A chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para as eleições presidenciais de outubro deve ter a articulação mais ampla da história, em comparação às outras cinco vezes em que o ex-presidente disputou as eleições para o Palácio do Planalto. Com o apoio do Solidariedade, confirmado em evento na manhã de terça-feira (3), Lula chegou ao sétimo partido que declara apoio à sua incursão eleitoral.
Até o momento, além de seu próprio partido, Lula já havia recebido o apoio do PCdoB e do PV, que compõem uma federação com o PT, do PSB, partido do ex-governador Geraldo Alckmin, postulante a vice na chapa presidencial, da Rede e do PSOL, siglas que também estão unidas pelos próximos quatro anos por meio de uma federação para disputa eleitoral.
Em 1994, a chapa de Lula para a disputa do Palácio do Planalto também angariou a demonstração de apoio de sete siglas. À época, a Frente Brasil Popular pela Cidadania reuniu PT, PSB, PPS, PV, PCdoB, PCB e PSTU. Apesar do mesmo número de partidos, a articulação construída em 2022 é mais ampla por reunir siglas que não estão à esquerda do espectro político, como o próprio Solidariedade.
Nas candidaturas vitoriosas de 2002 e 2006, Lula também reuniu apoios de partidos de centro-direita e direita. Em 2002, contou com a presença de PL e PMN na articulação. Quatro anos depois, conseguiu incluir o PRB na lista de siglas aliadas. Nas duas ocasiões, contudo, o número de partidos foi menor, em comparação a este ano: cinco em 2002, três em 2006.
Relembre os apoios às chapas de Lula
1989: Frente Brasil Popular (PT, PSB, PCdoB)
1994: Frente Brasil Popular pela Cidadania (PT, PSB, PPS, PV, PCdoB, PCB, PSTU)
1998: União do Povo Muda Brasil (PT, PDT, PSB, PCdoB, PCB)
2002: Lula Presidente (PT, PL, PMN, PCdoB, PCB)
2006: A Força do Povo (PT, PRB, PCdoB)
2022: Vamos Juntos Pelo Brasil (PT, PCdoB, PV, PSB, PSOL, Solidariedade, Rede)
Gleisi quer PSD e MDB
Apesar de ter atingido a marca de sete partidos em torno da pré-candidatura de Lula, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo Paraná, disse que ainda trabalha para aumentar as alianças do partido na chapa presidencial. “Queremos crescer mais”, disse, em entrevista concedida na terça-feira (3) ao Fórum Café.
Segundo Gleisi, conversas com o PSD e o MDB estão avançando, para que “a candidatura Lula represente um movimento da sociedade”. A presidenta do PT afirmou que a situação das duas siglas é analisada pelos petistas.
“No caso do PSD, tudo indica que [Gilberto] Kassab e a direção do partido irão liberar os filiados e, com isso, poderemos dialogar e buscar apoio estado a estado”, afirmou. No caso do MDB, explicou, estão ocorrendo conversas sucessiva para que o grupo que tem o senador Renan Calheiros (MDB-AL) como um dos líderes incorpore-se à campanha de Lula.
Superação de divergências
O tom das declarações de Lula e do presidente do Solidariedade, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, foi de superação das divergências políticas com o objetivo de derrotar Jair Bolsonaro (PL) no pleito de outubro. Paulinho afirmou que a candidatura de Lula “pode ser maior que o Solidariedade, o PT e os partidos, pode ser uma aliança do Brasil”.
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“Nós temos perdido tempo com algumas coisas, uma vaia ali, uma internacional aqui, a reforma trabalhista. Esqueça esse negócio de reforma trabalhista. A gente ganha a eleição e resolve isso em dois meses dentro do Congresso Nacional”, declarou.
Vaias estão superadas
O presidente do Solidariedade havia colocado em dúvida a aproximação depois de ter sido vaiado por militantes do Partido dos Trabalhadores, durante um evento com centrais sindicais. As vaias não foram à toa nem novidade. Durante o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, Paulinho da Força votou a favor da destituição da petista. Na ocasião, sindicalistas também o vaiaram.
Antes mesmo de a aliança ser oficializada nesta segunda-feira, entretanto, Paulinho da Força disse que Lula garantiu ao deputado que não será mais atacado pela militância. O pacto foi reforçado com o evento de hoje, cercado por sindicalistas.
O deputado disse ainda que, ao contrário do que alguns podem pensar, “a eleição não está ganha”. “A direita do mundo se organizou melhor aqui. Nós vamos enfrentar uma guerra da direita do mundo que vai estar aqui jogando contra nós, com fake news de todos os lados”, disse.
Pedido de união
Lula agradeceu a Paulinho da Força pelo apoio e disse que está ciente de que o “jogo é pesado”. O petista aproveitou o momento e pediu a união de forças para “eleger uma maioria de deputados que estão comprometidos com os discursos” da aliança, para que, se eleito, consiga governar e aprovar suas propostas. “Se eu chegar em qualquer lugar, tem que ter uma lista de deputados e senadores nossos. É desse jeito que a gente tem que lutar se quiser mudar esse país. Vocês sabem que o jogo é pesado”, disse o ex-presidente.
Em seguida, Alckmin também agradeceu Paulinho. O pré-candidato à vice-presidência ainda elogiou o presidente do partido ao dizer que Paulinho da Força “sempre lutou pelos trabalhadores, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Conte conosco, Paulinho. Com Lula, com Solidariedade, viva o Brasil”.
Também esteve presente o vice-presidente da Câmara dos Deputados Marcelo Ramos (PSD-AM). “Ainda que eu possa discordar em muitas questões do presidente Lula, o que está em disputa nessa eleição é o direito de continuar discordando. Eu não tenho dúvida do compromisso de Lula com a democracia, que está escrito na sua história de vida. Ele foi preso por um áudio captado e vazado ilegalmente e ainda assim não desacreditou da democracia”, disse Ramos.
Na mesma linha, a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade-PE), que sentou ao lado de Alckmin, disse que Lula “representa um projeto de sociedade em que as eleições são menos desiguais, que o Nordeste não fica se alimentando apenas das migalhas que caem do Sul e do Sudeste. Esse nosso compromisso não é somente dessa eleição em que a democracia está ameaçada. Desde meu primeiro voto eu apoio o presidente Lula”.
Edição: Rebeca Cavalcante