando a delegação do Brasil, Nalu Faria, da Marcha Mundial de Mulheres, apontou para a relação intrínseca entre produção e reprodução em sua análise, que partiu da perspectiva dos feminismos populares. "Podemos afirmar que o neoliberalismo está expressando sua essência conservadora. Não há separação entre economia e política, entre produção e reprodução", disse, reforçando a necessidade de entender o feminismo como parte de um aspecto amplo de lutas.
"Como revolucionários e revolucionárias, temos que reforçar o campo do feminismo. Falamos de feminismo anticolonial, antirracista, da luta de classes. Não será possível derrubar esse sistema de classes senão derrotarmos o patriarcado, o colonialismo e o racismo”, disse.
Também esteve presente no painel o dirigente do Movimento de Trabalhadores Desempregados, Lautaro Leveratto, que analisou a concentração de terras na América Latina e Caribe. "Apenas 37% dos camponeses e trabalhadores possuem terras. O resto trabalha em fazendas de seus patrões", denunciou. "Frear a migração do campo para a cidade é chave para a soberania alimentar. Construi-la implica construir redes com as organizações urbanas para gerar um laço entre o campo e a cidade, mas também gerar articulações internacionais é fundamental, e por isso estamos aqui, hoje, na Assembleia da Alba."
Alba Movimentos
Criada em oposição à Área de Livre-Comércio das Américas (ALCA), projeto de bloco econômico para a região proposto pelos Estados Unidos, a Alba Movimentos reúne centenas de organizações populares e realiza sua 3ª Assembleia após adiamentos causados pelo golpe de Estado na Bolívia, em 2019, e a pandemia de covid-19.
As organizações sociais voltam a se reunir, desta vez em Buenos Aires, na Argentina, em uma proposta de integração de lutas no atual contexto da região – ou Nossa América, como definem os movimentos da Alba – e do mundo.
"Percebemos que éramos muitas organizações que miravam o mesmo inimigo, mas estamos dispersas, com estratégias diferentes", diz a secretária operativa da Alba Movimentos Laura Capote. "Com essa assembleia, buscamos alinhar os debates e definir que ponto comum temos nas lutas anticapitalistas, anti-imperialistas e antipatriarcais."
O programa em comum foi traçado nas assembleias anteriores, sintetizada em seis eixos de luta: unidade regional e internacionalismo; batalha ideológico-cultural e descolonização; defesa da mãe terra e soberania dos povos; economia para o bem viver; democratização e construção do poder popular; e feminismos populares.
A Assembleia acontece até o dia 1º de maio, quando o encontro será concluído com uma mobilização pelo Dia do Trabalhador na capital federal e uma marcha até a Praça de Maio.
Edição: Thales Schmidt