Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) marcava presença, por meio de vídeo, em manifestações que tinham o Supremo Tribunal Federal (STF) como um dos alvos, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (1º), o presidente do Senado Federal Rodrigo Pacheco (PSD-MG) criticou os ataques promovidos por atos antidemocráticos.
Em seu perfil no Twitter, Pacheco disse que as manifestações são uma expressão da democracia. Nessa linha, o 1º de Maio, Dia dos Trabalhadores, “sempre foi marcado por posições e reivindicações dos trabalhadores brasileiros. Isso serve ao Congresso, para a sua melhor reflexão e tomada de decisões”.
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Entretanto, “manifestações ilegítimas e antidemocráticas, como as de intervenção militar e fechamento do STF, além de pretenderem ofuscar a essência da data, são anomalias graves que não cabem em tempo algum”.
A fala de Pacheco foi a única observada entre chefes do Legislativo e ministros do STF, diferentemente de momentos anteriores. Desta vez, porém, Bolsonaro em seu discurso também não inflou diretamente a crise entre os Poderes como em outras ocasiões.
Recorrência de ataques às instituições
Em Brasília, Bolsonaro permaneceu em silêncio. Em São Paulo, uma live feita em seu perfil no Facebook foi transmitida aos manifestantes. “[Vim] cumprimentar o pessoal que está aqui na manifestação pacífica em defesa da Constituição, da democracia, e da liberdade. Então parabéns a todos de Brasília, bem como todos brasileiros que hoje estarão nas ruas”, disse.
A mudança seria um reflexo dos aconselhamentos que Bolsonaro vem recebendo para diminuir os ataques aos ministros do STF e arrefecer a crise institucional criada pelo presidente desde o indulto concedido ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ).
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Para parlamentares da oposição, no entanto, o presidente não mudou sua postura. O deputado federal Junior Bozzella (SP), vice-presidente do União Brasil, disse que “nunca houve mudança de tom. Tem oscilação de acordo com o momento, mas o enredo é o mesmo, de afrontar o Estado Democrático e os demais Poderes. A simples participação dele já é agressiva. Porque não deixou de ser um ato antidemocrático", disse à Folha.
Em São Paulo, durante a manifestação em comemoração ao 1º de Maio, onde Lula (PT) esteve presente, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), declarou que "as manifestações falam por si. São manifestações autoritárias, fazem parte de um movimento orquestrado por ele de ataque às entidades democráticas. Ele deve ter sido aconselhado a ficar quieto, porque a tensão está alta, mas as manifestações falam por si".
Em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, na manifestação em que Daniel Silveira esteve presente, havia cartazes e falas anunciando o deputado bolsonarista como "o homem que vai explodir o STF, o homem-bomba" e com os dizeres “Supremo é o povo”.
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No ato, Silveira disse que ficou “muito tempo calado” e que de seu lado não há teoria da conspiração, “é tudo muito real”. Ele também afirmou que "estava muito próximo de acontecer. Se não fosse o presidente Bolsonaro, essa cor amarela e verde não estaria acontecendo, estaria vermelha".
Manifestação da esquerda
No mesmo dia, na manifestação em comemoração ao 1º de Maio, na Praça Charles Miller, em São Paulo, o clima era de oposição ao governo Bolsonaro. Lula fez questão de dizer que ainda não é candidato e que estava ali para discutir os problemas dos trabalhadores brasileiros.
"Vocês sabem que nós não temos muita gente favorável na Justiça, pode ter gente que não goste do que a gente tá falando. Então eu fiquei um pouco atrás porque eu não posso falar de eleição. Estou aqui num ato de Primeiro de Maio para discutir o problema dos trabalhadores e das trabalhadoras brasileiras neste país", afirmou o ex-presidente.
O petista também pediu desculpas por ter dito que "Bolsonaro não gosta de gente, gosta de policial", durante um evento na Brasilândia, em São Paulo, no sábado (30).
"Eu quero aproveitar e pedir desculpas aos policiais deste país porque muitas vezes comete erros, mas muitas vezes salva muita gente do povo trabalhador e nós temos que tratá-los como trabalhador nesse país", disse Lula. "Quando eu estava fazendo um discurso, queria dizer que o Bolsonaro só gosta de milícia, ele não gosta de gente, e falei que ele só gosta de polícia não gosta de gente", justificou.
Edição: Glauco Faria