Assim como no passado, quem realiza e promove hoje o samba rock continua sendo a população negra
No espaço ritual do baile, surge a dança do samba rock, uma prática essencialmente paulistana. Marcos William Penteado, o Marquinhos, dança desde a infância. O palco eram as suas reuniões familiares. Hoje, ele e a companheira Camila Camargo Rocha expandem a cultura do samba-rock juntos, dando aulas.
"A primeira coisa que a gente vê é que o samba rock é visto primeiramente como dança, com uma uma participação especial dos DJs, que selecionavam músicas onde as pessoas conseguiam dançar juntas e com referência ao estilo de dança americana, que é o rock. Então assim, nesse estilo de dançar samba rock tem muita referência de giros, e com swing brasileiro. Então o samba rock em si ele ganhou uma projeção muito forte aqui em São Paulo, principalmente nas periferias, pela dança", conta Marquinhos
O samba-rock, estilo único de dança de salão, é praticado há várias gerações em clubes, casas noturnas, e centros culturais. No final da década de 1950, excluídos do circuito cultural, a população negra paulistana organizava uma mistura urbana de samba, bossa nova com rock e o jazz norte americanos
Leia mais: Bem Viver aborda expressão negra na música e realidade racista em pesquisa
Os bailes inventam pela primeira vez a figura do discotecário, que iria ser chamado futuramente de DJ. Seu Oswaldo, está entre os primeiros DJ’s da história.
"Quando a gente olha somente para o tipo de música, samba rock, muita gente conhece. É muito popular, são músicas que atingiram o Brasil inteiro. Agora, quando a gente olha para a dança samba rock, muitas pessoas não conhecem o estilo de se dançar, a forma de se dançar. Às vezes a pessoa dança até um sambinha no pé, uma gafieira, como lá no Rio", afirma Camila.
"Então você sai fora do estado de São Paulo, existe samba rock na Bahia, existe banda de samba rock no sul, em Minas, no Brasil inteiro. Porém a dança em si, que é a origem do estilo, a dos DJs, é pouco conhecida", acrescenta o professor Marquinhos.
Historicamente, dentro do ritmo, Tim Maia é uma referência. Jorge Ben Jor revolucionou a cena, com um estilo mais "swingado", brincando com a guitarra. Seu Jorge, e a voz empoderada, deram projeção. E há outros artistas clássicos que também se aventuraram no gênero, como Caetano Veloso, Bebeto e Roberto Carlos.
Conheça ainda: Carimbó, manifestação cultural que retrata a identidade do povo paraense
A partir de 2000, que se inicia uma nova identidade para a cultura do samba-rock, com a presença de bandas, como Sandália de Prata, e o emblemático clube do balanço.
Sandra conheceu o samba-rock em 2007. Como os bailes não eram tão divulgados, ela seguia o ritmo pela agenda das bandas, como sandália de prata, e o emblemático clube do balanço.
"Quando eu comecei a prestar atenção no swing, no ritmo, na musicalidade, eu me apaixonei muito pelo samba rock. Então passei toda semana a estar no baile do samba rock, e comecei mapear todas as casas onde tinha baile e ia eu pro samba rock. E é muito mais que uma dança né. O samba rock tem uma envolvência que poucas danças tem. E ele é muito democrático e isso é muito gostoso de viver, de experienciar", destaca.
Camila Camargo Rocha é criadora do projeto Samba Rock Mulheres, que empodera mulheres no ritmo. A iniciativa resgata o papel histórico das mulheres como protagonistas e não como auxiliares.
Leia também: "É chapa quente": a história das avós que têm transformado a periferia de SP por meio do funk
"Quando eu olho lá atrás quando eu eu vou na minha infância e eu lembro do cenário que eu estava inserida lá na minha família. Eu lembro das mulheres dançando uma com a outra. As mulheres conduzindo umas às outras. Às vezes as mulheres, os homens. As mulheres conduzindo as crianças. Então isso pra mim sempre foi uma referência. E ao longo dos anos, conforme nós fomos nos envolvendo mais profissionalmente no samba rock, através de shows e aulas, nós visualizamos no cenário uma participação muito maior dos homens".
Assim como no passado, quem realiza e promove hoje o samba rock paulistano continua sendo essencialmente a população negra. A música, os DJs, as bandas, os bailes e as festas nas periferias. Tudo resiste e se expande com a força da raízes afro-brasileiras
Edição: Douglas Matos